Voltaremos mais fortes e mais preparados!
No final de maio, nós, famílias do acampamento Manoel Ribeiro em Chupinguaia/RO, decidimos por unanimidade em nossa Assembleia Popular nos retiramos de forma organizada das terras da antiga fazenda Santa Elina (Nossa Senhora Aparecida) que ocupamos desde agosto de 2020. Tomamos essa decisão para evitar que ocorresse um novo massacre. Nos retiramos para voltar com mais força e mais organização e não sair mais! Toda a estrutura de organização e mobilização segue vigente e em funcionamento em nossa retirada e deslocamentos: A Assembleia Popular, o CDRA e todas as Comissões de trabalho.
Não nos faltou coragem para enfrentar a pistolagem e o governo marionete dos latifundiários ladrões de terra da União. Resistimos bravamente a todas as investidas covardes que fizeram contra nós. Enfrentamos ataques de todo tipo, e desde o início nunca nos deixaram trabalhar e viver em paz. Tanto a polícia como o bando de guaxebas (vários são policiais pagos pelo latifundiário Toninho Miséria) nunca deixaram de nos atacar, de nos fustigar e fazer ameaças de morte aos moradores da região.
Depois que o bando armado do latifúndio foi preso, o governo do pau mandado coronel pm Marcos Rocha, mandou sua polícia assumir o lugar dos guaxebas para fazer serviço de capangas dos interesses do latifundiário bandido, ladrão de terra da União, e assassino de indígenas e camponeses. O próprio comandante-geral da pm, coronel Alexandre Almeida, durante audiência na assembleia legislativa de Rondônia, entre tantas mentiras e ataques contra nós, falou uma verdade: reconheceu explicitamente que a pm está ali na fazenda Nossa Senhora Aparecida fazendo segurança particular. Usam dos recursos públicos, recolhidos dos nossos impostos, para defender o interesse particular de um latifundiário criminoso, enquanto o povo padece de assistência a saúde, morre de pandemia e passa necessidades.
Desde que o governo de Rondônia assumiu em definitivo o lugar dos guaxebas da fazenda, intensificaram os ataques. Montaram operação de guerra contra nós. Durante mais de mês mantiveram o acampamento sitiado por tropas e viaturas, se utilizaram de helicópteros, avião, drones, disparos de balas de borracha, bombas, gás pimenta, e inclusive disparos de munição real. Em diversas ocasiões a tropa de choque tentou invadir o acampamento, mas foi repelida todas as vezes pela nossa justa e brava resistência. Não satisfeitos em atacar e cercar o acampamento, seguiram cometendo outras ilegalidades, perseguindo, ameaçando e reprimindo moradores e apoiadores do entorno do acampamento, além de terem realizado diversas prisões ilegais, muitas delas com objetivo de intimidar pessoas para caguetar e incriminar o acampamento.
Mesmo com ordem judicial mandando parar os ataques e investidas contra o acampamento, a polícia nunca deixou de nos atacar, e inclusive aumentou seus operativos contra nós. Os ataques foram ainda mais intensificados depois das declarações feitas por Bolsonaro contra nossa luta. A partir daí, elevaram as mentiras e a criminalização da nossa luta, tudo com o objetivo de justificar a repressão ilegal contra nós, e a preparação de mais outro massacre que pretendiam realizar naquelas terras.
Foi nessa situação que os covardes prenderam quatro acampados. Para fazer a prisão, os policiais cortaram os arames da cerca e lançaram as viaturas em perseguição dos companheiros e companheiras até atropelar alguns e prenderem os quatro. Depois contaram a mentira de que a polícia foi emboscada (como isso é possível num pasto, em campo aberto?) e que os acampados teriam feito disparos contra a polícia. Mentirosos como sempre! Como isso é possível se nem arma tinham além de rojões, estilingues, facões e outras ferramentas de trabalho? A arma e cartuchos que exibiram para a imprensa, em fotos da prisão, é prova forjada para incriminar nossos companheiros.
Toda ação injusta e criminosa da polícia contra nós, foi feita totalmente ao arrepio da lei que dizem defender. Mas mesmo assim, sempre que pode o governador pau mandado Marcos Rocha, enche a boca pra falar em “cumprir a lei”. Mas para este descarado defensor de latifundiários os “rigores da lei”, como gostam de afirmar só se aplicam contra os pobres.
Para nós foi ficando cada vez mais claro, e ainda mais após carta branca e reforço vindo do fascista e genocida Bolsonaro, a disposição desse governo serviçal dos latifundiários de cometer novo massacre, jogando contra nós uma força de centenas de tropas sedentas de sangue dos pobres que levantam a cabeça e as encaram com decisão e coragem. Entre nós não faltou quem se dispusesse a enfrentar situação tão extrema e fazer esses criminosos pagarem caro e na mesma moeda. Mas depois de avaliar a situação sabendo dos sinistros planos desses bandidos governantes em derramar sangue do povo em luta, compreendendo que cumprimos uma jornada vitoriosa para a Revolução Agrária, que tanto forjou a todos do Manoel Ribeiro, contando ainda com tanto apoio de nosso povo por todo o país e de companheiros e companheiras de todo o mundo, aos quais desde aqui, agradecidos, saudamos calorosamente com a promessa de seguir firmes no combate, decidimos por nos retirar de forma organizada para voltar em milhares e preparados para varrer os latifúndios da região.
Todo aparato e tantos ataques não intimidaram a ninguém do acampamento e só serviu para treinar e adestrar nosso povo na resistência. Que vergonhoso fracasso dos inimigos do povo! Ao nos retirar fizemos de bobo todo o aparato de guerra montado para nos provocar e justificar outro massacre de famílias de trabalhadores honrados. Nos retiramos, ninguém sabe ninguém viu, debaixo das barbas deste bando de covardes acostumados a matar pobres desarmados. O povo organizado, armado da ideologia revolucionária não se engana com cacarejos de governantes imbecis da laia de Bolsonaro e Marcos Rocha. Atacam o povo com tropas de abestados comandados por energúmenos, estrategistas de massacres de gente pobre desarmada. Ao contrário destes, nós nos retiramos de cabeça erguida com a certeza de que venceremos, pois nossa causa é justa, como é justo se rebelar, convictos de que esta jornada foi só uma das muitas batalhas pela conquista da terra, que ela continua e repetimos: voltaremos!
Estamos convictos de que marchamos no caminho certo, na luta por um pedaço de terra para viver, trabalhar e tirar o sustento de nossas famílias com dignidade. A justeza dessa luta se confirma pelos ataques e gritaria que movem contra nós os latifundiários, o governo, seus porta-vozes e politiqueiros que mamam nas tetas dos cofres públicos e a imprensa lixo de Rondônia. O imbecil coronel Marcos Rocha e o carniceiro de Santa Elina coronel Pachá dizem que somos bandidos perigosos, que a Liga não é movimento social, que não quer conseguir terra para ninguém e sim usar o povo para outros objetivos. De fato, a Liga não luta só pela terra, mas também lutamos por justiça, pelo poder de nova democracia e um Brasil novo para nossos filhos e netos. Pois então senhores que se acham empoleirados no poder, porque não desapropriam as terras para o povo e se livram da Liga? Eis a questão: a Liga não consegue terra e nem nada para o povo não, a Liga é o povo camponês organizado na luta combativa e independente contra a opressão e exploração imposta pelos parasitas da Nação. Quem consegue a terra são as massas organizadas na luta consciente dispostas, como secularmente tem lutado, a empregar todos os meios necessários para conquistá-la. Só as massas têm força para remover todos obstáculos de seu caminho e para transformar a sociedade.
As terras da área Manoel Ribeiro já estão todas cortadas em pequenos lotes para serem distribuídos para as famílias. Porque não desapropriam e distribuem? Não podem, não é capachos dos latifundiários ladrões de terras da União? Só a Revolução Agrária entrega terra aos pobres do campo! A terra foi cortada e os lotes sorteados e apesar de se ter interrompido pela situação dos ataques covardes contra nós, nosso compromisso continua de pé. A luta está longe de terminar, a Revolução Agrária seguirá avançando todo dia um pouco e dará grandes saltos, todos os acampados e aqueles que contribuíram terão seu pedaço de terra.
Esses nove meses de luta na área Manoel Ribeiro nos ensinou muito. As lições que tiramos ali, nos servirão para as novas e maiores batalhas que estão por vir. Na vida diária do acampamento aprendemos a elevar muito mais nossa organização e disciplina de trabalhadores, a resolver problemas e fazer tudo coletivamente com nossas próprias mãos tudo o que a nós diz respeito, sem depender em nada do governo que só se faz presente nas áreas quando é pra garantir os interesses do latifúndio contra os camponeses.
No Manoel Ribeiro as massas decidem tudo coletivamente com discussões e estudos e decisões por votação sobre todos os assuntos tomadas pela vontade da maioria através da Assembleia Popular-AP e aplicadas por seu órgão dirigente o Comitê de Defesa da Revolução Agrária-CDRA, eleito diretamente pelas massas com delegações e mandatos revogáveis no momento que a maioria do seu órgão soberano, a Assembleia Popular-AP, assim os requeira, garantindo assim que aqueles com função de direção se mantenham sempre fiéis a aplicação da vontade da maioria.. Todos têm direitos e deveres em condições de igualdade para todos e todas.
As mulheres elevaram sua participação em todos os níveis de responsabilidades, de base à direção e em todos os assuntos, ademais do respeito e reconhecimento, de combate e educação contra a opressão feminina através do MFP-Movimento Feminino Popular. As crianças destaque especial no amparo da infância, escola e atividades esportivas e recreativas. Para todo tipo de tarefa há comissões de trabalho para encaminhar, sejam os problemas de logística, produção, abastecimento, saúde, educação e atividades culturais, celebrações das datas históricas da luta popular do povo brasileiro e de todo o mundo, dos nossos heróis e heroínas, segurança e defesa, etc. Em relação a saúde, durante todo esse tempo se manteve sobre controle a prevenção sanitária da pandemia e demais cuidados dentro do acampamento.
Nesses nove meses na área Manoel Ribeiro comprovou-se uma vez mais que a organização do povo é muito superior, e é a forma necessária para que a força popular hoje ainda dispersa e desorganizada se converta em potente força organizada e através da sua expansão e multiplicação realizar as transformações que o país precisa.
Nós voltaremos! E voltaremos mais fortes e mais preparados!
Depois dos episódios da resistência camponesa armada em Corumbiara em 1995, juramos que aquelas terras seriam retomadas. Todos os anos seguintes reafirmamos esse compromisso. E depois de 13 anos, em 2008, ocupamos novamente a antiga Santa Elina, mas não pudemos vencer naquela ocasião. Dois anos depois, em 2010, retomamos novamente e dessa vez fomos vitoriosos, garantindo a posse para os camponeses da grande maioria das terras da antiga Santa Elina. Em 2020, ocupamos as suas terras restantes, e mais uma vez, apesar de toda nossa luta, esforços e sacrifícios de todos empenhados nela, a batalha pela sua conquista completa ainda não terminou. Nos retiramos agora para voltarmos mais fortes e nunca mais sair. Essas terras reclamadas pelo sangue indígena e camponês sobre elas derramado, sangue que corre em nossas veias, serão retomadas e entregues às famílias de direito e de fato. Quem viver, verá!
Abaixo a criminalização da luta pela terra! Fim das perseguições, prisões e processos!
Liberdade imediata para os companheiros Ezequiel, Luis Carlos, Estefane e Ricardo!
Abaixo o governo militar genocida de Bolsonaro!
Conquistar a terra, destruir o latifúndio!
Viva a Revolução Agrária! Terra para quem nela trabalha!
Assembleia Popular do Acampamento Manoel Ribeiro
CDRA – Comitê de Defesa da Revolução Agrária
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
Comissão Nacional das Liga dos Camponeses Pobres do Brasil
22 de maio de 2021