Thursday, August 2, 2018

Fazenda é retomada na luta e camponeses sofrem atentado


Com informações de MST.org e nota das Brigadas Populares do Pará

Camponeses retomaram vitoriosamente a Fazenda Santa Tereza, no município de Marabá, no sudeste do estado do Pará. Cerca de 450 famílias participaram da retomada, segundo relatou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Buscando paralisam a luta por meio do terror, um dia depois, pistoleiros atacaram as famílias durante a madrugada. Camponeses acusam latifundiário local.
A reocupação do chamado Acampamento Hugo Chaves é fruto de luta camponesa que persiste na região desde 2014 e já foi alvo de duros golpes do latifúndio. “Vários foram os episódios de violências inúmeras situações de violação de direitos humanos relatados e denunciados nacionalmente e até internacionalmente”, recorda o MST em nota. As Brigadas Populares do Pará, também em nota de solidariedade, trazem a memória de Onalício Araújo Barros (“Fusquinha”), e de Valentim Silva Serra (“Doutor”), ambos dirigentes camponeses que tombaram em 1998 durante emboscada do latifundiário Rafael Saldanha, grileiro e possível responsável também pelo ataque do dia 28.
Após o atentado dos pistoleiros, os camponeses tentaram recorrer à Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca) da região, mas – como relata a nota do MST – “o comandante Rocha, responsável pelo departamento, se recusou a realizar investigações”. A nota das Brigadas Populares completa denunciando que “há relatos da participação de policiais da Deca nessa covardia contra as famílias acampadas”.
Apesar da repressão, o MST ainda afirma que “as famílias que retomaram o Acampamento Hugo Chaves continuarão na terra resistindo.”.
Segue nota das Brigadas Populares do Pará, na íntegra.
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“Com 450 famílias, no ano de 2014 o MST organizou e realizou a ocupação de uma área denominada fazenda Santa Tereza, no município de Marabá, no sudeste do Pará. A área havia sido apropriada por membro da família Mutran e há poucos anos repassada ao grileiro Rafael Saldanha.
Rafael Saldanha é um dos maiores usurpadores de terras públicas no sudeste do Pará, membro do grupo que articula policiais, milícias e pistoleiros para atacar trabalhadores rurais na região, é suspeito de participar da articulação que na década de 1990 mandou assassinar duas lideranças do MST, Fusquinha e Doutor.
Em novembro e dezembro de 2017 sob o comando do juiz da Vara Agrária de Marabá e da polícia militar do Estado, especializada para fazer os brutais despejos no campo, foram feitos despejos de entorno de 2.000 famílias, de suas áreas, para atender os interesses dos latifundiários.
Dentre estas áreas das famílias despejadas foi atingido o acampamento Hugo Chaves, com 450 famílias, que se deslocaram para área próxima onde tem escola que pudesse as crianças continuarem estudando até o final do período letivo.
No dia 26 de julho, após o dia de comemoração do trabalhador rural, as famílias resolveram retomar a área de onde foram despejadas. Na madrugada do dia 28, quando ainda estavam instalando os barracos do acampamento, as famílias foram surpreendidas por um contingente de homens que chegaram atirando e gritando para que todos deixassem o acampamento.
Foram três horas de terror. As famílias desprotegidas, em desesperos iam abandonando os barracos ao mesmo tempo em que os pistoleiros derrubavam e ateavam fogo, sem que as pessoas pudessem tirar seus pertences. Movidos pela fúria de destruição os pistoleiros atearam fogo também nos veículos que ali se encontravam (carros, motos...).
A direção do movimento recorreu à Delegacia Especial de Conflitos Agrários. O Delegado deixou claro que não iria intervir, segundo relato de uma das coordenadoras do movimento. Há denúncias da participação de policiais da Deca nessa covardia contra as famílias acampadas.
Não temos dúvidas de que esta ação faz parte do plano montado para a região no qual fazem parte latifundiários, governo do Estado e empresários reacionários, para destruírem com a luta camponesa no Estado do Pará. É tanto que recentemente o candidato a presidente da república, Bolsonaro, juntamente com o ultrarreacionário deputado federal Elder Mauro, fizeram um comício na curva do S conclamando os fazendeiros a destruírem os movimentos da região.
Curva do S, símbolo da resistência camponesa da região, onde em 1996 o governo do PSDB autorizou o grande massacre de militantes do MST, com o assassinato covarde de 19 trabalhadores. Assim como também, no governo do PSDB, em maio de 2017, 15 policiais, também de forma covarde, assassinaram 10 trabalhadores e uma trabalhadora, no município de pau D’Arco, no sul do Pará. Os policiais assassinos estão soltos para mais execuções.
Nós, das Brigadas Populares, repudiamos esses atos covardes e assassinos! Repudiamos o papel do Estado em defesa do latifúndio e omissão em defesa dos trabalhadores! Conclamamos todos os movimentos sociais, sindicatos, estudantes e professores, para uma grande unidade em defesa da luta camponesa e pelo fim do latifúndio! Mátria Livre!
Venceremos!
Marabá, 30 de julho de 2018.
Brigadas Populares – Pará”