Levante de camponeses estremece o Peru! Governo decreta 'intervenção militar'
Em meio a um levante generalizado dos camponeses peruanos, governo decreta intervenção militar. Foto: Apumayo
Centenas de camponeses peruanos estão em luta contra monopólios da mineração. Dentre as ações empreendidas pelas massas em luta destacam-se greves, paralisações, sabotagens com incêndios em instalações e até mesmo confiscos. Desatadas no final do mês de novembro, a luta se espalhou por todo o país, desde os departamentos de Ayacucho, Lima, Ancash, Loreto e Piura e segue ainda em curso.
O Peru é um dos maiores produtores mundiais de prata, cobre e ouro. A mineração é um dos motores da economia do capitalismo burocrático no Peru. E é também uma das maiores responsáveis, junto ao latifúndio sobre o qual se apoia, pela miséria dos camponeses e indígenas peruanos.
Centenas de milhares de camponeses lutam contra tais atividades mineiras, que são classificadas por eles como predatórias. A mineração despeja camponeses de suas terras, obrigando-os a trabalhar em troca de salários miseráveis, em relações, muitas vezes, pré-capitalistas. A exploração de minérios, além de tudo, também devasta o meio geográfico e impede que as terras vizinhas sejam cultivadas, aumentando a parcela de camponeses que são forçados a vender seu pedaço de chão e engrossar as fileiras da massa de assalariados. Tudo no objetivo de enviar em grandes remessas de lucros, oriundos da exploração da força de trabalho na extração das riquezas naturais peruanas para os países imperialistas, sedes das empresas mineradoras.
AYACUCHO: CENTENAS INCENDEIAM MINERADORA
Camponeses incendeiam mineradora Apumayo. Foto: Apumayo
No dia 29/10, cerca de 500 camponeses organizados para reivindicar seus direitos invadiram as instalações da empresa monopolista mineradora de ouro Apumayo, em Ayacucho. Os camponeses exigem o fechamento definitivo das minas Apumayo, Inmaculada (Ares), Breapampa e Pallancata. Desde o dia anterior, mineiros das províncias ayacuchanas de Lucanas, Parinacochas e Páucar del Sara estavam em greve contra as mineradoras imperialistas.
A polícia foi acionada pela empresa imperialista e reprimiu os camponeses com balas de borracha, ferindo pelo menos dez pessoas. Os camponeses então incendiaram os escritórios administrativos, além de cerca de 20 veículos da empresa, uma bomba de mineração, a cantina e uma fábrica de processamento. Além disso, a eletricidade foi cortada e alguns objetos, incluindo explosivos, foram confiscados.
Aterrorizada pela rebelião popular, a mineradora Apumayo alega que os atos foram realizados por “pessoas de fora da província”. Seguindo na busca por falsear a realidade e criminalizar o protesto dos camponeses, a empresa segue afirmando que as ações foram “encorajadas por dirigentes com interesses econômicos que buscam impedir o desenvolvimento de uma atividade essencial para o progresso do país”.
Uma centena de camponeses rumaram no mesmo dia à mineradora Breapampa, também em Ayacucho, e incendiaram uma oficina de manutenção mecânica e apedrejaram os escritórios e dormitórios das instalações.
EM ANCASH, UM BLOQUEIO DE 50 QUILÔMETROS
No mesmo dia, manifestantes incendiaram um caminhão-tanque em meio a protestos contra o monopólio da mineração Antamina. O protesto ocorreu no departamento de Ancash, na comunidade camponesa de Aquia. As comunidades camponesas de Huallanca e a comunidade de Cátac também se uniram à greve.
A Antamina é a maior mina de cobre do Peru. Controlada por um consórcio transnacional, a australiana BHP Billinton (a mesma que controlava a barragem de Mariana, em MG, Brasil, ao lado da brasileira Samarco) e a suíça Glencore. Do depósito da Antamina se extraem cobre, prata e zinco, e ela está em uma das dez maiores minas do mundo em termos de volume de produção, sendo a maior mina do Peru.
No dia 31/10, a mineradora imperialista suspendeu suas operações por conta dos protestos combativos dos camponeses. A Antamina exortou ao governo a "restabelecer a ordem” para retomar o “diálogo entre as partes” e indicou que enquanto “essas condições não se alcancem, não poderemos seguir operando”. Em seguida, o monopólio afirmou que se tratam de “riscos que sentem latentes” e que precisam retornar a um quadro social que seja o mesmo que “sempre permitiu o impulso das obras e projetos para o desenvolvimento em Ancash durante os últimos 20 anos”.
A paralisação foi uma vitória da greve que ocorria na região. Os camponeses paralisaram suas atividades contra a usurpação de suas terras pela mineradora. Cerca de 50 quilômetros da estrada foram bloqueados com pedras, paus e montes de terra para impedir a passagem dos veículos da Antamina.
COMUNIDADE SE ORGANIZA E EMPRESA SUSPENDE ATIVIDADES
Na província de Oyón, departamento de Lima, toda a comunidade local também está organizada em uma greve desde o dia 13 de setembro. Em consequência disto, a empresa Buenaventura apresentou no dia 29/10 um pedido de suspensão temporária de suas atividades na mina de Uchucchacua.
A Companhia de Minas Buenaventura é o maior monopólio de mineração de metais preciosos do Peru.
ESTAÇÃO DE PETRÓLEO TOMADA PELOS CAMPONESES
No município de Manseriche, mais de 200 camponeses e indígenas peruanos estão, desde o dia 04/10, controlando e impedindo o funcionamento de uma estação que produz petróleo. A Estação 5 do Oleoduto Norperuviano, do monopólio burocrático estatal Petroperú, está inutilizada desde então. Ela fica localizada na região amazônica de Loreto.
A greve regional foi convocada pela Federação Nativa Awajún do Río Apaga (Fenara) e pela organização dos Povos Afetados pela Atividade Petroleira (PAAP) e está ocorrendo há mais de um mês. “É o resultado de se haver esgotado as demandas de diálogo na capital de Lima”, afirmou Jorge Pérez, presidente da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep).
Os manifestantes exigem o cumprimento de promessas feitos desde governos anteriores, entre elas, a descontaminação de áreas impactadas pelo derramamento de petróleo. Eles também exigem saúde e educação, com a construção de infraestruturas básicas. A Fenara deu um aviso ao governo a que “não provoquem enviando policiais”.
O bloqueio da estação petrolífera segue até o início de novembro, com a paralisação do serviço de transporte de petróleo bruto. Estima-se que o prejuízo seja de mais de 3 milhões de dólares (quase R$ 17 milhões).
Camponeses indígenas tomam estação de petróleo no Peru. Foto: Reprodução
INCENDIADOS LATIFÚNDIOS COM PLANTAÇÃO DE CANA
Em meio à rebelião desatada por todo o país, dezenas de camponeses invadiram o monopólio Canãbrava, localizada em La Huaca, departamento de Piura. A mineradora burocrática é responsável pela plantação de mais de 100 hectares de cana para a produção de etanol.
A ação de protesto das massas ocorreu no dia 30/10, às 14h, quando camponeses e trabalhadores invadiram a sede da empresa Cañabrava e atearam fogo em veículos e em uma série de bens pertencentes aos reacionários. As massas protestavam contra a queima da cana para a produção de etanol, fato que prejudicava e atingia com muita fumaça toda a região.
“É algo catastrófico! As crianças estão intoxicados com a fumaça dentro de nossas casas. Não temos a quem queixar-nos, não há autoridade!”, denunciou um morador que participou do protesto em entrevista à ATV, do monopólio de imprensa peruano. Os moradores também denunciaram que foram até Lima, capital do país, para procurar soluções e não foram recebidos. Há também reclamações de que a comunidade é prejudicada pela atividade do latifúndio há mais de 10 anos.
Segundo o latifundiário Rocco Zelota, amedrontado pela luta camponesa, as perdas incluem danos e destruição em 100 hectares de culturas de cana de açúcar com o seu sistema de irrigação tecnificado, uma bomba motorizada, um trator, uma escavadora, duas caminhonetes da empresa, uma caminhonete de um fornecedor, quatro motocicletas pertencentes à Caña Brava, uma máquina de quatro rodas, e equipamentos de escritório. O total dos danos estão avaliados em mais de um milhão de dólares.
Rocco Zelota ainda afirmou que está “trabalhando estreitamente com a Polícia Nacional Peruana” que está realizando investigações com os meios para investigação. A Defensoria Pública de Piura afirmou que está realizando uma investigação acelerada do caso e está tratando do caso como “incêndio florestal”.
Veículos do latifúndio são incendiados. Foto: Reprodução
GOVERNO OPORTUNISTA ACIONA AS FORÇAS ARMADAS REACIONÁRIAS PARA REPRIMIR AS MASSAS
O governo do rondeiro oportunista Pedro Castillo decretou intervenção militar de um mês. A “Resolução Suprema 191-2021-IN” autoriza a “intervenção das Forças Armadas em apoio à Polícia Nacional do Peru” com o objetivo de “garantir o controle e manutenção da ordem interna”. O prazo para as operações, que também se darão nas metrópoles de Lima e Callao, são de 30 dias a partir de 29/11.
Foi dito pelo governo oportunista, corporativo e fascista de Pedro Castillo (com o apoio tácito das ratazanas da Linha Oportunista de Direita, revisionista e capitulacionista - LOD - organizada no Movadef) que “o crime organizado ‘superou a capacidade da Polícia’ em Lima e Callao” e que o governo autorizou as Forças Armadas a intervir no “trabalho de segurança do cidadão”. Entretanto, esconde-se e tergiversa que o verdadeiro motivo de tal resolução são as rebeliões camponesas no campo do país, onde ocorre a Guerra Popular, dirigida pelo Partido Comunista do Peru (PCP) em Reorganização Geral, guiado pelo marxismo-leninismo-maoismo, pensamento gonzalo.
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A MÃO CRIMINOSA DO MOVADEF NO GOVERNO
Enquanto o oportunista Pedro Castillo entrega às Forças Armadas reacionárias controle da ordem interna para reprimir as massas populares, as ratazanas do Movadef (conformado por ex-dirigentes do PCP que renegaram do maoismo, do pensamento gonzalo e capitularam da Guerra Popular, encabeçados por Elena Iparraguirre, ou "Miriam") continua, como cúmplice, dando suporte a esse governo. Recorda-se que esse mesmo governo foi responsável pela execução do Presidente Gonzalo, chefatura do PCP, da Revolução Peruana e da Revolução Proletária Mundial; chefe que esses mesmos traidores do maoismo dizem ser "defensores" e "herdeiros".
Segundo o próprio monopólio de imprensa peruano, Pedro Castillo encontrou-se, no início de outubro, com pelo menos 17 dirigentes sindicais oportunistas, dentre os quais figuravam proeminentes dirigentes do Movadef. Esse foi, pelo menos, o segundo encontro do presidente oportunista e fascista com as ratazanas revisionistas.