Wednesday, May 8, 2019

A NOVA DEMOCRACIA BRASIL: Liga dos Camponeses Pobres: 'Bolsonaro prega guerra no campo' A- A A+

COMISSÃO NACIONAL DAS LIGAS DE CAMPONESES POBRES 
07 MAIO 2019

Reproduzimos na íntegra a nota da Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres (LCP) publicada na página do Jornal Resistência Camponesa no último dia 6 de maio.

BOLSONARO PREGA GUERRA NO CAMPO

Na abertura da agrishow, em Ribeirão Preto, no último dia 29 de abril, Bolsonaro defendeu que os latifundiários que assassinem quem invadir suas terras não sejam nem processados e nem condenados por seus crimes. Bem como prometeu enviar ao Congresso projeto de lei que caracterize a luta pela terra como terrorista.

Também anunciou para os ladrões das terras públicas e dos camponeses pobres, os latifundiários, mais especificamente para os barões do agronegócio, que o seguro rural em seu primeiro ano de governo será de 1 bilhão de reais (aumento de 125 %), bem como pediu juros menores dos empréstimos contraídos pelos latifundiários com o Banco do Brasil: mais uma farra para estes parasitas que só exportam e não colocam um grão de feijão, que seja, no prato dos brasileiros.

Antes, já havia renovado a mordomia desses tubarões, com isenção de 40 bilhões de impostos dos insumos agrícolas, em sua grande maioria vendida por multinacionais cartelizadas.

No discurso na agrishow, de concreto, nada de novo, só mais do mesmo, além da defesa aberta da pistolagem e do genocídio no campo. Servil, sabujo e descarado, falou o que pensa e que agradaria aos donos da festa.

As bilionárias isenções de impostos para os barões do agronegócio e as transnacionais da agroindústria, junto com os trilionários juros pagos aos banqueiros e as remessas de lucros para o estrangeiro das grandes empresas, nunca deixaram de ser praticadas por nenhum governo que o antecedeu nos últimos 30 anos, só para ficar naquilo dos que gostam de encher a boca embelezando o tal “Estado Democrático de Direito” dessa velha ordem de exploração e opressão. Isto sim quebrou o Brasil, e não os míseros gastos do Estado com saúde, educação e aposentadoria, como proclamam aos quatro ventos os que hoje planejam o assalto à Previdência.

Impunidade para matar camponeses, indígenas, quilombolas, advogados, padres e militantes proletários que lutam por terra, pão, trabalho e justiça, também não é novo. Sempre foi assim.

Tratar a luta consequente do povo por direitos e reivindicações e o protesto popular contra os abusos e injustiças deste velho Estado de latifundiários e grandes burgueses como terrorista, a antecessora de Bolsonaro já o fizera, após as grandiosas rebeliões da juventude de 2013 e 2014, com a Lei Antiterrorista. E o imperialismo, principalmente norte-americano, já opera com este mantra no país desde o golpe militar de 1964.

O que tem de novo em tudo isso, sempre praticado e nunca falado, é que veio da boca do Presidente da República, eleito com 30% dos votos dos brasileiros em condições de votar, nas eleições mais desmoralizadas de todas as edições da farsa eleitoral dos últimos 30 anos.

É para tentar salvar este brutal sistema de exploração e opressão de tubarões da terra e das finanças, serviçais dos imperialistas norte-americanos, de sua crise agônica, em meio da crise geral e mundial do imperialismo, que o genocida Estado putrefato e em decomposição desencadeou sua ofensiva reacionária preventiva contra o povo e contra o Brasil.

Tirando os bancos, já que o imperialismo é a fase do capitalismo do predomínio do capital monopolista financeiro, o melhor negócio DO MUNDO é ser latifundiário no Brasil! Roubam as terras públicas e particulares, praticam trabalho escravo, não pagam impostos, têm seguro contra prejuízo (lucro garantido) e podem matar impunemente. Quanta mordomia, absurdos privilégios, quanto liberalismo, quanta “modernidade” e quanto fascismo.

Com suas descaradas declarações, Bolsonaro, que disputa com os generais a forma de regime da contra-revolução para salvar o sistema dos sanguessugas do povo e da nação de sua ruína, proclama como maior valentão o devaneio de terror do latifúndio, da grande burguesia e do imperialismo de afogar em banhos de sangue a secular e sagrada luta pela terra dos camponeses de nosso país. Vai fracassar!

Bolsonaro com suas declarações e provocações é apenas a ponta do iceberg no Brasil do fascismo que está, outra vez, levantando a cabeça em todo o mundo. Bolsonaro está conclamando seus seguidores fascistas, fanáticos e obscurantistas, atiçando a guerra civil para o genocídio dos pobres no país. Mas os camponeses do Brasil têm lutado ao longo dos séculos por um pedaço de terra para plantar e criar suas famílias e construir com seus irmãos operários uma nação e um Brasil Novo.

Como os indígenas massacrados neste país os camponeses lutaram em centenas de levantamentos armados e nunca pararam de lutar. O fato das derrotas destes séculos ocorrerem ora por falta de condições objetivas e ora por falta de uma direção esclarecida não os condena sempre eternamente à derrota. Muito ao contrário, foi exatamente a sua persistência na luta, apesar das derrotas e aprendendo delas, que puderam conhecer o caminho da vitória. A reação pensa que sempre derrotará as massas, mas os camponeses têm aprendido muito e lutarão, não segundo a provocação de seus inimigos jurados, mas a seu modo, à sua maneira e no momento que melhor lhes convier darão sua luta de armas na mão.

Para os camponeses, sobreviver é conquistar um pedaço de terra para trabalhar!

Viva a sagrada luta pela terra!

Terra para quem nela vive e trabalha!

COMISSÃO NACIONAL DAS LIGAS DE CAMPONESES POBRES

OS HOMENS DA TERRA

(Vinicius de Moraes, 1962, Poemas para a liberdade)

Senhores Barões da terra
Preparai vossa mortalha
Porque desfrutais da terra
E a terra é de quem trabalha
Bem como os frutos que encerra
Senhores Barões da terra
Preparai vossa mortalha.
Chegado é o tempo de guerra
Não há santo que vos valha:
Não a foice contra a espada
Não o fogo contra a pedra
Não o fuzil contra a enxada:
— União contra granada!
— Reforma contra metralha!

Senhores donos da Terra
Juntais vossa rica tralha
Vosso cristal, vossa prata
Luzindo em vossa toalha.
Juntais vossos ricos trapos
Senhores Donos de terra
Que os nossos pobres farrapos
Nossa juta e nossa palha
Vêm vindo pelo caminho
Para manchar vosso linho
Com o barro da nossa guerra:
E a nossa guerra não falha!

Nossa guerra forja e funde
O operário e o camponês;
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis
Com seu martelo e seu torno
Sua lima e sua torquês,
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis.

Nosso pão de cada dia
Feito em vossa padaria
Com o trigo que não colheis;
Nosso pão que forja e funde
O camponês e o operário
No forno onde coze o trigo
Para o pão que nos vendeis

Nas vendas do latifúndio
Senhor latifundiário!
Senhor Grileiro de terra
É chegada a vossa vez

A voz que ouvis e que berra
É o brado do camponês
Clamando do seu calvário
Contra a vossa mesquinhez.

O café vos deu o ouro
Com que encheis vosso tesouro
A cana vos deu a prata
Que reluz em vosso armário
O cacau vos deu o cobre
Que atirais no chão do pobre
O algodão vos deu o chumbo
Com que matais o operário:
É chegada a vossa vez
Senhor latifundiário!

Em toda parte, nos campos
Junta-se a nossa outra voz
Escutai, Senhor dos campos
Nós já não somos mais sós.
Queremos bonança e paz
Para cuidar da lavoura
Ceifar o capim que dá
Colher o milho que doura,
Queremos que a terra possa
Ser tão nossa quanto vossa
Porque a terra não tem dono
Senhores Donos da Terra.
Queremos plantar no outono
Para ter na primavera
Amor em vez de abandono
Fartura em vez de miséria.

Queremos paz, não a guerra
Senhores Donos de Terra …
Mas se ouvidos não prestais
Às grandes vozes gerais
Que ecoam de serra em serra
Então vos daremos guerra
Não há santo que vos valha:
Não a foice contra a espada
Não o fogo contra a pedra
Não o fuzil contra a enxada:
— Granada contra granada!
— Metralha contra metralha!

E a nossa guerra é sagrada
A nossa guerra não falha