Thursday, July 6, 2017

A NOVA DEMOCRACIA DO BRASIL: A agonia do capitalismo burocrático

A agonia do capitalismo burocrático



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A prevalência quase inalterada do oportunismo e do revisionismo, expressos em linhas direitistas e ilusões reformistas, na direção do Partido Comunista do Brasil — e que foi a principal causa de ter frustradas, até os dias de hoje, todas as oportunidades de realização da revolução democrática no Brasil — condenou nosso país aos grilhões da semicolonialidade e semifeudalidade. A inapetência das classes dominantes locais, deitadas no “berço esplêndido” dessa base anacrônica, usufruindo o gozo da Casa-Grande, serviu para que o imperialismo — capitalismo monopolista, parasitário, em decomposição e agonizante — engendrasse no nosso país de capitalismo tardio, um capitalismo atrasado, de tipo burocrático, como plataforma para a sangria das riquezas da nação e exploração sem limites do povo, enquanto propiciou às classes dominantes locais amealhar rendosas comissões, próprias dos serviçais.
Charge: Vini
Diferente da burguesia ianque e europeia, que com sua revolução varreu a feudalidade para fundar a república democrática e consolidar os Estados Nacionais cercados de proteções estratégicas, as classes dominantes brasileiras, como as equivalentes das demais nações oprimidas, usaram o seu Estado burocrático-latifundiário para subalternamente associarem-se aos monopólios e conglomerados do capital financeiro internacional, mantendo-se a semifeudalidade subjacente, através da evolução de suas formas.
Modernidade de aparência
Como um verdadeiro surto, a industrialização e a urbanização aconteceram no Brasil pela mão do imperialismo, principalmente ianque, com o engendro do capitalismo burocrático, plataforma de sua exploração na busca do lucro máximo, que aqui passou a se desenvolver gerando uma aparência de modernidade. A prevalência e reprodução de uma base semifeudal, entretanto, revelava sua essência de país semifeudal e semicolonial.
À época, analistas de vários graus da Academia teorizavam sobre a coexistência destas duas situações com teses do tipo “dois Brasis”, “Belíndia”(Bélgica e Índia), no entanto, sem ressaltar que a modernidade e a miséria extrema eram os dois aspectos da mesma unidade de contrários. A exploração imperialista apresentava a modernidade como aparência e a miséria como essência, como cantada pelo poeta popular Patativa do Assaré, em sua poesia “Brasil de baixo e Brasil de cima”.
O caminho da subjugação nacional
O imperialismo ianque, entretanto, tinha teses mais bem refinadas, como as “teses cepalinas” oriundas da Cepal, órgão das Nações Unidas, que advogavam a possibilidade do país se desenvolver sob o tacão da exploração imperialista. Verdadeiro canto de sereia, estas teses encantaram os “melhores” economistas e sociólogos da Academia.
A questão central destas teses que pulularam nos anos 50, 60 e 70 do século passado é que todas elas partiam da manutenção do poder nas mãos das mesmas classes dominantes. Sem questionar a aliança da grande burguesia compradora-burocrática com o latifúndio, atados com o imperialismo, elas serviam a sua conservação.
O Partido Comunista dominado por direções oportunistas, numa míope visão sobre a realidade nacional dado ao manejo mecanicista e dogmático do marxismo, propunha como caminho para o desenvolvimento do país colocar-se a reboque da fração burocrática desta grande burguesia, tomando-a equivocadamente por burguesia nacional, quando esta, desde sua origem e tal como os latifundiários, estavam atadas ao imperialismo, principalmente ianque a quem serviam e seguem servindo como lacaios.
A Revolução Democrática
O golpe militar-fascista de 1964, tramado e executado pelos ianques em conluio com a grande burguesia e o latifúndio, animou vários setores da nação como a juventude, os intelectuais honestos e a classe operária a procurar entender as causas desta realidade e a via para alcançar a sua superação.
Dentre as correntes de esquerda que chegaram mais próximo de uma explicação dialética para a existência da velha ordem e o caminho para superá-la, foram as que, afastando-se do revisionismo kruschovista soviético, aproximaram-se do pensamento de Mao Tsetung. O Partido Comunista do Brasil de Pedro Pomar e Grabois, o Partido Comunista do Brasil – Ala Vermelha e o Partido Comunista Revolucionário de Amaro Luiz de Carvalho e Manoel Lisboa e a Ação Popular – Marxista-Leninista.
Enaltecendo a importância do campesinato como principal aliado do proletariado na etapa da Revolução Democrática mediante a estratégia da Guerra Popular Prolongada com o cerco da cidade pelo campo, estas organizações atraíram a especial atenção dos órgãos de repressão do velho Estado e das forças armadas reacionárias pelo seu aniquilamento.
Vale salientar que somente a conjugação de esforços da repressão não seria o suficiente para o aniquilamento destas organizações, não fosse a penetração em seu seio de teses revisionistas e capitulacionistas, para abandonar a linha revolucionária da Guerra Popular Prolongada. Prova cabal de tal desvio ficou demonstrada quando todas estas organizações, ao contrário de aprofundar a assimilação do maoismo, trocaram-no por devaneios revisionistas, uns pelo “frentismo da esquerda” ou “partido tático”, outros pelo legalismo e cretinismo parlamentar etc., pântano no qual os seguidores de Kruschov, do guevarismo-castrismo e do trotskismo já se afundavam.
Os revisionistas e capitulacionistas, ao invés de adotar o sério e correto balanço da experiência da Guerrilha do Araguaia formulado acertadamente por Pedro Pomar — que assume o campesinato como força principal, conforme definido pelo pensamento de Mao Tsetung —, a camarilha de Amazonas serviu-se do revisionismo albanês de Enver Hoxha para liquidar o Partido Comunista, enquanto partido revolucionário e, sob a continuação da sigla PCdoB, deu origem a um novo partido revisionista.
O fracasso destas organizações não pode ser debitado às teses científicas do desenvolvimento do Marxismo, como Marxismo-leninismo-maoismo, mas sim ao predomínio nas mesmas de uma linha errada na análise da realidade do país, em olvidar as características do partido de novo tipo e a necessidade da Aliança Operário-camponesa na formação da Frente Única. O surgimento da Guerra Popular em países como Peru e Índia é a comprovação da validade do caminho da Revolução Democrática como revolução de Nova Democracia.
O prenúncio da morte
A profunda crise em que se afunda o imperialismo em seu irreversível processo de apodrecimento é facilmente visualizada pelas altercações interimperialistas. Veja-se, por exemplo, as relações entre USA e Rússia, USA e Europa, Reino Unido e Alemanha para constatar a profundidade da crise e o quanto ela se distancia de sua superação. Esta crise açula ainda mais a luta de classes nos próprios territórios imperialistas, enquanto a questão dos imigrantes agravou-se a tal ponto que não encontra solução mínima nos marcos do imperialismo.
Querer passar a ideia de que o Brasil — na qualidade de semicolônia, cujo Estado burguês-latifundiário, serviçal do imperialismo, sob um regime de capitalismo burocrático — desenvolve-se na contramão da crise imperialista, ademais de defesa da velha ordem, além de sabugisse, é, francamente, estupidez e pura desonestidade de economistas de aluguel da marca de Henrique Meirelles e sua corja de apaniguados.
O aumento do grau de exploração dos trabalhadores, o aniquilamento dos povos indígenas, o assassinato em massa de camponeses,  a matança nas favelas, tudo como continuado genocídio dos pobres, somado  ao avanço sobre as reservas minerais e vegetais do país e o direcionamento de toda a economia baseando-se, cada vez mais, na produção primária para exportação —  tudo isso voltado a satisfazer a insaciável voracidade do sistema financeiro — é a inevitável decorrência que a decomposição imperialista já atingiu mundialmente.
Ademais dos grupos de poder e seus representantes nas podres instituições do velho Estado, lacaios como Temer e a quadrilha que assaltou o gerenciamento do velho Estado criam uma frente de luta a mais contra o povo e a Nação.
Nada poderá salvá-los da ruína, pois que toda sua descarada obstinação não é nada mais do que apenas um dos capítulos da luta de classes em nossa sociedade, luta de classes que entrou na sua etapa mais alta, a da luta violenta e prolongada que o proletariado e as massas populares de nosso país estão se acercando, clamando por uma direção, um programa e uma estratégia que possa liquidar toda esta velha ordem e a construção de uma ordem nova.
A crise geral de decomposição do capitalismo burocrático no Brasil, em meio dessa profunda e aguda crise imperialista mundial, lançou à superfície uma crise política sem precedentes na qual as diferentes frações das classes dominantes se enfrentam numa espiral de violência, no qual cada uma se serve dos aparatos que controla na máquina do velho Estado para aplastar seu contendente. Daí a feroz e interminável luta entre estruturas dos chamados “três poderes”, e a divisão crescente nos partidos de seu apodrecido sistema político, nos monopólios da imprensa — por exemplo, Rede Globo joga para derrubar Temer e O Estado de São Paulo se bate por sustentá-lo —  impactando a opinião pública.
A crise seguirá se aprofundando e a situação de hoje poderá parecer calmaria frente ao seu agravamento. Todas as forças políticas, da direita, do centro e da esquerda estão interpretando e organizando sua intervenção política e muita água ainda passará por baixo da ponte até um desfecho mais definitivo desta crise.
Todavia, apesar de moribundo, o capitalismo burocrático e seus regimes políticos corruptos permanecerão insepultos arrastando o país e o povo para calamidades terríveis. Só a Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista poderá arrasar com eles e estabelecer uma nova ordem, Nova Democracia e o Brasil Novo. E esta custará uma luta prolongada e cruenta.