A inolvidável memória de Sandra Lima
Matéria publicada em AND nº 176,
páginas 15 e 16, na ocasião do seu falecimento. A reproduzimos agora por
ocasião do 62º aniversário do natalício da grande
dirigente revolucionária Sandra Lima, completos neste 6 de março de
2017.
Citando Sema Tsien, escritor da China antiga, Mao Tsetung assinalou que embora
a morte colha a todos igualmente, a morte de alguns tem mais peso que o
monte Tai, enquanto que a de outras pesa menos que uma pena. Morrer pelos interesses do povo tem
mais peso que o monte Tai, mas empenhar-se ao serviço dos fascistas e
morrer pelos exploradores e opressores do povo pesa menos que uma pena (Servir ao povo, 8 de setembro de 1944).
Na noite de 26 de agosto, cumpriu-se um
mês do falecimento da companheira Sandra Lima. Em seus funerais, no dia
27 de julho passado, a intervenção da Frente Revolucionaria de Defesa
dos Direitos do Povo(FRDDP), organização que Sandra foi uma das
fundadoras e dirigentes, impactou todos profundamente. Em suas palavras
finais, o dirigente da FRDDP conclamou todos “aqueles que conviveram e
que a conheceram, que a conhecessem mais, conhecessem mais as suas
ideias, que conhecessem mais da sua causa, que conhecessem mais essa
grande mulher”.
À sua inolvidável memória e trajetória de
militante revolucionária dedicamos as nossas duas últimas edições e
também a atual. Tivemos a oportunidade de desfrutar da casualidade
histórica de o AND — desde seu surgimento e durante
seus primeiros 15 anos — poder contar com a companheira como
colaboradora e propagandista, e de poder, com ela, participar de debates
e lutas, além de absorver um pouco de sua experiência acumulada ao
longo de mais de quatro décadas dedicadas à luta dos povos brasileiro e
de todos os países.
E foi com grande honra que recebemos o
convite para o ato em sua homenagem organizado pelo Movimento Feminino
Popular (MFP), realizado no último dia 26 de agosto, em Belo Horizonte
(MG).
No salão repleto da Escola Popular
Orocílio Martins Gonçalves, a bandeira vermelha do MFP se destacava
sobre a mesa ornamentada com flores vermelhas e amarelas. Faixas com
consignas revolucionárias e o vai e vem de jovens vestidas de camisetas
brancas e com lenços vermelhos estampados com a sigla do movimento —
ativistas da juventude forjada por Sandra Lima — iam e vinham com passos
rápidos e decididos nos últimos preparativos para o ato.
As organizações populares, democráticas e
revolucionárias nas quais e junto das quais Sandra lutou a maior parte
de sua trajetória estavam presentes à mesa, cuja Presidência de Honra
foi ocupada pela Liga Operária. Além das diversas organizações
presentes, lá estavam pessoas que conviveram e lutaram com a
companheira, familiares e amigos. Operários, camponeses, professores,
estudantes e famílias proletárias da Vila Corumbiara e da Vila Bandeira
Vermelha — ocupações urbanas de Belo Horizonte e Região Metropolitana,
cujas batalhas por moradia contaram com a intensa e decisiva atuação de
Sandra Lima em seu apoio, propaganda e, sobretudo, mobilização,
politização e organização das mulheres nessas lutas.
Foram citadas as mensagens enviadas por diversas organizações de outros países em honra à memória de Sandra Lima como o blog Dazibao Rojo (Estado espanhol), Movimento Feminista Proletário Revolucionário (Itália), Comitê de Redação do Periódico El Pueblo (Chile),
Associação de Nova Democracia (Alemanha), Frente Revolucionária do Povo
(Equador), entre tantas outras enviadas por companheiros e amigos.
O hino dos trabalhadores em todo o mundo, A Internacional, foi cantado de pé, solenemente.
A Frente Revolucionária de Defesa dos
Direitos do Povo fez um pronunciamento resgatando a trajetória da
companheira, desde a sua infância no interior de Minas Gerais e sua
forja como destacada militante revolucionária e dirigente do Movimento
Feminino Popular. Em cada marco da trajetória de Sandra Lima, ativistas
recitaram poemas de sua autoria que revelavam toda a sua inquietude
pulsante, indignação e firme convicção na necessidade de uma
transformação radical da sociedade. Foi destacado seu otimismo, sua
confiança nas massas e em sua organização, sua conduta firme no combate
ao oportunismo de forma indissociável do combate ao imperialismo e toda a
reação. A combatividade e firmeza com que sempre enfrentou os inimigos
de classe e os problemas de saúde que fustigaram seu corpo durante
décadas sem fazer vergar sua decisão revolucionária. A solidez
ideológica da dirigente revolucionária que, incansavelmente, fustigou e
conclamou as companheiras a combaterem a auto-subestimação, a se
formarem como quadros ideológicos e políticos, a servirem sem reservas
ao povo e as suas lutas.
Ativistas do MFP fizeram uma apresentação
especial do hino do Movimento Feminino Popular portando a bandeira do
movimento e uma foto de Sandra Lima. Elas expressaram em sua organização
e evolução compacta a organização necessária para as massas destruírem o
velho e construírem o novo.
Um
grupo cultural apresentou, ao longo da homenagem, canções populares e
revolucionárias, em homenagem a companheira que sempre foi uma grande
entusiasta e admiradora da cultura popular-revolucionária em todas as
suas expressões.
Também foi exibido um belo vídeo com
imagens da atuação de Sandra Lima em lutas como a pela punição dos
criminosos militares e civis, mandantese executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados
do regime militar fascista; sua participação em reuniões com mulheres
trabalhadoras na cidade e no campo e seu papel destacado como fundadora e
formuladora da linha revolucionária do Movimento Feminino Popular; sua
atuação junto às famílias proletárias em luta por moradia e outros
direitos. As imagens revelaram a dedicada mãe e avó revolucionária e a
militante que, paciente e inquieta, consagrou-se como poucos a educar as
novas gerações no fogo da luta de classes e na ideologia científica do
proletariado.
Essa última característica,
especialmente, ficou marcada na fala de uma jovem camponesa. Vinda
especialmente de Pernambuco para a homenagem, com seu forte acento
nordestino e com simplicidade, ela disse não ter conhecido pessoalmente
Sandra Lima, mas muito ouvira sobre a dirigente. Como ativista do MFP,
expressando a mesma firmeza de Sandra Lima, ao falar da dirigente,
primeiramente tímida, mas encorajando palavra após palavra, afirmou: “A
firmeza com que as companheiras gritam nas reuniões, Despertar a fúria revolucionária da mulher!, é isso que a companheira Sandra Lima nos ensinou e vamos levar conosco. É isso que vamos fazer!”.
Camponesas de diversas regiões do país,
dirigentes regionais e ativistas do MFP foram à frente e destacaram a
passagem marcante de Sandra Lima em suas áreas, para realizar reuniões e
encontros que deixaram lembranças e exemplos. Reafirmaram perante os
presentes o compromisso de continuar o trabalho da dirigente.
À convocação de uma jovem militante, as
ativistas do MFP, portando braçadeiras e lenços vermelhos,
perfilaram-se. Ao longo de sua construção, o Movimento Feminino Popular —
a exemplo de outras organizações classistas do movimento revolucionário
proletário — adotou seu Juramento de Honra. Nessa noite, em homenagem a
sua fundadora, o MFP fez pela primeira vez o seu, repetido em uníssono
pelas ativistas de punhos erguidos.
Os acordes da canção revolucionária italiana Bella Ciao
se elevaram no salão: “Numa manhã de sol radiante, ó Bella Ciao, Bella
Ciao, Bella Ciao! Numa manhã de sol radiante, terei nas mãos o opressor!
É meu desejo seguir lutando…”.
Encerrando o vibrante e emocionante ato,
todos os camponeses presentes cantaram o Hino da Revolução Agrária e
todos repetiram seu refrão com entusiasmo e imbuídos do exemplo
combativo da grande revolucionária Sandra Lima: “Já chega de tanto
sofrer, já chega de tanto esperar. A luta vai ser tão difícil, por mais
que demore vamos triunfar!”.
O materialismo dialético e histórico nos
ensina que uma vez que as massas aprendam a ideologia científica do
proletariado, esta se converte em uma força material capaz de
transformar o mundo, uma força sob cujo impacto toda a velha
superestrutura e ideologia é posta abaixo. A presença impactante de
Sandra Lima se fez sentir naquela noite de forma intensa expressada por
aquelas e aqueles que empunham suas bandeiras de luta, seus
continuadores.
“Companheira Sandra Lima: presente na luta!”