Monday, December 5, 2022

A NOVA DEMOCRACIA BRASIL: NÚCLEO DE ESTUDOS DO MARXISMO-LENINISMO-MAOISMO: 88 anos do Presidente Gonzalo: O Presidente Gonzalo é imortal porque imortal é seu pensamento

 

 

 

88 anos do Presidente Gonzalo: O Presidente Gonzalo é imortal porque imortal é seu pensamento

Nota da redação: No dia 3 de dezembro de 1934, há exatos 88 anos, nascia Manuel Ruben Abimael Guzmán Reynoso, o Presidente Gonzalo, Chefatura do Partido Comunista do Peru (PCP) e da Revolução Peruana. Em sua homenagem, republicamos rico documento escrito pelo Núcleo de Estudos do Marxismo-leninismo-maoismo (NEMLM), publicado originalmente na Edição Especial nº 244.


O Presidente Gonzalo é imortal porque imortal é seu pensamento

Filho de Abimael Guzmán Silva e Berenice Reynoso, Manuel Ruben Abimael Guzmán Reynoso nasceu no dia 3 de dezembro de 1934 em Mollendo, capital da Província de Islay, pertencente à região de Arequipa, no Peru, mesma região onde nasceu José Carlos Mariátegui, fundador do Partido Comunista do Peru (PCP). Abimael Guzmán perdeu sua mãe aos 5 anos de idade.

Desde muito jovem, mais especificamente ao findar de seus estudos secundaristas, Abimael interessava-se pela política. A luta das massas populares, em especial o levantamento de 1948 em Callao, seria fundamental para o despertar de sua consciência política.

Aos 19 anos de idade, Abimael inicia os seus estudos superiores na Universidade Nacional de San Agustín (Arequipa), onde cursou Direito e Filosofia. Era então, 1953, o ano da morte de Stalin. Abimael Guzman seguirá estudando arduamente, com reconhecido esforço e disciplina de seus semelhantes. As suas teses de pós-graduação (Sobre o Estado Democrático Burguês e Sobre a Teoria Kantiana do Espaço) refletem o crescente interesse de Abimael pelo marxismo, muito por influência das lutas estudantis.

A IDA A AYACUCHO: NASCE O CAMARADA GONZALO

Em 1958 ingressa no PCP. A princípio, entrou para o Comitê Regional de Arequipa como militante. Ávido leitor dos clássicos marxistas-leninistas que circulavam no Peru na época, em 1962, a convite de Efrain Morote da Universidade Nacional de San Cristóbal de Huamanga (Ayacucho), começa a trabalhar como professor, lecionando uma disciplina no curso de Ciências Sociais. Abimael pensou que esta viagem de ensino seria por um curto período de tempo, mas, por casualidade histórica, esta tinha-lhe reservado outras responsabilidades. “Ayacucho me serviu para descobrir o campesinato”, reconheceria anos mais tarde.

Em sua visita ao departamento rural de Ayacucho, Abimael compreendeu mais profundamente a tese de Mariátegui que afirmava que “o progresso do Peru será fictício, ou pelo menos não será peruano, enquanto não for obra e não signifique o bem-estar da massa peruana, que na sua maioria é indígena e camponesa”. Neste mesmo período Abimael estuda incansavelmente as obras do Presidente Mao Tsetung e sua luta antirrevisionista. Nasce aí o Camarada Gonzalo, que mais tarde viria a converter-se na Chefatura inconteste, o Presidente Gonzalo. 

Sobre esses anos em Ayacucho, que antecederam o Início da Luta Armada (ILA-80), o Presidente Gonzalo recordou: “Alguém teve a má sorte de emprestar-me a famosa Carta Chinesa, a Proposição acerca da linha geral do Movimento Comunista Internacional; me emprestou com a obrigação de devolvê-la. Obviamente, o furto era compreensível. A Carta me levou a adentrar-me na grande luta entre marxismo e revisionismo”.

LUTA CONTRA O REVISIONISMO NO PCP

O Comitê Regional de Ayacucho terá a direção do Camarada Gonzalo desde o início dos anos 60, antes do rompimento orgânico com o revisionismo contemporâneo de Del Prado. Nessas décadas (1960 e 70)  desenvolverá a Fração Vermelha no interior do PCP. Outras frações vão surgir e, no desenvolver do processo da luta interna, a Fração Vermelha colocará a tarefa de Reconstituir o Partido. Durante toda esta luta, a Fração Vermelha levantou a palavra de ordem: Retomar Mariátegui e desenvolvê-lo. 

Em todo esse processo, o Presidente Gonzalo atuará como grande dirigente marxista-leninista pensamento mao tsetung, promovendo a luta de duas linhas entre marxismo e revisionismo e contra as outras frações revisionistas de diferentes tipos; ele desenvolve, desde então, organizações do Partido entre as massas camponesas e iniciará a forja do contingente que inicia a Guerra Popular no ILA-80. 

DEL PRADO

O surgimento do revisionismo moderno de Kruschov após o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) nos fins dos anos 1950 e suas consequências no início dos anos 1960 abalou profundamente o PCP. No Peru, o ano de 1964 é marcado pela expulsão de Del Prado e seus sequazes, representantes no Peru do revisionismo moderno kruschovista. A luta contra o revisionismo de Del Prado foi levada a cabo por todo o Partido. A maioria dos Comitês do PCP se une em torno da posição anti-revisionista, toma parte pelo marxismo-leninismo e logra aplastar as posições kruschovistas de Del Prado da direção do Partido.

Nos anos 80, o Presidente Gonzalo, já em meio à direção da Guerra Popular, fala desta luta contra a direção oportunista e revisionista, apontando que no processo de unificação dos Comitês partidários que lograram a expulsão do revisionismo de Del Prado na IV Conferência Nacional (1964), a Fração Vermelha era copartícipe dessa luta desde o início. Luta que se desenvolveria ainda mais nos anos seguintes.

O ano 1964 é também o ano em que Abimael Guzman casa-se com Augusta La Torre Carrasco, a Camarada Norah, que também conformava a Fração Vermelha. A Camarada Norah tornar-se-á membro do Comitê Central (CC) que dirigiria a Guerra Popular, convertendo-se em heroína do PCP e da Guerra Popular. 

VIAGEM À CHINA E A ESCOLA POLÍTICO-MILITAR DE SHANGHAI

Em 1965, o Presidente Gonzalo e outros destacados comunistas do Peru viajam à República Popular da China e participam das atividades da Escola Político-Militar de Shanghai, organizada para a formação de comunistas da América Latina e dirigida pelo Presidente Mao Tsetung. No mesmo ano, o PCP realiza sua V Conferência. Se define uma linha política geral de acordo com os princípios revolucionários a partir da adoção do marxismo-leninismo pensamento mao tsetung.

O Comitê Regional do PCP em Ayacucho se debruça sobre a questão da construção dos três instrumentos da revolução (Partido, Exército e Frente Única). A Fração Vermelha se unificou em torno dessa questão para desenvolver a tese para a Reconstituição do Partido que seria aprovada na VI Conferência Nacional, junto com a Base de Unidade Partidária. 

As frações Patria Roja, a fração de Saturnino Paredes e a autodenominada fração “bolchevique” vão buscar, nos próximos períodos, cada uma à sua maneira, renegar a linha do PCP. Com isso, se desenvolverão três lutas de duas linhas durante a Reconstituição do PCP.

LUTA CONTRA PATRIA ROJA

A fração Patria Roja se nega a assumir a ideologia do marxismo-leninismo pensamento mao tsetung, adotada pelo PCP desde 1965 (V Conferência), e, por consequência, não reconhece a existência de uma situação revolucionária no Peru. É expulsa por ter violado os acordos e princípios adotados pelo PCP.

Já expulsa do PCP, Patria Roja vai fundar uma organização própria, e, durante os anos 80, se transformará em uma “agência do revisionismo chinês com seus caudilhos adoradores de Teng”, segundo aponta o Presidente Gonzalo ao El Diário na Entrevista do Século.

FASCISMO OU BURGUESIA NACIONAL: A CARACTERIZAÇÃO DO GOVERNO VELASQUES

Em 1968 inicia-se o governo do general Juan Velasques no Peru, que contará com o apoio do partido fascista Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra). Será Velasques quem dará o golpe em 1975. Desde o início, seu governo apontou para a corporativização fascista da sociedade peruana, tendo como principal alvo as massas camponesas através da política de “reforma agrária”. Em torno da caracterização de seu governo e das consequentes táticas a serem adotadas pelo Partido neste novo momento da luta de classes, novas lutas surgirão no interior do PCP.

O Presidente Gonzalo, enfrentando a linha liquidacionista de direita de Paredes, derrotou a tentativa de golpe no interior do Partido. Essa posição revisionista buscava desmantelar o Partido revolucionário de vanguarda do proletariado. Para tanto, argumentava que o governo de Velasques era um governo nacionalista e que correspondia ao Partido compor o governo. A Fração Vermelha vai travar dura luta contra esta posição revisionista, tendo como centro a correta caracterização do governo de Velasques como um governo da fração burocrática da grande burguesia e do latifundiário, e que suas políticas apontavam para a corporativização da sociedade, com retórica patrioteira, como medida contrarrevolucionária e em benefício da exploração imperialista.

A VITÓRIA DA FRAÇÃO VERMELHA SOBRE O LIQUIDACIONISMO DE DIREITA

Em 1967 estava em curso a luta contra a linha liquidacionista de direita encabeçada por Saturnino Paredes, também derrotada atraves de árduo, intenso e prolongado combate da Fração Vermelha do PCP. Paredes buscava impor ao Partido a velha tática oportunista de dissolver o PCP na legalidade (posição que já havia surgido, e foi derrotada, por ocasião do revisionismo contemporâneo representado por Del Prado). O Presidente Gonzalo aponta que tratava-se de uma linha liquidacionista de direita que aponta contra o marxismo, contra o Partido e contra a construção do Partido em meio às massas.

Nestas lutas internas, o Presidente Gonzalo insurge como grande dirigente na defesa do marxismo-leninismo pensamento mao tsetung. Na VI Conferência (1969), o PCP aprova a Base de Unidade Partidária e o Plano para a Reconstituição, estabelecendo também o esquema básico para a Guerra Popular em torno da consigna “campo principal, cidade complemento”. A VI Conferência do PCP representa a maior expressão da Fração Vermelha e do Presidente Gonzalo na luta contra o revisionismo.

A questão se resolverá em definitivo, porém, em 1970, quando ocorre o II Pleno daquele CC do PCP. Ali, os comunistas classificam o governo de Velasques como “fascista e corporativo, que tem como função aprofundar o capitalismo burocrático e reorganizar toda sociedade peruana para corporativizá-la”. As famosas “três leis fundamentais de Velasques” (a lei agrária, a lei geral das indústrias e a lei da educação) foram analisadas pelo Presidente Gonzalo, em particular em uma intervenção sua intitulada A problemática nacional, que dá ossatura para o conceito maoista de capitalismo burocrático, e que chegará a mais alta compreensão pelo Presidente Gonzalo no decorrer do processo de Guerra Popular.

A LUTA CONTRA O LIQUIDACIONISMO DE ESQUERDA

Ao derrotar a linha direitista de Paredes, o Presidente Gonzalo e a Fração Vermelha por ele encabeçada irão enfrentar uma nova linha revisionista. Surgida no contexto do golpe militar de Velasques (desatado em 1975 e gestado desde o início do governo do general, sete anos antes), surgirá a autodenominada “fração bolchevique”, que será encabeçada por Sérgio.

Essa fração revisionista, quando enfrentada pela Fração Vermelha, vai assumir posições revisionistas em torno de uma série de questões, como a caracterização errônea de burguesia nacional que incorpora uma ala da grande burguesia peruana. Essa concepção vai moldar a posição revisionista que aponta que, sob regime fascista, não há como o Partido Comunista desenvolver o trabalho entre as massas de construção dos instrumentos da revolução. A fração liquidacionista de “esquerda” também vai manejar de maneira errada o que é o fascismo; apontado, por eles, como um regime de violência máxima, o revisionismo vai ignorar a corporativização de massas como um elemento do fascismo. Em consequência, essa fração vai apontar contra o trabalho entre os camponeses (que se desenvolvia em Ayacucho), sustentando que “o fascismo tudo destrói”.

Contra tais deturpações do marxismo, a Fração Vermelha vai derrotar ponto a ponto os sinistros planos liquidacionistas de Sérgio. Afirmando-se na posição marxista-leninista da III Internacional (Internacional Comunista ou Comintern), o Presidente Gonzalo vai apontar para a necessidade de construir aparatos superiores aos do regime fascista, tomando das teses do VII Congresso da Internacional Comunista que aponta que “é possível desenvolver o trabalho revolucionário entre as massas sob o fascismo e que inclusive é possível usar da legalidade e da semilegalidade e de todo resquício de lei” nesse objetivo, bem como da experiência do Partido Comunista da China e de Mao Tsetung durante a invasão japonesa.

Desde 1977 estava definido que o PCP deveria se desenvolver em função da luta armada revolucionária. O IX Pleno daquele CC, ocorrido em 1979, se dedica a ultimar os preparativos finais para o início da Guerra Popular (ou ILA-80). No processo da luta de duas linhas, o Presidente Gonzalo propõe marcar o dia para o ILA-80, e acaba derrotado; e manejando magistralmente a luta de duas linhas em torno de outras questões, no prosseguimento do Pleno, desmascara o fundo capitulador da posição contrária à sua e consegue a maioria, marcando o ILA-80 para 17 de maio de 1980, chegando a expulsar dois membros do CC que manifestaram insubordinação. Sai vitoriosa a posição definida pelo Presidente Gonzalo de que era necessário fixar e resolver as questões práticas para o início da Revolução.

O PCP E O PRESIDENTE GONZALO OUSAM CRUZAR O RUBICÃO!

Em 1980 o PCP inicia a luta armada, o ILA-80. Evento de transcendência histórica para comunistas em todo o mundo, terá uma importância singular para o Peru. O Presidente Gonzalo afirma na Entrevista do Século que “com o início da guerra popular, no ano 1980, entramos no terceiro momento de crise geral do capitalismo burocrático; começou a destruição da sociedade peruana contemporânea porque caducou historicamente, em consequência, o que vemos é seu final e o que cabe é brigar, combater, lutar para enterrá-la”. 

Inicialmente com um destacamento relativamente pequeno e inexperiente, formado principalmente por membros do Partido, os anos seguintes ao ILA-80 serão de grande e potente desenvolvimento desta luta para enterrar o velho Estado peruano pelas massas populares.

As primeiras ações do PCP nestes anos foram definidas na primeira campanha militar da Guerra Popular, que denominou-se Iniciar a Luta Armada. As ações foram centradas no campo: ataques a plantações dos latifundiários, tomadas de terra, sabotagens de infraestruturas de latifundiários, boicote eleitoral e propaganda armada. Eram também organizados confiscos de mercadorias estocadas pelo latifúndio e distribuição às massas, junto com a punição de funcionários de latifundiários (pistoleiros e paramilitares) que aterrorizavam a massa de camponeses. Era comum ver nos anos desse plano enormes e flamejantes foices e martelos nos picos das montanhas que rodeavam cidades.

Nas cidades, o PCP fixou como parte do primeiro plano militar a tarefa de desenvolver trabalhos nas favelas, ademais de formar destacamentos armados para dirigir as mobilizações de massas. No período que abarcou este plano, em Lima realizou-se uma série de manifestações de massas, apagões e ataques a alvos reacionários.

Em 1981 o CC define que a ideologia que guia o PCP é o marxismo-leninismo-maoismo. Em fins deste ano, as forças guerrilheiras se deslocavam livremente em uma série de zonas. O PCP lança a sua segunda campanha militar Sacudir o campo e a cidade com luta armada. Ela consistiu em ataques a tropas e postos policiais, confiscar suas armas, construir grandes unidades armadas e construir bases de apoio. Com sua aplicação, destruiu-se o velho Poder político em cinco províncias de Ayacucho e a criação das primeiras bases de apoio (Novo Poder).

Na prisão de Ayacucho, no mês de março do ano de 1982, ocorreu uma grande ação guerrilheira que logra libertar mais de 300 presos políticos e prisioneiros de guerra. As centenas de pessoas, entre militantes do PCP, guerrilheiros do Exército Guerrilheiro Popular (EGP) e massas, saíram do pátio da prisão agitando bandeiras vermelhas e cantando A Internacional

Entre esses lutadores postos em liberdade pela ação do EGP estava Edith Lagos, militante histórica do PCP. Edith seria assassinada em um enfrentamento com as tropas policiais seis meses após, em setembro. Seu funeral foi uma impressionante demonstração do fervor revolucionário das massas. Carregando faixas e cartazes do PCP, tomaram as ruas de Ayacucho mais de 30 mil pessoas em uma cidade de 80 mil habitantes. A manifestação repercutiu por todo o Peru.

No final deste mesmo ano, apreensivo pelo crescimento da guerrilha, o presidente reacionário Belaúnde determina que as Forças Armadas intervenham diretamente na repressão à Guerra Popular em todo o país, mas especialmente na região de Ayacucho.

SURGE O NOVO PODER!

Uma sessão ampliada do CC estabelece o novo plano de Conquistar Bases, além de determinar a criação do EGP. Outro tema de debate desta reunião foi o Novo Poder.

O primeiro Comitê Popular surge no final de 1982, após os latifundiários e autoridades reacionárias fugirem e os camponeses se organizarem para cortar a terra. O Presidente Gonzalo defende que para existir e se desenvolver o Novo Poder, a Guerra Popular deveria abolir os resquícios semifeudais. Na Entrevista, ele afirmará que “somente desenvolvemos o Novo Poder no campo, nas cidades se dará na parte final da revolução”.

A construção do EGP marca um maior nível de organização das forças armadas revolucionárias com muitas centenas de homens e mulheres militarmente organizados. Essa incorporação maior de massas pelos comunistas e pelos combatentes da Guerra Popular vai condicionar o surgimento do Novo Poder.

Na segunda metade de 1983 e os primeiros meses de 1984, o PCP define que o inimigo estava batendo em retirada na primeira zona emergencial (que compreendia a região de Ayacucho, Huancavelica e Apurimac). É lançada então a campanha Defender, desenvolver e construir os Comitês Populares. Após a aplicação desta campanha, foi executada a ofensiva Iniciar o Grande Salto. Planos e campanhas que antecederam o surgimento dos comitês populares, inicialmente “fechados” (isto é, cujos membros eram clandestinos e desconhecidos para o público).

A REPÚBLICA POPULAR DE NOVA DEMOCRACIA

As Forças Armadas reacionárias entram para combater a Guerra Popular e o EGP no ano de 83. Usaram do plano de jogar “massas contra massas”. Primeiro utilizaram de contingentes escolhidos entre camponeses ligados a latifundiários, buscando criar a versão de que se tratava de uma reação popular. Infiltrou seus agentes entre os camponeses e valeram-se de uma rede de espionagem montada desde os anos 1970. Montaram, enfim, uma grande tropa mercenária para atuar com as Forças Armadas e policiais. Ficaram conhecidas como mesnadasrondas e “comitês de defesa”. Através desses aparatos contrarrevolucionários, promoveram roubos, violações de direitos, torturas, saques, incêndios e matanças, muitas vezes, inclusive, dizendo-se membros do EGP para desmoralizar a Revolução e os maoistas.

Todo o desenvolvimento da atuação do EGP nos primeiros anos de Guerra Popular tornou possível proteger, desenvolver e expandir as áreas do Novo Poder. São nessas áreas revolucionárias que as massas criam e desenvolvem os Comitês Populares, Bases de Apoio que conformam a República Popular de Nova Democracia, embrião da República Popular do Peru. Nos primeiros cinco anos, brotaram novas relações sociais que prepararam condições para a revolução conquistar o Poder em todo o Peru.

Inicialmente, os Comitês Populares se organizavam de forma a abarcar cinco membros por Comitê, que eram eleitos pelos representantes das massas de uma localidade. Após muitos dos representantes das massas serem assassinados pela reação, por uma questão de segurança, os eleitos passaram a ter suas identidades mantidas em segredo, porém atuavam através das reuniões dos Comitês. Esses comissários do povo eleitos dividiam-se entre os cargos de comissário político (que, representando o Partido, centralizava o governo local), comissário de segurança (representante do Exército), comissário de produção, comissário de organizações populares e comissário de assuntos da comunidade (como registros de nascimentos, casamentos, educação e cultura).

Os Comitês Populares eram a base da República Popular de Nova Democracia, juntamente com o desenvolvimento da Frente Revolucionária de Defesa do Povo, no campo, e do Movimento Revolucionário de Defesa do Povo, nas cidades. Em junho de 1984, o número de pessoas que viviam sob o Novo Poder, e dele participavam, era de aproximadamente 100 mil.

RESTABELECIMENTO E CONTRARRESTABELECIMENTO

O desenvolvimento das Bases de Apoio, guiados pelo plano Conquistar Bases, foi alcançado ao custo de uma dura luta contra o genocídio perpetrado pelo governo aprista de Alan García Pérez (1985-1990) e pelas Forças Armadas reacionárias. Cresciam nas prisões as reivindicações das centenas de prisioneiros de guerra por melhores condições. Enfrentando expedições militares, a organização dos militantes do PCP se desenvolve nas prisões e o CC lança diretiva apontando para “converter as masmorras da reação em Luminosas Trincheiras de Combate”. 

Nas Bases de Apoio, cresceram as expedições reacionárias. Helicópteros eram usados para lançar granadas nas áreas controladas pela guerrilha, corpos mutilados e torturados apareciam em regiões com cada vez mais frequência. O documento do PCP Desenvolver a Guerra Popular servindo à Revolução Mundial, 1986, define que os anos de 83 e 84 “são anos de luta em torno do restabelecimento e contrarrestabelecimento, isto é, da guerra contrarrevolucionária por aplastar o Novo Poder e restabelecer o velho, e da Guerra Popular por defender, desenvolver e construir o Poder Popular recém surgido, dura contenda travada entre as Forças Armadas reacionárias e o EGP”. Ao fim dessas lutas, a Guerra Popular vai lograr manter as Bases de Apoio conquistadas e expandi-las; nos anos seguintes, a Guerra Popular alastra por toda a serrania, de Norte a Sul.

Por serem o centro da Revolução Peruana, essas áreas foram alvos das piores ações da repressão contrarrevolucionária do velho Estado, entre incursões repressivas, ocupações das Forças Armadas reacionárias desde o fim de 1982 e bombardeios aéreos. Na ofensiva de junho de 1984, as unidades guerrilheiras atacaram postos da polícia rural e patrulhas das Forças Armadas em torno de 12 pequenas cidades de Ayacucho.

O PLANO DE GRANDE SALTO

O período de 1985 até 1986 é definido, pelo mesmo documento partidário, como de desenvolvimento da luta pelas Bases de Apoio. Período em que a Guerra Popular vai se expandir largamente. Sob o plano fundamental de Conquistar Bases!, se desenvolve o Plano de Grande Salto, que especificou-se em torno da estratégia política de “que duas repúblicas se expressem, dois caminhos, dois eixos”¹.

Em 1985, o PCP gerou as condições para manter as bases na região centro-sul dos Andes, em especial o norte do departamento de Ayacucho e as províncias adjuntas de Huancavelica e de Apurimac. Nessas regiões, localizadas a mais de 3 mil metros acima do nível do mar, as bandeiras vermelhas do PCP tremulavam.

No mesmo período em que bombardeios ocorriam por toda a extensão das Bases de Apoio, ocorriam greves, ataques contra postos militares e policiais que chegavam bem próximo da capital, Lima. Outros enfrentamentos nas selvas andinas ocorreram em regiões historicamente dominadas por traficantes de cocaína. Nas regiões em que os habitantes falavam o “quéchua”, monumentos construídos pelos imperialistas ianques e britânicos foram explodidos. De uma ponta a outra do país as ações armadas do EGP obrigavam a mobilização das forças de todo o país.

Esses acontecimentos formaram parte da defensiva estratégica da revolução peruana, etapa em que o PCP ainda fixava que estava longe de concluir o objetivo de “cercar as cidades pelo campo”. Contudo, a concepção da Guerra Popular do PCP partia da luta armada unitária com o campo sendo o principal, mas também contando com ações nos centros urbanos. Essa definição partia do fato de que o incremento da pobreza e miséria urbanas, que gerava uma enorme massa de desempregados ou subempregados concentrados nas favelas e subúrbios, era um reflexo da situação do campo, em que muitas pessoas migravam fugindo da fome e, mais adiante, da própria repressão do velho Estado. Razão por que se necessitava organizá-las, partindo da luta reivindicativa e econômica, apontando à forma militar para a luta pelo Poder, a Guerra Popular.

O I CONGRESSO DO PCP

O ano de 1988 ficou marcado para o proletariado internacional como o ano em que o PCP realizou o seu histórico I Congresso. Ocorreu ao longo de várias Sessões que se realizaram ao longo do segundo semestre de 1988 e o primeiro semestre de 1989.

O I Congresso ocorre após oito anos de pujante Guerra Popular dirigida pelo PCP. Nele, os comunistas peruanos definiram a Base de Unidade Partidária com seus três elementos: a ideologia, que definiu-se o marxismo-leninismo-maoismo, pensamento gonzalo; o Programa e a sua Linha Política Geral (LPG). Em perspectiva, o Congresso também estabeleceu sólidas bases para “marchar para a conquista do Poder”.

O Presidente Gonzalo definiu que “o Congresso é marxista-leninista-maoista, porque o maoismo é a terceira, nova e superior etapa, e é, ao fim e ao cabo, a principal das três. Porém também é pensamento gonzalo porque o Congresso sustenta-se nesse pensamento que foi gerado no processo de aplicação da verdade universal, do marxismo-leninismo-maoismo, à situação concreta de nossa realidade”. Este evento partidário gerou o conjunto de Documentos Fundamentais: Linha da Revolução Democrática, Linha Militar, Linha de Construção, Linha de Massas e Linha Internacional. Juntas, elas formam a LPG. Será com esse grande impulso que os próximos anos marcarão a entrada da Guerra Popular na etapa de equilíbrio estratégico, a partir do ano de 1990.

CAMARADA NORAH, GRANDE COMUNISTA

Augusta La Torre falece em 14 de novembro de 1988. Morria a grande dirigente do PCP, integrante do Comitê Permanente do Birô Político do CC, após 26 anos de intensa e frutífera militância comunista. O I Congresso do PCP rendeu as mais altas homenagens e destacou seu “exemplo imperecível de dar a vida pelo Partido”. A “maior heroína do Partido” foi condecorada com a Ordem da Foice e Martelo, a maior distinção partidária.

OS ANOS DO EQUILÍBRIO ESTRATÉGICO

O impulso gerado na Guerra Popular a partir do I Congresso foi evidente. O PCP passou a controlar amplas e importantes zonas dos Andes, das selvas e da costa peruanas. Os combatentes do EGP realizavam ações simultâneas em uma região que abarcava mais de 70% do país. Os planos militares assumiram uma postura de desenvolver não somente a guerra de guerrilhas, mas também a guerra de movimento.

Buscando deter esse processo, o imperialismo ianque (durante o governo de Bush pai) passa a estabelecer e equipar uma nova base militar na zona de Alto Huallaga, controlada por cerca de 100 militares ianques e com a tarefa de equipar e comandar mais de 6 mil soldados peruanos. Teria início os acordos sujos promovidos com o velho Estado peruano. Nos anos seguintes, se incrementarão as maquinações da CIA objetivando destruir as Bases de Apoio da Guerra Popular.

Para corresponder a esta nova situação de desenvolvimento acelerado da Guerra Popular e da passagem à etapa de equilíbrio estratégico, o CC do PCP define que deveria conformar o Exército Popular de Libertação (EPL), um Exército guerrilheiro com crescentes características regulares.

O DISCURSO DO PRESIDENTE GONZALO DE 24 DE SETEMBRO

O 1992 é o ano do chamado “autogolpe” de Alberto Fujimori que inaugurará um regime fascista de terror para as massas peruanas. Paralelamente, a CIA seguirá ampliando sua intervenção. Estabelecerá uma diretriz para atuar no Serviço de Inteligência Nacional (SIN), montando um aparato próprio, intitulado Grupo Especial de Inteligência (GEIN). 

Sob essa ofensiva contrarrevolucionária, e desatentando-se na vigilância revolucionária pelos louros logrados e descurando-se daquilo que o próprio Presidente Gonzalo instruíra – de construir organismos superiores aos da reação – ocorrerão as prisões, sucessivas e crescentes, de dirigentes e membros do PCP e, culminando, a prisão do CC.

Em 14 de setembro de 1992, o Presidente Gonzalo é preso junto com outros dirigentes. Toda a imprensa reacionária, junto com o ditador fascista Fujimori e o imperialismo ianque buscavam anunciar a prisão do Presidente Gonzalo como uma grande derrota da Guerra Popular. Afirmavam que era questão de tempo até cessarem por completo as ações do EPL.

Todos esses desejos foram despedaçados quando, no dia 24 de setembro de 1992, o Presidente Gonzalo realiza o discurso na ocasião em que foi apresentado à imprensa reacionária em trajes de prisioneiro em uma jaula, numa tentativa de manchar a imagem da Chefatura do PCP que, nesta época, já havia se convertido em Chefatura do Movimento Comunista Internacional (MCI).

Ao iniciar seu discurso, o Presidente Gonzalo entoou a plenos pulmões o hino do proletariado internacional, A Internacional. Em seguida, o Presidente Gonzalo se dirigiu ao proletariado e aos povos oprimidos de todo o mundo conclamando a defenderem o maoismo como a terceira, nova e superior etapa do marxismo, como parte da Campanha pelo Maoismo sancionada pelo PCP. Ele também conclamou a todos os dirigentes e militantes do PCP, os combatentes do EPL e as massas populares a persistirem na Guerra Popular, em especial a seguirem os planos definidos pelo histórico III Pleno daquele CC: o IV Plano de Desenvolvimento Estratégico da Guerra Popular para Conquistar o Poder e o VI Plano Militar para Construir a Conquista do Poder.

PATRANHAS DAS ‘CARTAS DE PAZ’ E A NEGAÇÃO DA LINHA VERMELHA DO PRESIDENTE GONZALO

Em resposta à linha vermelha sustentada desde a mais alta luminosa trincheira de combate da Base Naval de Callao, onde o Presidente Gonzalo venceu batalhas em condições inumanas até o seu aniquilamento físico, surgirá a linha oposta: a Linha Oportunista de Direita (LOD) revisionista e capitulacionista. Posição que vai se estruturar nas prisões e vai formar uma organização própria, o Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais (Movadef), como principal porta-voz das posições acordistas.

O Presidente Gonzalo jamais teve possibilidade de escrever cartas ou livros. Pela sua posição inquebrantável, os agentes penitenciários jamais forneceram nem papel e nem caneta; tinha como única opção de leitura uma Bíblia, posta em sua cela. A LOD passa a espalhar, num trabalho sujo e servindo à reação peruana e à CIA ianque, a mentira de que o cabeça da sua linha revisionista era o Presidente Gonzalo, como se fosse ele o elaborador das “cartas de paz”, bem como de dois documentos de sua podre organização. Tais documentos, “De punho e letra” e “Memórias desde Nemeses”, foram escritos por acordistas de dentro e de fora da prisão e atribuídos à Chefatura do PCP.

Nas vezes que apareceu em público, a reação buscou desenvolver sua patranha reacionária. O Presidente Gonzalo aparece em um vídeo com Montesinos, poucos dias após sua captura. O braço-direito de Fujimori foi até a Base Naval de Callao, onde se localizava a cela provisória do Presidente Gonzalo, no objetivo de realizar uma entrevista filmada. Nessa ocasião, o Presidente Gonzalo fez uma denúncia da tentativa de humilhá-lo e ressaltou sua condição de prisioneiro de guerra e faz uma série de exigências; em um momento, questionado se haveria outro “Gonzalo”, ele responde, convicto: “Haverão muitos outros e melhores”; e depois responde à sondagem de Montesinos, que lhe questiona se a Linha do PCP – a da Guerra Popular – era uma “linha em formação” – portanto, modificável – ou se seria uma “linha pronta”, intocável, a que o Presidente responde-lhe: “Está pronta”.

As mais de 13 visitas de Montesinos ao Presidente Gonzalo foram no objetivo de convencê-lo a assinar o documento das “cartas de paz”. Se mostrando impossível cumprir o plano de Fujimori, a saída encontrada foi forjar tal assinatura e as próprias cartas. Conforme se lê na revista A República (dos monopólios de imprensa peruanos) de 14 de janeiro de 2008, Rafael Merino Bartett, um ex-assessor do SIN, declarou ser o autor das três cartas que imputam ao Presidente Gonzalo.

A contrarrevolução buscará também manejar vídeos em que o Presidente Gonzalo supostamente aparece lendo uma “carta de paz”, forjada, como assumidamente foi, pelo agente do SIN. Convém lembrar que a imagem do assim declarado “maior inimigo dos USA na América Latina” aparece em qualidade péssima, sem nenhum paralelo com as filmagens da época, e completamente incoerente com o que seria preparado numa ocasião como essa, se fosse verdadeira. Ainda que não se queira admitir o uso de atores (admitidos pelo próprio Fujimori), toda filmagem, edição e divulgação foi feito sob as orientações da CIA ianque, em anos que a incipiente manipulação de imagens, edições de áudio e tratamento de vídeos eram assuntos já plenamente dominados pela contrarrevolução e pela CIA.

Após anos isolado, sem aparições públicas, o Presidente Gonzalo aparece por ocasião do início do seu julgamento, em 2004. Ele surge sem barba (os agente penitenciários obrigam-no a raspar barbas e cabelos), mas nem por isso deixa de exaltar seu espírito intrépido, de comunista provado, hostil à possibilidade da capitulação.

Em outra ocasião, no início dos anos 2010, os agentes penitenciários fazem um interrogatório à Chefatura do PCP durante uma diligência. Perguntam os agentes se o Movadef seria “uma frente dirigida pelo PCP”, ao que o Presidente Gonzalo responde: “Querem me fazer rir?”. E, confrontando os agentes da reação peruana, os desafia: “Vocês vêm aqui e não pensam com a própria cabeça”. E prossegue: “Movadef como parte do Partido? Quem disse isso?”. E prosseguiu acusando as perturbações que os agentes penitenciários reiteradamente fizeram ao longo dos anos que esteve preso, inclusive as filmagens e fotos feitas.

As “cartas de paz”, portanto, surgem como patranha da CIA (imperialismo ianque), reação peruana (Fujimori e Montesinos) e a LOD, que vai se estruturando nas prisões do Peru, com a ratazana Miriam. Como parte da tentativa de manchar a imagem da Chefatura do PCP, em um contexto em que a Guerra Popular prosseguia com milhares de ações por todo o país.


Nota:

1 - Duas repúblicas: a do velho Estado peruano reacionário e a República Popular de Nova Democracia em formação; dois caminhos: o velho eleitoreiro e o novo surgido da Guerra Popular; dois eixos: o da grande burguesia, do imperialismo, do capitalismo burocrático e da semifeudalidade e o do proletariado que dirige a revolução democrática ininterrupta ao Socialismo.