Monday, November 26, 2018

Lenin sobre o problema agrário dentro da Revolução de Nova Democracia (Revista O Maoista, nº 2)


Nota do blog: Publicamos a seguir trecho da Revista O Maoista nº 2 publicado como parte da contribuição do Movimento Popular Peru (Comitê de Reorganização) – organismo gerado do PCP para o trabalho internacional – tratando sobre a questão agrária nos países dominados, seu processo de evolução da semifeulidade com a penetração do capitalismo burocrático no agro. Muito importante para estudo, sobretudo das novas gerações, para a compreensão da questão-chave da revolução democrática.

Lenin sobre o problema agrário dentro da Revolução de Nova Democracia

(Um extrato do artigo sobre a situação internacional, notas sobre o processo do capitalismo burocrático nos países de terceiro mundo, aparecido no Nº1 de nossa revista)
Movimento Popular Peru (Comitê de Reorganização)

O Presidente Gonzalo nos recorda que correspondeu ao Lenin aplicar o marxismo no estudo do desenvolvimento do capitalismo na agricultura e que o caminho camponês foi extraordinariamente desenvolvido e estudado pelo Presidente Mao. E nos disse: “Socorremo-nos a ele para encontrar uma sólida base, partindo da concepção da classe operária, para entender tão substantivo problema”. Em O programa agrário da socialdemocracia na Revolução Russa – Resumo, no Tomo XV de suas obras completas, Lenin nos ensina:


“…o desenvolvimento de um país capitalista PODE assumir duas formas. Primeira: os latifúndios subsistem e se convertem paulatinamente na base da exploração capitalista da terra. É o tipo prussiano de capitalismo agrário, no qual o Junker é o dono da situação. Se mantêm durante decênios seu predomínio político e a opressão, a humilhação, a miséria e a ignorância do campesinato. O desenvolvimento das forças produtivas avança com grande lentidão […] Segunda forma: a revolução varre a propriedade agrária latifundiária. O agricultor livre na terra livre, isto é, limpa de todos os rastros medievais, se converte na base da agricultura capitalista. O tipo NORTE-AMERICANO de capitalismo agrário. O MAIS RÁPIDO DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS nas condições mais favoráveis para a massa do povo dentro dos marcos do capitalismo – “Em REALIDADE, na revolução russa não se luta pela ‘socialização’ e outras estupidezes dos populistas – isso não é mais que a ideologia pequeno-burguesa, frase pequeno-burguesas. Mas, pelo contrário, LUTA-SE por determinar que caminho seguirá o desenvolvimento capitalista da Rússia: o ‘prussiano’ ou o ‘norte-americano’. Sem compreender esta base ECONÔMICA da revolução, é impossível compreender absolutamente NADA a respeito do programa agrário”.

“…todos os cadetes – partidos da grande burguesia – fazem esforços sobre-humanos para esconder a essência da revolução agrário…Os cadetes confundem (conciliam) as duas LINHAS fundamentais dos programas agrários na revolução: a latifundiária e a camponesa. Depois, também em duas palavras no período de 1861 a 1905 se manifestaram já na Rússia os dois tipos de evolução agrária capitalista – o prussiano (desenvolvimento GRADUAL da fazenda latifundiária, em direção ao capitalismo) e o norte-americano (diferenciação do campesinato e rápido desenvolvimento das forças produtivas…” (As palavras em maiúscula estão em cursiva no original. Os sublinhados são nossos. O mesmo vale às citas posteriores. Isto é, no original de “Voz Popular”).

Eis aqui magistralmente os dois caminhos no campo, “base econômica da revolução” da qual tem que partir e cujo isolamento é absolutamente inaceitável. Mas, isto não é tudo. Lenin estabelece uma relação entre estes dois caminhos econômicos e dois caminhos políticos. No mesmo trabalho disse:

“O verdadeiro problema histórico planteado pelo desenvolvimento social objetivo histórico é este: evolução agrária de tipo prussiano ou de tipo norte-americano? Monarquia latifundiária encoberta com a máscara de pseudo-constitucionalismo ou República camponesa (de agricultores)? Fechar os olhos ante SEMELHANTE planteamento objetivo do problema pela história significa enganar-se a si mesmo e enganar aos demais, eludir, à maneira pequeno-burguesa, a aguda luta de classes, e o planteamento incisivo, simples e decidido do problema da revolução democrática”
Não podemos desembaraçarmos do Estado burguês. Só os pequeno-burgueses podem sonhar semelhante coisa. Nossa revolução é burguesa precisamente poeque nela se trava a luta não entre o socialismo e o capitalismo, MAS ENTRE DUAS FORMAS DE CAPITALISMO, entre dois caminhos de desenvolvimento, entre duas formas das instituições democrático-burguesas… Em nossa revolução não poderemos dar – não temos dado – um só passo sem apoiar, de um ou outro modo, a uns ou outros setores da burguesia contra o velho regime”.

Esta grande tese de Lenin é básica para compreender o problema agrário dentro da revolução democrático-nacional; no entanto, no país, há quem considera que estes dois caminhos já não são válidos na atualidade, este é um grande erro que só serve a obscurecer a questão e a encobrir apoio às medidas agrárias de tipo latifundiárias. O que se poderia plantear-se é que tal caminho se desenvolve hoje sob novas condições: o desenvolvimento do capitalismo burocrático e o uso de formas cooperativas e associativas em geral. O caminho camponês tem sido extraordinariamente desenvolvido e estudado pelo Mao Tsetung como pode-se ver no Tomo III de sua obra, 6. O problema agrário, Pág. 254.

Nós queremos pontuar, de todas estas magistrais citações e comentários do Presidente Gonzalo, que as três montanhas que nos oprimem (o imperialismo, o capitalismo burocrático e a semifeudalidade) estão inseparavelmente unidas, por isso constituem os alvos da revolução democrática contra as quais lutamos inseparavelmente. O que se trata de liquidar com a revolução democrática não é o capitalismo em geral, mas sim o capitalismo burocrático; esta revolução não está dirigida contra a burguesia em geral, mas contra a grande burguesia, ambas frações, a compradora e a burocrática. É como se tem dito muitas vezes: trata-se da revolução burguesa de novo tipo, isto é, dirigida pelo proletariado, porque a burguesia tornou-se classe caduca e em nossos países não tem sabido, e não poderá já constituir-se uma burguesia média ou nacional suficientemente forte e madura que possa encabeçá-la. Por isso, como nos mostra o desenvolvimento dos países oprimidos durante todas estas décadas, sua “modernização” etc. segue o caminho latifundiário ou prussiano de evolução lenta ao capitalismo (semifeudalidade), baseado no latifúndio e em novas formas de servidão, como consequência de que se desenvolve um capitalismo burocrático totalmente dependente das necessidades do imperialismo, que deforma o desenvolvimento econômico destes países e impede o desenvolvimento de uma economia nacional ao serviço das classes que conformam o povo nestes países. Enquanto não culminarmos a revolução democrática mediante a guerra popular com a tomada do Poder em todo o país, esse caminho de evolução lenta se manterá indefinidamente, não culminará como na Alemanha, porque nos encontramos na época do imperialismo. Essa base econômica de nossos países determina a superestrutura das sociedades, principalmente o tipo de Estado destes países, como Estado latifundiário-burocrático a serviço do imperialismo – em nossos caso – principalmente do imperialismo ianque e em outros, segundo corresponda ao imperialismo principal que os oprime. Mas, o principal para nós é que o capitalismo burocrático amadurece as condições para a revolução e, o que se necessita é Partido Comunista marxista-leninista-maoista para iniciar e desenvolver a guerra popular para desenvolver e culminar a revolução democrática.