Estudantes ocupam universidades por todo país e ExNEPe convoca dia nacional de mobilização (atualizado em 14/12)
Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND
Estudantes de todo o país estão realizando ocupações e manifestações contra os novos bloqueios no orçamento de R$ 244 milhões para as Universidades e R$ 208 milhões para os Institutos Federais (totalizando R$ 452 milhões), feitos pelo governo militar de Bolsonaro no dia 28 de novembro, durante jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo. Neste momento, os estudantes ocupam a reitoria da Universidade Estadual de Maringá (UEM), duas universidades no Rio Grande do Sul, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Universidade Federal do Pampa (Unipampa), uma em Santa Catarina, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e uma em Espírito Santo, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe) também convocou, para o dia 12/12, um dia nacional de combate ao corte de verbas na Educação.
A onda de ocupações de universidades teve início no mês de outubro deste ano, logo após os cortes de R$ 328 milhões pelo governo militar de Bolsonaro, no dia 30 de setembro. Sob a direção da ExNEPe, vitoriosas ocorreram na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A resposta contundente dos estudantes dirigidos pela ExNEPe fez o governo militar recuar com os cortes naquele momento. As atuais ocupações e lutas em curso no mês de dezembro indicam o desenvolvimento destas formas de luta com a qual milhares de estudantes estão se mobilizando e impedindo o fechamento de suas universidades.
MEC TENTA ENGANAR LIBERANDO R$ 300 MI PARA EDUCAÇÃO, PORÉM ROMBO É QUASE 4X MAIOR
Diante da resposta decidida dos estudantes em luta, o governo federal repassou R$ 300 milhões ao MEC em 08/12. O MEC afirmou às universidades que usará parte desses valores para pagar “o que falta” do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), contudo não afirmou se essa verba será suficiente para o pagamento dos mais de 257 mil estudantes que recebem auxílio (segundo dados do Censo de Educação Superior de 2021).
Além disso, as universidades precisam de pelo menos R$ 1,121 bilhões para pagar as dívidas pendentes de dezembro, o que inclui pagamento de bolsas de extensão e de pesquisa, salário de terceirizados, contas de água e luz. Além das universidades, o MEC é responsável por pagar as bolsas de mestrandos e doutorandos, que é feita através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – que anunciou não ter condições de pagar os mais de 200 mil bolsistas.
Leia também: ExNEPe: 'Todos às ruas no dia 12/12 contra os cortes e em defesa da Educação Pública e Gratuita!'
POR TODO O PAÍS: OCUPAÇÕES E MANIFESTAÇÕES
Estudantes já ocupam universidades em dois estados, centenas de atos são realizados por todo país, sobretudo a partir da semana do dia 6 de dezembro.
São Paulo:
Na Baixada Santista, estudantes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizaram uma assembleia estudantil para a deliberação de uma resposta ao corte de verbas promovido por Bolsonaro no dia 08/12. Os estudantes, com apoio dos professores, votaram a favor da paralisação geral das aulas no campus até quinta-feira e a formação de um ato político marcado para o dia 12/12.
Manifestação na Baixada Santista, Unifesp. Foto: Reprodução
A mobilização para o ato começou às 8h da manhã do dia 12/12 com a confecção de cartazes dentro do campus da própria Unifesp e um almoço coletivo no Restaurante Universitário. Às 12h, em frente ao campus principal da Silva Jardim, se iniciou a concentração para iniciar uma caminhada até o segundo campus da Unifesp Carvalho de Mendonça que ficava 1km de distância. Cerca de 150 estudantes de diversos cursos, secundaristas e apoiadores se somaram nessa marcha.
Cartazes feitos para a manifestação na Unifesp denunciam cortes e defendem a Universidade. Foto: Reprodução
Ao chegar no segundo campus, os manifestantes se depararam com grande patrulhamento da polícia (incluindo uma viatura do Batalhão de Ações Especiais de Polícia na porta da universidade). Sem se intimidar, os estudantes ousaram paralisar as aulas de professores contrários à mobilização e a luta e conclamaram também a paralisação geral até quinta-feira. O ato durou até 15h onde se iniciou uma audiência pública a respeito dos cortes.
Manifestação na Unifesp. Foto: Reprodução
Brasília:
Em Brasília, no dia 08/12, centenas de manifestantes realizaram um ato em frente ao Ministério da Educação (MEC). Estavam presentes estudantes, professores, profissionais da educação da Universidade de Brasília (UnB), povos indígenas (Tukano, Fulni-ô, Guajajara, Kariri-Xocó, Yawanawá, Avá-guarani, Tikuna e Pankararu).
Durante o ato foram feitas falas contra o sucateamento da educação pública e contra o bloqueio criminoso ao orçamento, apontando como a educação e a pesquisa são sucessivamentes atingidas por cortes enquanto as Forças Armadas esbanjam salários exorbitantes e ainda tentam passar a compra de blindados no custo de 900 milhões de Euros (equivalente a r$ 5 bilhões), valor superior ao que foi bloqueado para as Universidades e Institutos Federais.
Os manifestantes conseguiram bloquear o trânsito do Eixo Monumental, sentido Rodoviária do Plano Piloto, mas a Polícia Militar (PM) do Distrito Federal, após negociar com as organizações do oportunismo, conduziram o bloqueio para duas faixas apenas, onde os estudantes se dirigiram em direção ao Congresso Nacional.
Houve a prisão de um jovem pela PM acusado de pixar "Fora Bozo" em uma das paredes do MEC.
Rio de Janeiro:
No dia 7 de dezembro, milhares de estudantes, professores e técnico-administrativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tomaram as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro contra os cortes de R$ 452 milhões da verba da educação pelo governo militar de Jair Bolsonaro e generais. Os manifestantes denunciaram o corte como mais um ataque à educação pública, gratuita e que sirva ao povo e defenderam a greve de ocupação para resistir aos ataques.
A manifestação iniciou em frente ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCS) da UFRJ, no Largo de São Francisco, Centro do RJ, onde os milhares de estudantes e trabalhadores da educação, entre docentes e técnico-administrativos, se reuniram em preparação para o ato. Durante a concentração, ativistas do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) denunciaram que, além dos cortes de verbas de dezembro, os terceirizados da UFRJ estão sem receber há dois meses. Eles defenderam que, em uma próxima manifestação, a comida do Restaurante Universitário (RU) fosse impedida de chegar ao “bandejão” (como é chamado o RU) e fosse distribuída pelos próprios estudantes, para que os terceirizados pudessem tomar parte na luta em defesa de seus direitos.
Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND
Após a concentração, a manifestação passou por pontos importantes da cidade, como o Largo da Carioca, e rumou até a Cinelândia. Vias importantes do centro foram bloqueadas pelos estudantes em luta, que receberam amplo apoio dos trabalhadores e trabalhadoras do centro do Rio de Janeiro. Uma faixa erguida pelos ativistas do MEPR convocava os estudantes a Defender a UFRJ com unhas e dentes! Contra os cortes: Greve de Ocupação!. Gritos de ordem como Ir ao combate sem temer, ousar lutar, ousar vencer!, É greve, é greve, de ocupação! Nem sucateamento nem privatização e Avante, avante, avante juventude! A luta é o que muda, o resto só ilude! foram exclamados pela juventude em luta.
Uma equipe de reportagem do AND esteve presente e conversou com os estudantes e trabalhadores sobre como os cortes afetam suas áreas e pesquisas.
A professora Fátima Siliansky, docente da UFRJ e presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) também concedeu uma entrevista ao AND:
– O fato é que embora essa seja uma atitude que foi feita por esse governo, nada impede que a situação de crise que o país passa, no qual não há, dentro dos marcos desse sistema de capitalismo burocrático, uma saída diante disso. Nada nos vai garantir que as universidades no ano que vem não estarão também com seu orçamento comprometido. A unidade, a luta, a perspectiva da greve de ocupação é fundamental para mostrar que a gente não vai aceitar isso.
– [Afeta] muitas aulas práticas que a gente precisa, saídas de campo, e principalmente a presença dos alunos, que tem muitos que nem conseguem chegar na universidade – relatou uma estudante de biologia da UFRJ.
Taíssa, professora de Arquitetura da UFRJ, relatou que os ataques à educação não são de hoje:
– O problema não é só a gente não estar recebendo bolsa agora. É uma quantidade enorme de pesquisadores que trabalham sem bolsa porque já foram cortadas há ó… Esse corte vem acontecendo há décadas.
Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND
Os estudantes e professores também denunciaram que, apesar dos cortes terem sido feitos pelo governo de Bolsonaro e generais, os ataques à educação devem continuar nas próximas gestões.
Policial militar fotografa rosto de estudantes que protestavam contra cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND
Trabalhador fotografa manifestação em apoio ao ato. Foto: Banco de dados AND
Trabalhador compra a edição número 250 de AND, na manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND
Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND
Paraná:
O Diretório Central dos Estudantes da UEM, Gestão UEM Presente, ocupou a Reitoria da universidade junto de centenas de estudantes no dia 08/12. A ocupação ocorreu em meio a uma manifestação durante uma reunião do Conselho de Administração, os estudantes exigiam a contratação de professores para sanar as necessidades dos cursos e estudantes, contra a privatização dos Hospitais Universitários no Paraná e contra os cortes realizados pelo governo militar de Bolsonaro e generais.
Indo em manifestação até a Reitoria da universidade, os estudantes foram recebidos com as portas fechadas. Não desistindo de reivindicar suas exigências, as centenas de estudantes continuaram a entoar as palavras de ordem Para barrar a privatização, greve geral de ocupação! e Ô reitoria, deixa eu entrar, se não abrir, eu vou ter que derrubar!. Os estudantes conseguiram entrar na reitoria e lá estabeleceram a ocupação. Foram distribuídos, no local, panfletos com os títulos Reitoria Ocupada - Exigimos o pagamento imediato das bolsas! Barrar os cortes na educação com greve de ocupação! e Construir uma vigorosa onda de ocupações por todo o Brasil para barrar a privatização da educação pública!
Estudantes da UFPR também ocuparam o prédio do curso de Psicologia. Em nota, o Centro Acadêmico de Psicologia, Gestão Edson Luís, afirmou: "Após uma vitoriosa manifestação, que contou com cerca de 50 estudantes da UFPR, UTFPR, PUC e outras instituições de ensino, os mesmos se dirigiram ao Prédio Histórico da UFPR e ocuparam o segundo andar do bloco de psicologia. A Frente Estudantil Contra a EaD junto aos estudantes dos cursos de psicologia, pedagogia, filosofia e outros cursos, tiveram ação fundamental na organização dos protestos e da ocupação!". Além disso, eles exigem a contratação de professores para o curso de Psicologia, assim como reivindicam que os Restaurantes Universitários não sejam fechados no período de dezembro, tendo em vista que, devido aos cortes orçamentários recentes a universidade não tem verba para pagar os auxílios que prometeu aos estudantes que necessitam do RU, assim como exigem o aumento da bolsa-emergencial de R$300,00, que não supre a demanda para a permanência estudantil. Ademais, reivindicam que todos os cortes feitos contra as universidades sejam revertidos, que seja feito o pagamento dos bolsistas da CAPES e CNPQ e que toda a verba retirada das Instituições Federais de Ensino seja restituída imediatamente.
Leia também: PR: Estudantes ocupam bloco de Psicologia do Prédio Histórico da UFPR
Santa Catarina:
Na UFFS, campus de Laranjeiras Sul, estudantes independentes ocuparam a universidade em defesa da educação pública e gratuita e contra os cortes, na noite do dia 07/12. Em nota, os estudantes da UFFS afirmaram: “Frente aos draconianos cortes de verbas, tanto recentes, quanto de anos, diversos estudantes da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Laranjeiras do Sul, viram a necessidade de mobilização. O recente corte de verba afetou o pagamento de bolsas e auxílios dos estudantes, fazendo com que muitos nem tenham condições de irem ou de se alimentarem na universidade. Tomando tais ataques como combustível, estudantes independentes de diversos cursos decidiram por ocupar a universidade na noite do dia 07/12. Uma vez garantida a ocupação, foi formado um Comando de Ocupação, estabelecidas regras da Ocupação e um cronograma completo para o dia 08/12. O cronograma conta com atividades de politização e cultura, como rodas de debates, palestras, confecção de cartazes e torneios esportivos. As salas de aula foram todas trancadas, e as atividades da ocupação amplamente divulgadas. A comunidade acadêmica, e externa, está sendo convidada e incentivada a vir para a UFFS."
Os estudantes já realizaram assembleias e palestras, cozinharam as refeições, produziram cartazes, praticaram esportes, entre outras atividades, no dia 08/12, dentro do cronograma. Faixas espalhadas pela universidade exclamavam: Contra os cortes na Educação! Greve de ocupação!
Na UFSC, a universidade amanheceu com barricadas erguidas e os centros de ensino fechados pelos estudantes. Durante o almoço, os estudantes realizaram um "catracaço" para que os alunos pudessem se alimentar de forma gratuita. Os estudantes, além de protestarem contra os cortes na Educação, reivindicam aumento dos investimentos na estrutura da universidade, uma vez que em 2022 ocorreu um incêndio em um dos centros de ensino devido à falta de manutenção e, mais recentemente, vários centros foram bastante afetados, com inundação em diversas salas e laboratórios.
Estudantes constroem barricadas na UFSC durante paralisação em protesto contra os cortes. Foto: Reprodução
Estudantes constroem barricadas na UFSC durante paralisação em protesto contra os cortes. Foto: Reprodução
Rio Grande do Sul:
Na UFPel, estudantes ocupam o campus 2 da universidade desde a noite do dia 06/12, contra os cortes de verbas. Uma das atividades da ocupação foi a realização de uma manifestação estudantil que contou com panfletagem no centro da cidade de Pelotas em 08/12, data em que estudantes de outros estados também se mobilizaram.
Denunciando os bloqueios milionários do MEC contra as universidades e o ataque às bolsas e auxílios estudantis, assim como ao pagamento dos trabalhadores terceirizados, também afetados pelos cortes, a comunidade acadêmica da UFPel rechaçou os cortes. A titular da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), Rosane Brandão, disse que a gestão está apoiando a manifestação, mantendo serviços de portaria e vigilância. "A gente entende como uma manifestação legítima da parte deles", afirma.
Já na Unipampa, estão ocupados os Campi de Bagé, Jaguarão, São Borja, São Gabriel, Itaqui, Caçapava e Dom Pedrito. Desses, apenas um não paralisou suas atividades. O campus de Uruguaiana também paralisou suas atividades no dia 08/12, apesar de não estar ocupado atualmente. A universidade atualmente tem cerca de R$ 2,5 milhões bloqueados.
Espírito Santo:
Na Ufes, estão ocupados os Campi Vitória, São Mateus, Alegre e Goiabeiras. Os estudantes realizarão manifestação às 17h no dia 08/12 em frente ao teatro.
ATOS QUE OCORRERÃO NOS PRÓXIMOS DIAS:
No estado de Minas Gerais (MG), também acontecerá manifestações de pós-graduandos Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade Federal de Lavras (UFLA), em parques e praças das respectivas cidades, assim como em reitorias e centros de convivências das universidades. Ocorrerão manifestações também de estudantes da UFGD, no Mato Grosso do Sul, e da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), UEM, Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Paraná. Em São Paulo, acontecerá uma manifestação de estudantes no Museu de arte de São Paulo, assim como manifestação dos estudantes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, do Campus de São José do Rio Preto e do Campus Botucatu. Na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) também estão marcados atos. Todos eles ocorrerão no dia 08/12.
EXNEPE CONVOCA PARA DIA NACIONAL DE COMBATE AOS CORTES E EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA E GRATUITA
A ExNEPe convocou todos os estudantes, professores democráticos e demais trabalhadores do ensino a combater os cortes de verbas e a privatização em uma vigorosa manifestação nacional no dia 12/12. Defendendo a universidade pública e gratuita e exigindo imediatamente a revogação dos cortes e a restituição das verbas orçamentárias, assim como o imediato pagamento das bolsas e auxílios aos professores e estudantes, a entidade aponta o rumo da luta estudantil. Também acrescenta que as bravas lutas travadas pelo movimento estudantil historicamente, especialmente neste ano de 2022, apontam que “com independência e combatividade somos capazes de impor derrotas ao governo federal e a burocracia universitária e conquistar vitórias aos estudantes, professores e demais trabalhadores do ensino”.