Com informações de MST.org e nota das Brigadas Populares do Pará
Camponeses retomaram vitoriosamente a
Fazenda Santa Tereza, no município de Marabá, no sudeste do estado do
Pará. Cerca de 450 famílias participaram da retomada, segundo relatou o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Buscando paralisam a
luta por meio do terror, um dia depois, pistoleiros atacaram as
famílias durante a madrugada. Camponeses acusam latifundiário local.
A reocupação do chamado Acampamento Hugo
Chaves é fruto de luta camponesa que persiste na região desde 2014 e já
foi alvo de duros golpes do latifúndio. “Vários foram os episódios de
violências inúmeras situações de violação de direitos humanos relatados e
denunciados nacionalmente e até internacionalmente”, recorda o MST em
nota. As Brigadas Populares do Pará, também em nota de solidariedade,
trazem a memória de Onalício Araújo Barros (“Fusquinha”), e de Valentim
Silva Serra (“Doutor”), ambos dirigentes camponeses que tombaram em 1998
durante emboscada do latifundiário Rafael Saldanha, grileiro e possível
responsável também pelo ataque do dia 28.
Após o atentado dos pistoleiros, os
camponeses tentaram recorrer à Delegacia Especializada em Conflitos
Agrários (Deca) da região, mas – como relata a nota do MST – “o
comandante Rocha, responsável pelo departamento, se recusou a realizar
investigações”. A nota das Brigadas Populares completa denunciando que
“há relatos da participação de policiais da Deca nessa covardia contra
as famílias acampadas”.
Apesar da repressão, o MST ainda afirma que
“as famílias que retomaram o Acampamento Hugo Chaves continuarão na
terra resistindo.”.
Segue nota das Brigadas Populares do Pará, na íntegra.
...
“Com 450 famílias, no ano de 2014 o MST
organizou e realizou a ocupação de uma área denominada fazenda Santa
Tereza, no município de Marabá, no sudeste do Pará. A área havia sido
apropriada por membro da família Mutran e há poucos anos repassada ao
grileiro Rafael Saldanha.
Rafael Saldanha é um dos maiores
usurpadores de terras públicas no sudeste do Pará, membro do grupo que
articula policiais, milícias e pistoleiros para atacar trabalhadores
rurais na região, é suspeito de participar da articulação que na década
de 1990 mandou assassinar duas lideranças do MST, Fusquinha e Doutor.
Em novembro e dezembro de 2017 sob o
comando do juiz da Vara Agrária de Marabá e da polícia militar do
Estado, especializada para fazer os brutais despejos no campo, foram
feitos despejos de entorno de 2.000 famílias, de suas áreas, para
atender os interesses dos latifundiários.
Dentre estas áreas das famílias despejadas
foi atingido o acampamento Hugo Chaves, com 450 famílias, que se
deslocaram para área próxima onde tem escola que pudesse as crianças
continuarem estudando até o final do período letivo.
No dia 26 de julho, após o dia de
comemoração do trabalhador rural, as famílias resolveram retomar a área
de onde foram despejadas. Na madrugada do dia 28, quando ainda estavam
instalando os barracos do acampamento, as famílias foram surpreendidas
por um contingente de homens que chegaram atirando e gritando para que
todos deixassem o acampamento.
Foram três horas de terror. As famílias
desprotegidas, em desesperos iam abandonando os barracos ao mesmo tempo
em que os pistoleiros derrubavam e ateavam fogo, sem que as pessoas
pudessem tirar seus pertences. Movidos pela fúria de destruição os
pistoleiros atearam fogo também nos veículos que ali se encontravam
(carros, motos...).
A direção do movimento recorreu à Delegacia
Especial de Conflitos Agrários. O Delegado deixou claro que não iria
intervir, segundo relato de uma das coordenadoras do movimento. Há
denúncias da participação de policiais da Deca nessa covardia contra as
famílias acampadas.
Não temos dúvidas de que esta ação faz
parte do plano montado para a região no qual fazem parte latifundiários,
governo do Estado e empresários reacionários, para destruírem com a
luta camponesa no Estado do Pará. É tanto que recentemente o candidato a
presidente da república, Bolsonaro, juntamente com o ultrarreacionário
deputado federal Elder Mauro, fizeram um comício na curva do S
conclamando os fazendeiros a destruírem os movimentos da região.
Curva do S, símbolo da resistência
camponesa da região, onde em 1996 o governo do PSDB autorizou o grande
massacre de militantes do MST, com o assassinato covarde de 19
trabalhadores. Assim como também, no governo do PSDB, em maio de 2017,
15 policiais, também de forma covarde, assassinaram 10 trabalhadores e
uma trabalhadora, no município de pau D’Arco, no sul do Pará. Os
policiais assassinos estão soltos para mais execuções.
Nós, das Brigadas Populares, repudiamos
esses atos covardes e assassinos! Repudiamos o papel do Estado em defesa
do latifúndio e omissão em defesa dos trabalhadores! Conclamamos todos
os movimentos sociais, sindicatos, estudantes e professores, para uma
grande unidade em defesa da luta camponesa e pelo fim do latifúndio!
Mátria Livre!
Venceremos!
Marabá, 30 de julho de 2018.
Brigadas Populares – Pará”