Reproduzimos
nota emitida pela Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia
Ocidental denunciando mais um crime da polícia militar de Confúcio/Ênedy,
em Rondônia, desta vez contra camponeses de Cabixi. Mais informações serão
atualizadas no Blog da Redação ou na próxima edição de AND
(nº 187).
Camponeses do
Acamamento Igarapé Preto denunciaram que no último dia 26 de março, 8 policiais
das polícias militar e de fronteira, em duas viaturas, realizaram blitze
abusiva no entorno do acampamento. De forma agressiva eles abordaram quem
passava na estrada e tentaram humilhar e intimidar dizendo calúnias e ofensas
do tipo: “São vocês que estão indo levar dinheiro para manter o acamamento de
pinga?”, “Então você faz parte daquela máfia, daquela bandidagem, daqueles
vagabundos?” Toda esta ação criminosa ocorreu em frente a uma igreja de uma
área de posseiros vizinha ao acampamento e assustou os moradores que assistiam
à missa.
Quatro
camponeses foram levados para a delegacia e liberados em seguida. Segundo
notícia na imprensa vendida, um deles estava portando um revólver. Nenhuma
palavra sobre os bandos de pistoleiros que atuam a serviço dos latifundiários
da região. E como sempre, a polícia não vistoriou as sedes dos latifúndios,
provando mais uma vez que o governador Confúcio Moura (PMDB) e o comandante
geral da PM Ênedy Dias e suas tropas são cães de guarda do latifúndio em
Rondônia.
Latifundiário, gerente e pistoleiros da fazenda acumulam crimes, mas seguem
impunes
Os camponeses do
Acampamento estão lutando pela fazenda Igarapé Preto / Pontal do Cabixi,
conhecida como Codrasa, de 15.241 hectares, localizada no município de Comodoro
(MT). Sabe-se que antes da fazenda, as terras eram se seringueiros. Léo
Manieiro, empresário que mora em Cajamar/SP, é quem se diz o dono da fazenda.
Comenta-se na região que o gerente da fazenda transformou-a num ponto de
tráfico. Anos atrás, o Exército encontrou uma pista de pouso, droga, arma e
avião escondidos no mato, fato inclusive noticiado na imprensa.
Também há
denúncias de ex-funcionários da fazenda que não receberam direitos
trabalhistas. E que Léo Manieiro também tinha uma mineradora no estado de São
Paulo, onde igualmente não pagou direitos trabalhistas aos funcionários.
Em novembro de
2008, o Incra realizou uma vistoria preliminar, onde consta: “Por estar
em faixa de fronteira, cabe à União (Incra) verificar se os títulos dominiais
que deram origem ao imóvel foram expedidos corretamente. MT efetuou milhares de
alienações e concessões de terras devolutas na faixa de fronteira, comumente
denominadas de ‘a non domino’ daí porque carecem de
convalidação estabelecida na lei 4947/66.” A fazenda faz fronteira com
a Bolívia.
Em audiência em
Comodoro, o gerente Silvino afirmou que a fazenda tinha apenas 30 alqueires de
pasto formado, o resto era de pasto nativo, e que tinha apenas gado arrendado.
A vistoria confirmou, atestando se tratar de grande propriedade improdutiva,
com apenas 219 novilhas, 5 equinos, 6 asinino, 2 muares. Mas terminou dando
parecer contrário à desapropriação do imóvel para reforma agrária.
Vizinhos
comentam que os técnicos do Incra sequer foram na fazenda fazer a vistoria,
ficaram churrasqueando numa fazenda vizinha, acompanhados da PF e Exército.
Foram apenas numa parte da fazenda, uma ilha, onde acharam muitas armas.
Policiais federais não quiseram apreendê-las, alegando não estarem ali para
isso e os soldados do exército foram coniventes. O caseiro comentou sobre isso
na cidade e cerca de 3 dias depois, apareceu morto. A conclusão dos camponeses
é que o parecer foi contrário à destinar as terras para reforma agrária para
favorecer outros latifundiários vizinhos que já vinham tentando grilar as
terras de Léo Manieiro para incluí-las em suas propriedades, como reserva em
bloco delas.
Camponeses
denunciam que já ocorreram várias mortes na fazenda, mesmo antes da primeira
invasão, a maioria de funcionários. Um dos corpos foi encontrado por
pescadores. Mas nenhum dos crimes foi investigado e ninguém foi preso.
Comenta-se na
região, que em 2004, José Paulo de Souza virou chefe de pistolagem da fazenda
em troca de 20% da área. Ele também arrendou o pasto da fazenda. José Paulo foi
um dos pistoleiros assassinos da Batalha de Santa Elina, conhecida como
Massacre de Corumbiara.
Tomar todas as terras do latifúndio!
No final
de 2002, mais de 200 famílias invadiram a fazenda pela primeira vez,
cortaram as terras por conta, construíram casas, estradas e criaram a
Associação Pequenos Produtores do Igarapé Preto. Os camponeses derrubaram e
queimaram cerca de 1.200 alqueires, onde produziram vários tipos de roças e
criações.
Em outubro de
2004 policiais militares e oficiais da “justiça” foram cumprir uma ordem de
reintegração, derrubaram os barracos, despejaram cereais, queimaram pilhas de
arroz. O latifundiário colocou 30 pistoleiros defendendo a área. Os camponeses
acamparam no município vizinho, Cabixi, no Cone Sul de Rondônia, mas como
estavam na beira da estrada, uma a uma, as famílias foram desanimando e
abandonaram até acabar o acampamento.
Em 2016,
apoiados pela LCP, várias daquelas famílias, e outros camponeses sem terra ou
com pouca terra, se organizaram para retomar a luta pelo direito sagrado à
terra, com mais consciência, organização e combatividade.
Conclamamos a
todos camponeses, estudantes, professores, trabalhadores em geral, pequenos e
médios comerciantes, especialmente do Cone Sul de Rondônia para apoiarem os
camponeses do Acampamento Igarapé Preto e para denunciar mais um crime
comandados pelos fascistas Confúcio e Ênedy.
Lutar pela terra
não é crime!
Terra para quem
nela vive e trabalha!
Jaru, 05 de
abril de 2017
LCP – Liga dos
Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental