Jailson de Souza
Um referendo sobre o
desejo da população em declarar a independência da Catalunha – região
submetida ao Estado espanhol – aflorou os ânimos na velha Europa. A
consulta, convocada pelo governo autônomo da região da Catalunha e
proibida pelo governo espanhol, foi realizada no dia 1º de outubro em
toda aquela região.
O resultado foi o esperado: 90% dos
votantes manifestou-se a favor da independência. A participação foi de
43% dos aptos a votar. O referendo realizou-se apesar da brutal
repressão do governo da Espanha, que enviou policiais para esmagar o
evento com violência, agredindo mulheres e jovens covardemente. Ao menos
800 pessoas ficaram feridas.
Com a repressão, uma onda de greves e
protestos explodiram na região. No dia 02/10, uma greve geral mobilizou
as massas e paralisou 80% de todos os serviços e empresas da região. Um
dia depois, mais de 300 mil pessoas marcharam pelas ruas de Barcelona –
capital da região – para condenar a repressão colonial do Estado
espanhol.
Em defesa da independência, jovens
ocuparam a Universidade de Barcelona. “Não queremos ser um país ocupado”
e “Adeus Espanha” gritavam os jovens em catalão, segundo a imprensa
local.
A Catalunha é uma região autônoma, assim
como a Galícia, País Basco e outras. São povos dominados há séculos
para a unificação do Estado espanhol e sempre lutaram pelo direito de
autodeterminação.
Independência esbarra na direção
A luta das massas populares da Catalunha
esbarra na direção da burguesia catalã, que está conduzindo o processo e
acirrando a contradição com a burguesia imperialista do Estado
espanhol. Também os principais países imperialistas europeus, Alemanha e
França, afirmaram em declarações que não reconhecerão o processo de
independência catalão.
A burguesia catalã está impulsionando o
nacionalismo com o objetivo de pressionar e ganhar mais na divisão dos
recursos do Estado espanhol. Para tanto, está se valendo de seu peso
econômico no país.
As pressões da burguesia catalã
iniciaram-se em 2010, com os reflexos mais bruscos da crise imperialista
de 2008, agravando-se agora. Segundo o El País, a Catalunha
representa em torno de 19% do PIB do Estado espanhol, superior a Madri
(18,9%), abrigando 16% dos habitantes do país. O índice de desemprego,
em 13%, também é abaixo da média nacional, que está em 17%.
Soma-se a isto o peso comercial:
Catalunha é a principal região exportadora, responsável por 25% das
exportações ano passado, atraindo cerca de 14% dos investimentos
estrangeiros no país em 2015.
No entanto, a saída da Catalunha também
afetaria a economia de sua própria burguesia. Só por realizar este
referendo, mais de 20 monopólios sediados na região se deslocaram,
receosos com a instabilidade política ocasionada por uma independência –
e este é o limite da burguesia catalã. Por isso que, no dia 11/10, na
“declaração de independência”, o governo regional suspendeu os efeitos
da mesma em nome do “diálogo”.
Por outro lado, para as massas catalãs,
uma independência nas mãos da burguesia local não alteraria na essência a
sua condição de exploração e opressão, já que não se daria num processo
de revolução socialista em toda Espanha e nem tornaria a Catalunha uma
república socialista.