Tradução não-oficial.
Texto publicado na imprensa popular Yeni Demokrasi, ou Nova
Democracia (Turquia), ligada ao Partido Comunista da
Turquia/Marxista-Leninista (TKP/ML).
O Pântano Onde Bob Avakian Caiu! O Beco sem saída do Partido Comunista das Filipinas!
O sistema imperialista estadunidense foi arrastado para uma crise
política junto com a crise econômica que eclodiu em 2008, porque a crise
de 2008 não foi uma simples crise financeira e de produção. Esta crise
tem um caráter muito extenso e profundo, o que mostra que o modelo de
acumulação de todo um sistema está cada vez mais difícil de se manter,
levando a uma discussão acerca de novos modelos de acumulação de
capital.
Vê-se que a crise de 2008 foi levada até os dias atuais, com quase
todos os seus efeitos e continuidade. Na economia, vê-se que, após o
grande terremoto, continuam as intermináveis ondas de choque resultantes
deste, e que um novo e mais destrutivo terremoto está chegando. Viu-se
que este quadro tem um efeito multiplicador sobre a crise política do
sistema imperialista. Há uma grave crise econômica e política que se
estende do Oriente Médio Ampliado à África, da Extrema Ásia ao Cáucaso,
da América Latina aos centros imperialistas, dos Balcãs à Europa
Oriental.
Este ambiente de crise não só afetou as contradições
inter-imperialistas e as relações entre os imperialistas e suas
semicolônias, mas também afetou a luta entre as camarilhas internas dos
países imperialistas. Em geral, nos deparamos com a situação de que o
sistema imperialista-capitalista mundial está em uma profunda crise
política, e esta crise não vai parar.
Não é o “destino”, nem uma coincidência, que o sistema
imperialista-capitalista mundial, o poder dominante do Estados
Unidos — USA, esteja na posição mais afetada por esta crise. Este é o
curso natural da dialética. O fato do USA ser a potência dominante torna
o ambiente de crise mais apetitoso para outras potências imperialistas,
e inicia a cadeia de movimentos que irá fazer o imperialismo ianque
declinar. A questão atual é que a China organize estes movimentos no
campo econômico, e, a Rússia, no campo político-militar, de forma clara e
mais decisiva. Os imperialistas da União Europeia, por outro lado,
procuram quebrar a liderança e a influência do USA dentro do bloco
“Imperialista Ocidental”. Isto significa um conflito, tensão e luta em
várias camadas. Neste ambiente de crise multifacetada, a luta entre a
burguesia monopolista dentro do sistema imperialista do USA se
intensificou, e continuará a escalar em um curso natural. A ciência do
materialismo dialético-histórico nos ensinou que a luta entre as
camarilhas da burguesia intensifica inevitavelmente dentro da estrutura
do poder, com a crise que entrou numa tendência declinante.
A Importância da Identidade Política Independente!
A condensação das contradições dessas camarilhas significa novas
oportunidades e possibilidades de revolução, para os povos e nações
oprimidas. Entretanto, somente uma atitude política correta, uma análise
correta dos desenvolvimentos e, é claro, a sofisticação do nível de
organização do povo oprimido, fará uso sério dessas oportunidades. Mas
mais importante, só será possível fazer uso desta situação se o
proletariado abraçar sua “ação política independente e identidade”
baseada em seus próprios interesses de classe. O que será decisivo é a
“linha política” do proletariado, como o camarada Mao a chama.
Marx e Engels realizaram a seguinte determinação, que pode ser
considerada como o princípio básico, no momento em que o proletariado
estava apenas emergindo como uma classe para si mesmo: “Manter
sua independência, para medir sua própria força, para mostrar sua
postura revolucionária ao público, para alcançar o progresso político”.
Não demora muito para que os representantes políticos do proletariado,
que perderam estas atitudes de Marx e Engels, se ancorem em linhas de
colaboração de classe, revisionistas e oportunistas. A questão da “ação
política independente” tem sido uma questão que os camaradas Lênin,
Stalin e Mao nunca esqueceram, cuidadosa e ciosamente observados em todo
tipo de contradições, alianças, atitudes políticas e posições. Isso
também corresponde a um posicionamento ideológico. Esta identidade
ideológica é indispensável para a marcha histórica do proletariado, para
sustentar revoluções e para construir o comunismo.
Nas recentes eleições presidenciais estadunidenses, a posição
assumida pelos progressistas-revolucionários e até mesmo por algumas
forças que se dizem “maoistas” mostrou a extensão do processo de
liquidação reformista, e do cerco à ação política independente e à
identidade do proletariado. Durante as eleições entre Joe Biden e Donald
Trump, o mundo inteiro voltou seus olhos para esta competição, e se
concentrava no placar que sairia das urnas. O eixo principal do debate
eleitoral foi formado através da percepção de uma luta entre Trump, que
representa “fascismo, militarismo, racismo, misoginia e reacionarismo”, e
Biden, que pode ser considerado como o “menos pior” contra ele, mas
permanecerá “vinculado às normas democráticas burguesas”. Ou seja, a
questão foi definida não como uma luta entre dois grupos reacionários da
burguesia imperialista monopolista, mas como uma luta entre
representantes de dois valores distintos, como uma luta entre a
“democracia” e o fascismo.
Trump é o representante mais reacionário e chauvinista dos monopólios
burgueses reacionários tentando infligir o fascismo ao imperialismo
ianque; Biden, por outro lado, representa uma “burguesia” mais razoável e
“moderada”, tentando proteger a democracia burguesa. Esta equação
desenvolvida e suas discussões não foram parte da pauta durante todo o
processo.
Aqueles que não compreendem o fascismo não podem compreender a natureza dos desenvolvimentos!
Este foi o quadro apresentado a todos os povos do mundo. Nenhum
período se desvaneceu como neste período eleitoral, onde o USA é um
sistema imperialista brutal, bárbaro e implacável, tem sido o líder do
sistema imperialista-capitalista mundial por 75 anos e tem aplicado todo
tipo de crueldade aos povos e nações oprimidas. Porque, seja
ele bárbaro ou brutal, um positivismo, se expressando sob o argumento
falho de que um sistema imperialista pode ser o preferido nas escolhas
apresentadas pela “democracia burguesa”, quase foi reavivado [grifo
nosso — N.T.]. Ao corroer a análise do Marxismo-Leninismo-Maoismo
acerca do fascismo, os desenvolvimentos, e realizar uma leitura errada
da situação atual e dos processos que se desenvolveram no USA, a
ansiedade e os medos também aumentaram, e foi criada uma posição
ideológica que está quase destruída.
Primeiro, dois tipos de governo são necessários para que o sistema
imperialista-capitalista mantenha sua ditadura. Um é a democracia
burguesa e o outro é o fascismo. O fascismo nasceu como criança da era
imperialista. A pólvora parcialmente progressista da burguesia
monopolizada no período capitalista de livre mercado está agora
esgotada, e seu sistema adquiriu uma estrutura que concebeu crises
abrangentes e multidimensionais. Esta situação trouxe a necessidade da
reação burguesa para a forma mais reacionária, agressiva, chauvinista e
podre de governo, a fim de administrar seus interesses nacionais, a
estrutura de crise de seu capital. O fascismo, em sua forma mais rígida,
é definido como “a ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, chauvinistas, mais imperialistas do capital financeiro”.
Esta é também outra forma de ditadura das classes dirigentes burguesas.
Uma forma sistemática de governo que a burguesia monopolista teve que
acrescentar à opção da democracia burguesa na era imperialista. A
transição de um sistema imperialista-capitalista com democracia burguesa
para o fascismo pode ser possível com o empurrão obrigatório das
condições históricas, acompanhado de crises políticas muito sangrentas e
grandes, que não são fáceis de evoluir. À medida que o sistema muda de
forma, ele percebe isso de uma maneira difícil, sangrenta, que carrega
grandes contradições em seu seio. Nesse caso, busca-se a conveniência de
uma série de desenvolvimentos, tais como a extensão da contradição
entre os grupos da classe dominante, o posicionamento das massas, o
restabelecimento do equilíbrio de poder, a natureza das contradições
internacionais. Isto é especialmente válido para um poder imperialista
dominante.
Em segundo lugar, o fascismo não é um conceito que possa ser
explicado pela natureza fascista ou as atitudes fascistas de uma pessoa.
Neste contexto, o fato de figuras chauvinistas, reacionárias e
fanáticas serem ministros, primeiros-ministros e presidentes na
democracia burguesa não significa que o sistema tenha um caráter
fascista, e que a democracia burguesa tenha se virado ao fascismo. Com o
resultado da competição, “uma eleição”, o sistema não muda de forma ou
toma uma nova forma. As experiências históricas são indicativas disso.
Naturalmente, a história também nos mostrou que é possível a execução de
uma ditadura burguesa num sistema estabelecido com o discurso do
“socialismo”, e a estrutura de personalidade de um “líder”, ou o
funcionamento do mesmo sistema através de um “líder” selecionado, com
características fascistas. A questão é quais são os interesses das
classes burguesas dominantes. As regras do sistema estabelecido são se
esse líder criou a si mesmo dentro das leis do sistema vigente, ou não.
A transição para o fascismo, por outro lado, emerge do fato de que o
sistema estabelecido está agora desmoronando, as contradições
sócio-político-econômicas não são mais manejáveis, e a expectativa no
equilíbrio de poder entre os grupos das classes dominantes junto da
mudança radical em suas preocupações futuras, os força a buscar uma
alternativa. As condições que deram origem ao advento do fascismo sob a
liderança de Hitler na Alemanha são tais condições. Tendo perdido a
guerra, lutando em grandes crises, o sistema existente não tem mais
resposta nas massas, a burguesia alemã sofre por novas áreas de mercado,
onde o socialismo se tornou uma ameaça ao sistema mundial, e está na
agenda de todos os povos oprimidos. Na busca pela mudança no equilíbrio
de poder no domínio imperialista, a forma fascista de ditadura ganhou
vida, no final de um processo bastante sangrento, difícil e pesado. Para
os países imperialistas com democracias burguesas profundamente
enraizadas, esquecer o fato de que o fascismo tem sido historicamente
amaldiçoado, esquecer que eles tenderão a preferir este sistema como um
todo, deixando de lado a democracia burguesa em condições de crise, onde
tal mudança faz-se necessária, dado que a democracia burguesa é incapaz
de enfrentar a crise, é subestimar a mente e a consciência histórica da
burguesia. O problema será discutir com um idealismo unilateral, no
qual o elemento de superestrutura das tradições
político-ideológicas-culturais é ignorado, além das condições
econômicas. Neste caso, deve ser visto que os sistemas imperialistas
baseados na democracia burguesa serão obrigados a preferir o fascismo, e
que os imperativos históricos e as contradições crescentes se tornarão
possíveis com o surgimento de um grave problema de sobrevivência para
eles.
Em terceiro lugar, na era do imperialismo, a forma de Estado fascista
é contínua devido às condições econômicas e políticas dos países
semicoloniais semi-feudais. Da mesma forma, a transição dos países
semicoloniais semi-feudais para a “democracia burguesa” não está
relacionada à sua vontade própria. Na era do imperialismo, o problema da
democracia nestes países é agora uma questão de revolução, liderada
pelo proletariado. A sistemática da revolução, que acontecerá com as
contribuições únicas do camarada Mao, é chamada de NOVA REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA.
Ou seja, uma revolução democrática que proporcionará as condições
históricas de transição para o socialismo, sob a liderança do
proletariado. Neste contexto, a transição das classes dirigentes do
fascismo para a democracia burguesa, ou da democracia burguesa para o
fascismo, não é uma questão fácil. Enquanto a primeira condiciona uma
revolução sob a liderança do proletariado, a segunda depende da crise do
sistema mundial, da extensão da contradição entre as potências
imperialistas e das dificuldades experimentadas pelas classes burguesas
dominantes.
Em quarto lugar, assim como não há democracia pura nas formas
reacionárias de governo burguês-democrático, as práticas fascistas são
inerentes ao próprio sistema. Com o curso dos desenvolvimentos e a
necessidade de administrar a crise do imperialismo, ou seja, a
decomposição do imperialismo e do capitalismo enquanto sistema, as
práticas fascistas podem intensificar e se tornarem eficazes mesmo
quando a forma burguesa-democrática é dominante. Esta agressão
chauvinista, racista e mais reacionária baseada na repressão só ganha
vida sem assumir a forma fascista que o sistema imperialista sempre
precisa, quando evita ultrapassar os limites da democracia burguesa.
Sempre houve chauvinismo, racismo, militarismo, misoginia,
anticomunismo e opressões políticas contra os trabalhadores nos países
centrais imperialistas, ou seja, países que mantêm sua ditadura com a
democracia burguesa. O dimensionamento da onda de reacionarização em
alguns períodos não mostra que o sistema existente tenha evoluído para o
fascismo. O fascismo é uma forma de governo em si mesmo, porque, nas
condições em que o fascismo é construído, classes, estratos e segmentos
que são retirados do sistema se expandem, e todo o equilíbrio social e
os meios de revolução social, tais como alianças de classes, passam por
mudanças. A política de Frente Unida do proletariado e seu modo de luta é
diferente sob o fascismo, em comparação com a democracia burguesa.
Em outras palavras, é errado definir o fascismo como as atitudes dos
líderes, períodicas, ou certas partes do sistema e seus ataques de forma
fascista, mas sem mudança no sistema de gerenciamento do poder. Isto
trivializa a definição teórica do fascismo, provocando uma análise
errada da situação objetiva, das condições da revolução social, e
distorcendo a consciência das massas na base correta, e na luta contra o
sistema, com os métodos e ferramentas corretas.
A Democracia Burguesa está envolvida em práticas fascistas! Buscar Democracia Pura é Tolice!
Na ocasião das eleições presidenciais estadunidenses, a questão do
fascismo e da democracia burguesa, uma séria ruptura na consciência
sobre as tendências fascistas dos líderes e a orientação mais
reacionária das classes burguesas que representam, na questão das
alianças de classe e nas políticas táticas, leva à organização de uma
linha reformista, e é possível detectar os sinais disto hoje.
Sem fazer uma mudança fundamental nas políticas e orientações
imperialistas do USA, Trump incentiva o racismo na política interna,
apoia tradições misóginas e reacionárias, envolve trabalhadores e
trabalhadoras com novos ataques econômicos, levanta a violência das
forças policiais do Estado, abre caminho para organizações
chauvinistas-racistas e seu armamento, tem uma atitude que busca tornar
os membros da raça “branca” em membros de seitas reacionárias
efetivamente, realizando regulamentações legislativas de acordo com tudo
isso. Vale a pena ressaltar, também, sua defesa mais forte das guerras
comerciais, visando fazer das fronteiras nacionais uma área mais segura
para uma solução da crise do capital monopolista e das políticas
periódicas e temporárias de fechamento, que aumentam a erosão,
especialmente contra os “valores ocidentais”, e aumentam a tensão entre o
bloco “imperialista ocidental”, tornando as políticas neoliberais mais
discutíveis. Isto é precisamente a erosão parcial da argumentação
econômica e política “liberal” da burguesia, causada pela camarilha de
Trump, utilizando naturalmente a retórica “direitista” e ainda mais
reacionária, a tendência ao fechamento nacional parcial, e o fato
histórico de que a burguesia monopolista entrou nesta linha em sua
política interna, provocando a discussão do fascismo, esquecendo a
realidade histórica
A maneira de Trump de administrar o processo epidêmico, a maneira
como os trabalhadores lidaram com o processo, com argumentos
reacionários e abordagens imprudentes diante de um grande problema de
saúde, levaram à adição de novos argumentos para reivindicações e
abordagens, de que Trump “construiu o fascismo”. É um fato que a polícia
tornou sua defesa da “raça branca” mais aberta do que em seus regimes
predecessores, em comparação com os ataques racistas e massacres de
negros que se tornaram rotina no USA. A abordagem contra o movimento
“Black Lives Matter”, que começou com o assassinato de um jovem negro em
maio, e continuou por meses, tornou sua massa reacionária abertamente
hostil a este movimento, e, assim, aumentou a dose de agressão, também é
um fato. Estes fatos formaram a base para análises que levaram a uma
distinção entre Trump, o sistema estadunidense, e presidentes
anteriores.
Este movimento atual tem características relativamente radicais em
relação aos movimentos antifascistas anteriores, e enche as ruas de uma
coragem que desafia as condições pandêmicas. Diante destas
características do movimento, o reacionarismo de Trump, o esforço para
paralisar a massa alvo determinada pelo ambiente eleitoral, e usá-la
como base para se fortalecer, é um fato que não pode ser ignorado.
Esta posição imprudente fortaleceu o movimento antifascista, mas
também destacou seu caráter anti-Trump. O surgimento desta revolta no
período pré-eleitoral, e em uma atmosfera onde o choque dos monopólios
imperialistas ianques aumentou, levou às tentativas dos Democratas de
usar este movimento a seu favor, sob a liderança de Biden, opondo-se a
Trump, colocando as eleições estadunidenses na base de uma competição
eleitoral entre fascismo e democracia. Quando esta situação se soma à
estrutura politizada do interesses nas eleições, que é o mais politizado
possível sob as condições afetadas pela crise econômica e política, e
pela epidemia, a formação política das massas e sua atitude em relação
ao problema foram jogadas ao extremo.
A tudo isso, especialmente nos últimos 20 anos, deve ser acrescentado
que o sistema imperialista-capitalista e seus lacaios formaram o perfil
de liderança de personagens “de baixo-nível”, “lumpesinato”,
“populista”, como uma tendência. Estes líderes têm uma atitude que vai
além das normas diplomáticas habituais, apostando no orgulho nacional e
nos aspectos populistas das massas na política interna. Este perfil de
líder formou uma linha extremamente imprudente, humilhando suas relações
com seus adversários, apelando para o espírito das massas que o
sustentam, tentando manter seu apoio forte e prolongar sua existência.
Embora Chávez seja um exemplo disso no lado “esquerdo”, ele não fez
avançar o socialismo ou a consciência da revolução democrática e do
poder, e realizou as simpatias das massas à revolução e ao socialismo
com uma liderança lumpemproletária, anti-ianque, que não foi além do
“populismo de esquerda”, com uma linha política desprovida de conteúdo.
Embora Chávez persiga políticas “populistas” no discurso político e em
algumas práticas, ele assumiu um papel que essencialmente assegura a
manutenção do sistema burguês dominante e quebra a consciência do poder
revolucionário das massas.
Outros estados e sistemas governantes reacionários que começaram com
Sarkozy e continuam com Macron na França, Recep Tayyip Erdogan na
Turquia, Duterte nas Filipinas, Timechenko na Ucrânia, Saakashvili na
Geórgia, Orban na Hungria, Bolsonaro no Brasil, Johnson na Inglaterra e
finalmente Trump construíram uma liderança com retórica lumpesinata,
sexista, chauvinista e reacionária, segurando a base de massas sobre a
qual eles se baseiam, e surfando na onda reacionária de direita. Vale
ressaltar que este estilo de liderança de conteúdo baixo-nível,
lumpemproletária, e sem valor algum, é uma tendência da reação mundial.
Este perfil de liderança, ignorando que os Estados são moldados como um
aparelho que mantém o domínio de uma classe, tem proporcionado grandes
oportunidades para aqueles que erroneamente assumem que eles são
moldados pelos dois lábios de líderes, e pela sua vontade. É um fato
claro que estes perfis de liderança precisam de apoio das massas, tanto
quanto possível, e eles seguem um estilo de política que reforça este
apoio quando as contradições se intensificam. Argumentar que os sistemas
mudam através dos discursos e abordagens desses líderes, e que eles
tomarão facilmente outra forma, significa não ter um domínio das leis da
história e da ciência social. No USA, é possível que Trump avance com o
perfil de “novo líder” da época, para se agarrar a argumentos
reacionários, a fim de permanecer mais ao volante e colocar o Estado em
um rumo mais reacionário, preservando os princípios do sistema
existente.
O Período Complexo e suas Contradições Esclarecem a Qualidade dos Líderes!
A soma de tudo isso, afirma-se que Trump não apenas aumentou a dose
de ataques fascistas, mas suspenderá a democracia burguesa, que
construiu um sistema fascista no USA, que trará o fascismo para o USA e
que precisa de outra eleição para uma institucionalização completa, e
que sequer reconhecerá os resultados eleitorais. Neste contexto, o
argumento de que Trump organiza forças militaristas e se prepara para a
guerra civil, que ele é um fascista louco, que detém bombas nucleares e
as usará para destruir completamente o mundo, que ele está deslumbrado o
suficiente para arrastar o mundo inteiro em desastres, tudo isso
transformou-se em um pesado discurso político, e finalmente surgiram os
mutirões que especificam a política tática sob este discurso, em nome do
“revolucionismo e do comunismo”.
Isto se refletiu nas atitudes tomadas sobre a questão eleitoral e no
tratamento das políticas de frente unida, mas tanto a política
organizacional quanto o posicionamento destas organizações não foram
apegados a uma forma “comunista” de luta contra a previsão de uma séria
mudança do sistema neste nível, ou seja, as organizações que nutriram a
análise de que Trump faria o fascismo usaram essa retórica somente para
promover as eleições, e promover alianças com setores reformistas, mas
não se organizaram nem se posicionaram de forma adequada frente a uma
suposta mudança do sistema de democracia burguesa para fascismo.
Nas eleições do USA, o movimento liderado por Bob Avakian apoiou
abertamente a luta de Joe Biden contra o “fascismo”, abraçando a
“democracia burguesa”, e empreendeu esforços organizacionais. No mundo
inteiro, contra o reacionarismo de Trump, os segmentos
esquerdista-revolucionário-democrata progressistas e até mesmo
“comunistas” se posicionaram de forma “anti-Trump” acerca das eleições.
Sob esta noção, o “principal perigo” da reacionarização é Trump, e uma
atitude política, que incluirá livrar-se de um problema imperialista,
que trará o fascismo. Observa que esta noção se originou de tal forma
que foi propagandeada pelas facções burguesas liberais, e causou séria
confusão entre sujeitos anti-imperialistas e democráticos,
revolucionários, nacionalistas, e até mesmo “comunistas”.
Neste contexto, uma mensagem de felicitações foi emitida pelo Partido
Comunista das Filipinas, o líder da Guerra Popular das Filipinas,
acerca da derrota eleitoral de Trump. Sem dúvida, é rotineiro aos
comunistas e revolucionários celebrar a resistência, a luta e as
conquistas dos povos oprimidos, tomando inspiração a partir desta. Mas
celebrar a perda de um reacionário nas eleições em que o sistema
imperialista ianque decide quem vai sentar-se ao leme do reacionarismo,
celebrar a massa do povo que votou por sua perda, é o resultado de uma
confusão, de um desvio, de uma mancha de consciência. Esta atitude
atribui um significado exceessivo, desnecessário e absurdo às “eleições”
no objetivo de revolução dos comunistas, e à luta futura pelo
comunismo, contra a política imperialista e agressão, que não mudará com
a substituição de uma camarilha reacionária em um centro imperialista.
Isso não significa nada mais do que um apoio moral na frente do povo.
Também nos mostra a extensão da confusão na frente dos povos oprimidos.
Isto é importante e precisa ser enfatizado.
A afirmação de que a linha Avakianista contribuiu para o
Marxismo-Leninismo-Maoismo, com toda sua retórica radical e de extrema
esquerda, e até mesmo o absurdo de “sem defender Bob Avakian, não é possível defender o Maoismo”
foi trágica. Ancoragem a um ponto de colaboração de classe diante do
Trump, que está tentando ganhar um lugar dentro da estrutura do sistema
estabelecido, que não se “adota” surfando a onda lumpem, onda de baixo
nível e reacionária no USA. Foi observado que o sistema estadunidense
aumentou ou diminuiu a dose de seus ataques por centenas de anos,
durante a crise na economia, ou em períodos relativamente estáveis, a
percepção da ameaça e as condições de crise política paralelas.
Características fascistas e ataques através da democracia burguesa estão
na essência deste sistema. Em última instância, com base em uma teoria
de crise e na quebra do poder imperialista dominante do USA, sem
determinar a necessidade do “fascismo”, a análise do processo baseado no
fenômeno de que Trump e sua turma desejam o fascismo, bloqueia a
oposição anti-Trump e dispersa este movimento no ponto de decisão
política. A capacidade do Marxismo-Leninismo-Maoismo de explicar as
crises através de toda a dinâmica, características, componentes e
condições históricas do sistema tem sido esquecida pela linha
Avakianista. Neste eixo, a análise relativa à determinação da política
tática no curso dos desenvolvimentos foi ignorada. “As táticas devem ser
baseadas em uma avaliação de sangue frio e firmemente objetiva de todas
as forças de classe, de cada estado (e os estados que o cercam, ou
seja, todos os estados do mundo), e em levar em conta a experiência dos
movimentos revolucionários”, aconselhou Lênin, mas eles fugiram do
Leninismo, determinando suas táticas com uma análise superficial e
idealista do processo, da análise do estado, e da concepção do que é o
fascismo.
A linha reformista que o Avakianismo constitui com o Ecleticismo
O Avakianismo confundiu o resultado com a justificativa, ignorando
que o fascismo é um sistema produzido pelo capitalismo imperialista em
determinadas bases econômicas, sociais e políticas. Em outras palavras,
ao colocar o fenômeno Trump como a justificativa para alegar que há
fascismo no USA, ele virou a teoria Marxista-Leninista-Maoista de cabeça
para baixo e, com uma unilateralidade idealista, golpeou a linha
comunista, rapidamente se desviando para o reformismo e a colaboração de
classe.
Neste contexto, a linha Avakianista foi abalada, com medo de Trump,
medo do fascismo e as concepções acerca do Estado, que não podia
compreender em 2017. O medo de Trump, do seu estilo imprudente e vulgar,
e os ataques fascistas baseados na linha política reacionária que está
se elevando ao redor do mundo (a história do imperialismo do USA é a
história dos ataques fascistas sob o domínio da democracia burguesa, por
isso não estamos falando de algo específico em Trump), e para aumentar
seu próprio poder, aumentar sua influência dentro do sistema baseado nas
grandes massas, para ser alimentado por seus fortes movimentos em
direção à linha reacionária.
Isso mostra o equilíbrio de poder no USA, a natureza dos grupos
imperialistas ianques, a realidade de que o USA, que ainda é a potência
dominante no mundo, experimentará sérios problemas com uma mudança
radical do sistema, que a conjuntura mundial e o terreno que alimenta
Hitler, ou seja, que alimenta o fascismo em escala mundial, ainda não
está maduro atualmente, mas não há dúvida da existência do perigo da
revolução proletária. Avakian esqueceu uma série de dinâmicas com a
determinação de que o imperialismo ianque fará a transição para o
fascismo com Trump. E nas eleições entre Biden e Trump,
consequentemente, ele pediu que o povo votasse no reacionarismo de
Biden, para superar o reacionarismo “trumpista”.
Bob Avakian afirma o seguinte, em seu artigo sobre as eleições:
“Nesta hora crítica, todos os meios apropriados de ação não-violenta
devem ser utilizados para remover este regime do poder. E se, apesar do
protesto em massa exigindo a remoção do regime Trump/Pence, este regime
permanecer no poder quando chegar a hora de votar, então — sem colocar
uma confiança fundamental neste — [deve-se] usar todos os meios
apropriados para trabalhar pela remoção deste regime, [devendo-se]
incluir o voto contra o Trump (assumindo que a eleição seja realmente
realizada). Para ser claro, isto significa não um “voto de protesto”
para algum candidato que não tem nenhuma chance de vencer, mas realmente
votar no candidato do Partido Democrata, Biden, a fim de votar
efetivamente contra Trump.”
Como a citação sugere, os erros de Avakian não se limitam a uma
análise incorreta. Este entendimento, que não vê nenhum mal em apoiar
ativamente Biden, o outro grupo reacionário dos monopólios
imperialistas, tudo isso em nome de “impedir a vinda do fascismo” nas
eleições, foi suficiente para convidar as massas a permanecerem em “ação
pacífica” durante a rebelião, quando o movimento “Black Lives Matter”
tomou as ruas usando a violência.
Avakian sentiu o perigo de um movimento verdadeiramente combativo, e
fez um alerta para o movimento de massas, utilizando a retórica de
perigo fascista para amedrontar o povo. Ele reforçou isto dizendo
“evitem a violência” na linha de luta a ser seguida durante o período
eleitoral. O estado de atraso na ação das massas pode ser compreensível
em termos de consciência, habilidades e natureza de classe deste
movimento. Entretanto, com esta atitude, ele mostrou o quão distante e
desconectado ele está, em relação a perspectiva
Marxista-Leninista-Maoista sobre a luta contra o fascismo e, não tão
sério em seu clamor, ele afirma que ouviu os “passos do fascismo”.
Afastando-se da experiência histórica do proletariado internacional,
ele não se contentou em fazer análises do fascismo que se baseavam em
seu próprio empirismo estreito, sem qualquer profundidade teórica, mas
fugiu da importância de determinar sua política com base neste suposto
“fascismo”, e de desenvolver uma linha política contra o fascismo. Ele
esqueceu que, caso exista o perigo do fascismo, faz-se necessário
ampliar e fortalecer o movimento de massas, de transformá-lo em
organizações mais fortes, e até mesmo desenvolver as preparações para
possíveis conflitos armados.
Há uma conclusão a ser tirada disto: as táticas de Avakian se resumem
a fazer um apelo para eleger o reacionarismo de Biden. Como resultado
das eleições, ele disse: “Portanto, [devemos] celebrar — e
defender — a vitória na eleição. E devemos pensar bem nas consequências
que virão, como enfrentá-las, e avançar através delas para o mundo que
precisamos.”, e, ao convocar o povo para ser “o dono das urnas”, a
ação independente e a identidade do proletariado foi removida do
movimento, ao ponto que este movimento tornou-se inferior a qualquer
movimento político mediano. Vejamos o absurdo: ele convocou as massas a
serem “donos das urnas”. Esta é a doença do parlamentarismo, com todas
as características que Engels descreveu como “a tendência de lutar pelo
sucesso imediato”, ou seja, o oportunismo, às custas do futuro do
movimento.
O erro do movimento Avakianista neste processo não se limita à
questão eleitoral. Um argumento usado em oposição ao Trump tem sido o
perigo de “guerra civil”, e o medo das armas nucleares. O fato de um
movimento [que se diz] revolucionário criar a percepção de uma “guerra
civil” como algo perigoso ao povo mostra que agora ele está se afastando
da preocupação da revolução, e está alienado da luta das classes
proletária e revolucionária, como arma para ganhar o mundo. As classes
revolucionárias não podem avançar com medo da guerra civil, dado que as
condições sociais da classe e do surgimento dessa guerra civil
representam grandes oportunidades e possibilidades para as classes
revolucionárias e sua vanguarda. A própria luta revolucionária é um
esforço para transformar esta situação de guerra civil em uma guerra
revolucionária. O movimento Avakianista esqueceu este fato do
Marxismo-Leninismo-Maoismo e, portanto, em vez de uma formação política,
caiu nas mesmas preocupações e posicionamento de classe de um movimento
liberal comum.
A mesma política de intimidação, de incitar o medo entre as massas,
entrou em jogo na questão das armas nucleares. Na tensão entre o USA e
os soviéticos, ele esqueceu que o camarada Mao fez claramente a alusão
do “tigre de papel”, que ele criticou o revisionismo por temer a guerra
nuclear, desafiando a disciplina do imperialismo ianque ao mostrar este
poder.
Na aguda luta e competição eleitoral entre os grupos do imperialismo
reacionário estadunidense, esta linha política ideológica do movimento
Avakian é a apropriação da bandeira revisionista manchada, suja e
arruinada. Deve ser visto que esta atitude é um resultado típico da
linha revisionista e reformista que engloba a linha comunista e
revolucionária de escala mundial. Os “Avakians” esqueceram, ou, com o
seu ponto de vista burguês, buscaram ocultar, o fato de que as políticas
imperialistas dos governantes em um centro imperialista são a linha
principal, a mais perigosa, e que o alvo principal deve ser a
implementação desta linha imperialista, considerando todos os grupos da
burguesia envolvidos nesta. Ao invés disso, Avakian tem sido um cúmplice
de todo crime que Biden cometerá contra povos e nações oprimidas, a
classe trabalhadora e os trabalhadores estadunidenses, e com seu chamado
às massas, buscando integrá-las na farsa eleitoral, ele tem conseguido
prover, modestamente, munições ao arsenal imperialista.
O medo da “Perda dos Valores Ocidentais” e o Iluminismo!
O que levou a este extremo desvio da linha Avakianista é que, por um
lado, Trump tem estado sob a influência de um debate, de que ele não é
capaz de ampliar as fendas do bloco “imperialista ocidental”, não é
capaz de carregar seus valores burgueses reacionários (os quais ele
carrega o máximo que consegue). A percepção das classes dominantes e
liberais da UE, de que Trump irá destruir os valores “democráticos
universais” que criaram o status quo, elevou o lado positivista e
iluminista deste movimento.
Este movimento acreditava que Trump implementaria políticas
imperialistas, construindo o fascismo, e que isto seria a repetição dos
desastres causados pelo fascismo de Hitler. Não só eles acreditavam
nisso, tal como queriam que essa fosse a realidade. Este é um defeito
político-ideológico herdado do iluminismo.
Foi esquecida a dimensão reacionária dos monopólios imperialistas, a
hostilidade deste sistema contra povos e nações oprimidas, e que os
valores democráticos produzem a reação como um adereço das ambições
imperialistas. Esta preservação implícita do bloco ocidental e dos
valores que ele produz é a forma mais banal de esclarecimento. A
abordagem revolucionária, que deveria enfocar o aprofundamento da
contradição entre as potências imperialistas, foi substituída pelo medo
da dissolução do bloco “imperialista ocidental”. Esta é uma vergonhosa
conformação ideológica.
O Partido Comunista das Filipinas congratula as Eleições no USA!
Entretanto, a confusão nas forças progressistas, revolucionárias e
“comunistas” não se limita à linha Avakian. Com a perda do Trump (e a
vitória de Biden), o Partido Comunista das Filipinas “parabenizou” um
sujeito que ele descreveu como “o povo”, mas cujo endereço é
desconhecido. Em sua mensagem de felicitações, o PCF declarou: “O
povo estadunidense merece elogios por votar contra o presidente Donald
Trump nas eleições presidenciais recentemente concluídas, e evitar
outros quatro anos de fascismo, militarismo, racismo, misoginia e
fanatismo trumpista.”, e declarou em que contexto celebra os
resultados eleitorais. Nas outras partes da mensagem, o PCF embelezou as
ininterruptas políticas imperialistas do USA durante 75 anos, por
motivos que não estavam presentes somente em Trump, e mencionou os
seguintes ataques contra o povo, que foram implementados desde o início
do governo de Trump:
“[Trump] implementou políticas econômicas que promoveram cortes de
impostos e maior concentração da riqueza nas mãos dos capitalistas
monopolistas e causaram o desemprego generalizado, baixos salários,
falta de acesso aos serviços públicos, endividamento, falta de moradia e
outros males sociais a milhões de estadunidenses da classe
trabalhadora.
Sob Trump, o militarismo e a agressão imperialista ianque se
intensificaram. Ele continuou a empregar e expandir as sanções
econômicas contra os países que reivindicavam a independência. Ele
expandiu a “guerra ao terror” do Estados Unidos — USA para impulsionar a
agressão militar ianque.”.
Em última análise, o PCF enviou elogios e felicitações à massa que
apoiou a farsa e manipulação das massas na corrida eleitoral de duas
camarilhas reacionárias de um país imperialista, e que resultou na
vitória de um desses grupos, a camarilha de Biden. Ou seja, aplaudem o
fato das massas terem sido enganadas pelos imperialistas. Objetivamente,
é isto que é celebrado pela mensagem do PCF. Foi criada uma imagem como
se as eleições e o parlamento, ou a competição presidencial, tivessem
uma situação única no USA, que negaria o caráter das eleições, descrito
pelo camarada Lênin. Estas eleições no USA determinaram qual grupo irá
oprimir, explorar, suprimir o povo por quatro anos; estas eleições
determinaram qual grupo imperialista irá matar os povos do mundo e as
nações oprimidas, e liderar os bárbaros e brutais ataques financeiros,
políticos e militares. Nada mais.
A percepção do PCF de que a perda eleitoral de Trump constitui um
sucesso, os levando a aplaudir o resultado, apesar de as eleições
estadunidenses terem sido politizadas o máximo possível e terem ocorrido
em uma grande atmosfera de crise, está diretamente relacionada com o
papel que eles atribuíram às eleições. Foi ignorado o fato de que o povo
foi enganado a escolher entre dois grupos reacionários, e a energia da
luta, a reação ao sistema pelos grupos presentes nessa atmosfera
eleitoral, para a legitimação da política imperialista, quase
desapareceu.
A análise de que “O presidente eleito do USA, Joe Biden, cavalgou
na crista de uma gigantesca onda de movimento democrático de massas que
envolveu todo o país. O movimento Black Lives Matter (Vidas Negras
Importam, em tradução livre) desde o início de maio é a mais recente
manifestação de oposição em massa após o show de resistência em massa
dos trabalhadores estadunidenses, imigrantes, mulheres, jovens e outros
setores da sociedade estadunidense.”, não compreendeu a relação
estabelecida entre o movimento antifascista e as eleições, que deveria
ser estabelecida a partir do ponto de vista dos comunistas. É um fato
que este movimento é um movimento de raiva de classe e reação do povo,
incluindo a crise do sistema que surgiu com a epidemia, a escala das
leis reacionárias, e as novas formas de agressão econômica. É um fato
que um grupo das classes dirigentes do USA manipulou este movimento com
base no medo de Trump, o espectro do fascismo e a ameaça da democracia
estadunidense, e o transformou em um dinamismo através de eleições.
Assim, o movimento reativo, abastecido pelo ódio de classe das
massas, que tem o potencial de sair do sistema, foi atraído para o
sistema através de eleições, e este movimento foi colocado em uma
posição que se fortaleceu na luta do grupo de Biden para se tornar a
camarilha dominante do imperialismo ianque. Aqui, foi esquecido que,
ainda que Trump tenha perdido, os fatos são que um novo grupo
imperialista tomará o poder, com a exceção de que esse novo grupo finge
“simpatizar” com as exigências das massas, e irá aproveitar toda a
energia revolucionária e progressista deste movimento de massas das
ruas, controlando-o em suas mãos.
O PCF está equivocado com a análise do fascismo trumpista. Abordamos
esta questão acima. Trump e a classe que ele representa não prevêem uma
mudança na forma do sistema com ataques mais fascistas e de natureza
mais racista. As políticas que ele seguiu durante 4 anos, os seguros que
foram colocados em ação no mecanismo de estado de funcionamento do
imperialismo ianque, e a necessidade de obediência de Trump a isso
mostrou claramente isso.
Em outras palavras, a determinação do “fascismo” dos ataques
reacionários de Trump e o fortalecimento de sua base de massa com estes
discursos é um sinal de incompreensão da teoria do fascismo apresentada
pelo Marxismo-Leninismo-Maoismo. Todas as linhas de Trump que são
incompatíveis com a orientação do imperialismo ianque levaram ao fato de
que as políticas do USA possui incertezas, e à criação de situações
excepcionais, que seriam incompatíveis com o presidente.
Entretanto, cada vez, no interesse dos grandes monopólios
imperialistas, foi possível encontrar a direção do mecanismo estatal.
Isto, às vezes, veio à tona à custa de enganar Trump (como não
implementar a decisão de retirar tropas na Síria — das declarações de
James Jeffrey) e às vezes à custa de empurrar Trump para uma posição
incoerente. Neste eixo, não há referência à política de quatro anos do
USA sob a administração de Trump, de mudar o regime e o sistema
estadunidense, e transformá-lo em um sistema fascista. Trump não é
essencialmente diferente dos anteriores presidentes do USA. O que ele
representa são os interesses dos monopólios imperialistas do USA, e nada
mais.
Por outro lado, características mais lumpen, mais vulgar, mais
estúpidas, mais imprudentes, menos cuidadosas, mais totalmente
utilitárias [as características apresentadas por Trump — N.T.], não têm
equivalente na orientação política perseguida. Mesmo olhando para a
história recente, não para o período em que os ataques anticomunistas
eram intensos, nos guiará até certo ponto. Deve-se lembrar da linha que
Bush seguiu com o conceito de “Ou você está do nosso lado, ou está do
lado do terrorismo”, até que ponto o Patriot Act, que ele colocou em
vigor em 2001 sob o nome de terrorismo internacional, aumentou a dose do
ataque. O USA tem sido o estado da barbárie imperialista, um sistema em
que cada presidente tem procurado o outro por 75 anos [no sentido de
que cada presidente representa a continuação das mesmas políticas do
governo anterior, mas com a diferença da reacionarização, não havendo
uma ruptura entre o governo de Bush, Obama e Trump, e os interesses que
representam, por exemplo — N.T.].
Isto será entendido quando se olhar para as experiências históricas,
os presidentes do USA e suas ações. Neste eixo, Trump tem seguido
exatamente o mesmo caminho trilhado por seus antecessores. Similarmente,
Biden seguirá o caminho delineado por Trump, dando seus pequenos toques
pessoais, e criando um estilo tradicional de administração estatal.
Neste quadro, o perigo de Trump é ter sido usado para obscurecer os
crimes cometidos pelo imperialismo ianque no mundo em geral [sob a
máscara de “fascismo trumpista”, como se o USA não fosse tão reacionário
em seus outros governos — N.T.]. Os comunistas não devem parabenizar
tal esquecimento, e a perda de um grupo imperialista em troca da vitória
de outro, além do solo fértil apresentado ao novo grupo imperialista
eleito, causado pelas lutas e contradições entre esses grupos. Os
comunistas se concentram claramente nos perigos que assolam o povo, não
desperdiçando a energia revolucionária do povo na luta entre as
camarilhas imperialistas.
Comunistas se opõem a apoiar a energia revolucionária das massas para o sistema!
A competição entre Trump e Biden ampliou a crise do sistema
estadunidense. Foi revelado que o imperialismo ianque e sua democracia,
que é um modelo para o mundo e lidera o sistema mundial, são falsas. A
desconfiança nas eleições foi acompanhada por uma crise e um debate. É
necessário ver a contribuição e a influência de Trump nisso. É
necessário concluir até que ponto o conflito entre os grupos dominantes
cresceu. Neste quadro, os comunistas devem apoiar a exposição do
imperialismo ianque com todas as suas instituições, formações e cliques,
revelando a estrutura podre do sistema e as massas, para empurrar a
opção revolucionária como forma de varrer esta podridão.
A mensagem e a atitude do PCF, ao parabenizar as eleições, será a de
obscurecer o papel e a missão das eleições. Além disso, embora o PCF
tenha escrito uma mensagem de felicitações criticando Biden, estar feliz
com a saída do perdedor Trump serve para criar uma expectativa objetiva
em relação ao governo que está por vir, e desenvolve essa consciência
nas massas.
Apoiamos a luta do povo estadunidense contra a epidemia, o racismo e
os ataques econômicos, a raiva e o ressentimento levados pelas massas.
Encorajamos e advertimos que esta luta não deve ser utilizada por nenhum
grupo reacionário, fortalecendo sua identidade independente,
progressista e democrática.
O camarada Lênin nos disse:
“Somente o proletariado tem a capacidade de alcançar a democratização
completa do sistema político e social, porque colocará o sistema nas
mãos dos trabalhadores”, “a unificação das aspirações democráticas da
classe trabalhadora e a atividade democrática das outras classes e
grupos enfraquecerá o movimento democrático, quanto menos determinado
for, menos enfraquecerá a luta política. Por outro lado, se a classe
operária se destacar como a vanguarda da luta pelas instituições
democráticas, ela fortalecerá o movimento democrático, fortalecerá a
luta pela liberdade política…”
O camarada Lênin seria mais propenso aos talentos e objetivos
políticos do proletariado. Esta ênfase na direção do movimento deve ser
lembrada. Agora podemos adotar a mesma abordagem para o movimento
democrático do povo estadunidense, para uma aliança dos oprimidos, para
sua demanda e ação. O proletariado estadunidense tem a capacidade de
democratizar todo o sistema. É claro que o movimento democrático e
progressista enfraquecerá no ponto em que o movimento democrático do USA
e as forças em luta vacilam contra o sistema, participam dos planos de
outro grupo imperialista reacionário, e vão de mãos dadas com este grupo
reacionário, em vez de criar um movimento mais independente e dinâmico.
O fato de que o movimento popular foi politizado pela competição
eleitoral e enfraquecido pela turma de Biden é óbvio. Isto é uma clara e
decisiva negatividade para os comunistas. Transformar esta negatividade
em felicitações, ao invés de revelar seu verdadeiro conteúdo, sem
dúvida, possui uma relação direta com o ponto de vista sobre o problema.
Em sua mensagem, o PCF diz que:
“A classe trabalhadora e o povo estadunidense devem continuar a se
organizar e se mobilizar em grandes números, para que o governo Biden
aja rapidamente para responder a estas demandas urgentes. As condições
são sempre favoráveis para que os revolucionários proletários fortaleçam
suas fileiras e ampliem o alcance de sua liderança.”.
Com esta mensagem, o PCF estabelece um critério claro de expectativa,
dando conselhos falsos às massas do USA e à vanguarda proletária com
sua missão e responsabilidade da “vanguarda comunista” de outro país. Os
comunistas não confinam a organização e a luta com reivindicações
urgentes, mas vinculam firmemente esta luta à luta pelo poder. Esta
outra tática é o complemento da política cotidiana e de toda uma linha
estratégica. O PCF dá conselhos, quase como um movimento e sujeito
reformista no USA, e toma uma posição estranha contra as eleições,
desnecessariamente. O PCF deveria exigir sua própria luta contra todos
os crimes do Estado imperialista ianque e a luta de todo o povo
estadunidense contra estas políticas imperialistas e o ataque a elas, e
deveria apoiar tais lutas. Isso é extremamente diferente de falar de um
sucesso alcançado nas eleições, especialmente quando tal sucesso vem
como a vitória de um grupo imperialista, como resultado dos conflitos
entre a burguesia do USA. A ideia de que os comunistas obtiveram algum
sucesso nisto é uma falsa consciência do povo do USA e do povo filipino,
um embotamento de sua identidade política independente.
“As táticas reformistaistas são as menos prováveis de
realizar verdadeiras reformas. A maneira mais eficaz de conseguir
verdadeiras reformas é seguir as táticas revolucionárias de luta de
classe”. Nosso conselho para nós mesmos e para todos os povos
do mundo deveria ser esta linha clara do camarada Lênin. Uma linha que
vá além disso não atenderá a demandas urgentes, e o reformista não
conseguirá trazer melhorias. A questão da união com as consignas e
fronteiras da burguesia reformista, muito menos com as consignas de um
grupo de monopólios imperialistas reacionários, é uma questão aberta
para os comunistas.
O camarada Lenin diz: “Ao combinar nossas consignas com as
consignas da burguesia reformista, enfraquecemos a causa da revolução e,
consequentemente, também a causa da reforma, porque desta forma
reduzimos a independência, a coragem e o poder das classes
revolucionárias”. Então, o que aconteceu nas eleições
estadunidenses? Um grupo de classes reacionárias apoiou a burguesia
reformista e a encorajou a seguir uma linha de ação envolvendo a
unificação com o reformismo. Biden obviamente usou isto nas eleições e
obteve resultados. No momento em que os comunistas deixarem claro sua
oposição a esta atitude de classe vacilante da burguesia reformista,
eles determinarão mais fortemente como e até que ponto ela lutará contra
os representantes das classes contrarrevolucionárias. Caso contrário,
os grupos reacionários enfrentarão o perigo de perder toda sua
identidade e independência no pior estado de colaboração de classe, com
táticas erradas na luta pelo poder. Isto é o que o PCF tem feito.
Enquanto a fusão do proletariado estadunidense e das massas populares
com a linha de Biden nas eleições, e seu apoio de Biden, é um ponto onde
devemos criticar, avisar e esclarecer as linhas políticas, o PCF trata
isso como motivo de celebração.
Esta linha não é uma mensagem verdadeira e boa para os
anti-imperialistas ou mesmo para os oprimidos. Torná-los inconscientes a
ponto de apoiarem governantes imperialistas, no ápice de seus conflitos
internos, seria complicar os fatos já complicados, em vez de
esclarecê-los. Esta atitude paralisará a linha anti-imperialista. Ela
causará rupturas na luta e nas ações independentes das massas, e abrirá
as portas para as linhas reformistas e colaboracionistas de classe. Mais
importante ainda, alimentará e ampliará a linha direitista que está
explodindo dentro das forças revolucionárias-democráticas em todo o
mundo.
Conclusão
As eleições estadunidenses foram politizadas para desenvolver um medo
a Trump. Trump, por outro lado, quis se proteger se alimentando da veia
anticomunista e ossificando a camada social com um forte terreno
reacionário. Neste eixo, o Estado ianque conquistou seus monopólios
imperialistas. Em uma ponta, Trump com Biden em uma ponta, a reação foi
alimentada por Trump e apresentada como “morte” ao público. Já, Biden,
foi apresentado não como “morte”, mas como uma “malária”, e a oposição
popular foi quase pacificamente atraída para o sistema. O processo em
curso é um processo em que a reação está em contínuo progresso dinâmico.
Neste contexto, ao preservar a essência do dado regime dos estados, os
oprimidos são arrastados contra os grupos que, relativamente, usam mais
da retórica reacionária, e contra os grupos que são relativamente mais
brandos e não precisam clamar, mas tentam sentar-se ao leme do mesmo
sistema.
Erdogan criando medo na Turquia, um homem contando histórias que o
fascismo, que está em funcionamento há 97 anos, é justificado pelo seu
grupo reacionário, grupo esse arrastado às eleições, pelas massas. O
entendimento liquidacionista de todos os tipos está na influência e no
vórtice de uma linha que acredita que tudo muda com as eleições, e que
faz as massas acreditarem nisto, que faz as massas acreditarem que sua
luta consiste em agir nas eleições.
Esta é uma situação em que sofrem os sujeitos que se dizem
progressistas-revolucionários-democratas, e até mesmo os próprios
comunistas. O posicionamento político baseado na distinção de classes e a
formação ideológica é esquecida, e ao invés do desenvolvimento, do
empoderamento, e do poder da ação independente, da identidade do
proletariado e dos oprimidos, as massas são arrastadas para uma linha
que se limita a um seguidismo do reformismo, que se limita a uma
“vanguarda do atraso”, e os faz acreditar que o sistema mudará através
das eleições. Isto é também o que acontece nas eleições estadunidenses.