Tuesday, August 1, 2023

Servir ao Povo: O falso comunismo do PCB e suas lições (Sobre o racha no Partido Comunista Brasileiro)

 EM 

O falso comunismo do PCB e suas lições

(Sobre o racha no Partido Comunista Brasileiro)

Recentemente veio a tona o racha no agrupamento revisionista sob a sigla de PCB (Partido Comunista Brasileiro). Apesar de ser algo cotidiano em organizações revisionistas e trotskistas, que adotam o mesmo critério de unidade burocrática dos partidos liberais e burgueses, é necessário entendermos alguns aspectos, sob um ponto de vista marxista, ou seja, maoista. Se observamos, portanto, a diferença básica e a contradição existente entre estes duas frações, notaremos que: 1) Ideologicamente divergem sobre como abordar as experiências socialistas e o papel de Stalin, a relação com imperialismo russo e chinês também o caminho da Revolução no Brasil; 2) politicamente, divergem do papel a se cumprir por um partido revisionista no contexto nacional e internacional hoje e 3) organicamente, em buscar mais inserção na juventude e no que consideram “minorias”, negros, mulheres, público LGBT etc. Antes recapitularemos um pouco da trajetória deste grupo, desde sua origem.

Origem e trajetória do atual PCB revisionista

Agrupamento que surge a início dos anos 1990 do racha com o que virou PPS (hoje, Cidadania) depois de um longo período de ostracismo e de ter tentado integrar a formação do PT e do PCdoB, em que um grupo de ex-militantes do partidão de Prestes (este surgido nos anos 50 e liquidado pela reação no regime militar fascista) tomam parte na iniciativa de restabelecê-lo com a realização de um convescote revisionista com a consigna de “Muda, PCB!”. Em oposição ao grupo liderado por Roberto Freire, que era a maioria, alguns tomam parte no que consideraram como “reconstrução revolucionaria”. Ambas iniciativas levadas adiante seguiram, contudo, o mesmo caminho: O de serem partidos revisionistas parlamentares de cunho semitrotskista e eurocomunista, com diferenças de nuances, tais como um de ser abertamente anticomunista e “moderno”, rejeitando o termo comunista e adotando base filosófica totalmente adaptada ao liberalismo e o outro seguindo a tradição revisionista do kruschovismo e, posteriormente, do eurocomunismo seguido a filosofia “lukacsiana”. Esta última fração reivindica o nome do partido revisionista histórico e legaliza a sigla PCB. Passou década sem se ouvir falar em PCB, que ficou absolutamente irrelevante no cenário político e na luta de classes. Em 2002 encampam entusiasticamente a campanha de Luiz Inácio e sua frente eleitoral pelega. Em 2003, fazem ‘autocrítica’ na esteira da debandada trotskista do projeto do oportunismo petista, surpresos que ficaram com a ‘Carta aos Brasileiros’, seguido da dose cavalar de pragmatismo político reacionário de se lambuzar na lama da velha política com as crises do ‘Mensalão’ e de alianças com PMDB para saná-las etc. Caem novamente no ostracismo e irrelevância política e, em meio a outros rachas internos que dissolvem sua base sindical, chegam em 2013 coalhando uma linha academicista de ideologia eurocomunista, semitrotskista e cada vez mais adepta do posmodernismo.

Surgimento do atual PCB, em 1993 como partido legalizado no TSE.

Jornadas de junho e crescimento do comunismo entre a juventude

Em 2013, a sigla PCB cumpre um papel vergonhoso. Centristas no ataque ao gerenciamento oportunista do velho Estado, atuam como auxiliares deste e dedos-duros em santa-aliança com PSOL, PSTU e posmodernos de todo tipo, repudiando os “vândalos”, “black blocs” e criticando toda ação revolucionária como “desorganizada”, por isso, são rechaçados nas ruas pela juventude combatente e vão dar “apoio crítico” à Dilma em 2014, sob argumento de derrotar o “fascismo” da candidatura de Aécio Neves.

Contudo, na disputa das decorrências de Junho, aglutinam em torno de seu aparato estudantil muitos jovens, atraídos pela propaganda aberta e legal do comunismo. Sem entrar no mérito da qualidade e linha ideológico-política desse recrutamento, esse é um fenômeno geral que se dá de forma mais ou menos igual em todas organizações políticas, mesmo as da reação, como resultado do agravamento da crise política do país e da elevação geral da politização da sociedade, principalmente da sua parcela jovem e a despeito de alguns personalistas que acham que isso se deve, principalmente, a sua figura e atuação individuais.

O oportunista liquidacionista Jones Manoel

Nestas circunstâncias surge o youtuber Jones Manoel. Já organizado na UJC foi quem soube melhor, dentre os revisionistas, canalizar boa parte da juventude que se interessava por comunismo e por Stalin. Ele é um velho conhecido dos revolucionários, contudo, mesmo antes de 2013. Repassemos um pouco de sua trajetória.

Quando jovem, trotskista, era conhecido nos meios virtuais por seus ataques rasteiros ao Camarada Stalin e às organizações alcunhadas por ele de “estalinistas”. Quando o trotskismo ficou em baixa, vestiu o chapéu de “lukacsiano” com sua crítica semitrotskista de Stalin. Escrevia num blog chamado ‘Jones Makaveli – Teorizando’, alcunha que adotava então. Ali já tentava a tática de ser um ‘polemista’ para ganhar relevância. Numa delas, em “polêmica” com a Frente Revolucionária defendeu que o período da III Internacional, época da vitória do socialismo em uma terça parte do globo, da vitória contra o nazifascismo e da gloriosa Internacional Comunista fundada por Lenin, fora de ‘vergonhosas derrotas para o proletariado’. Desta publicação nunca mais se teve notícia (ver resposta da Frente Revolucionária).

Nesta época, ganhou popularidade no Brasil obras de Losurdo, Ludo Martens, Grover Furr etc., como consequência de uma crescente defesa do Camarada Stalin por parte da juventude combatente (mais ainda desde a chegada de um grupamento de trotskista renegados à gerência do velho Estado) – e não o contrário, como muitos pensam – em que estes tipos de autores, mesmo com sua defesa envergonhada do Camarada Stalin, preenchem uma lacuna de uma geração com pouca ou nenhuma tradição comunista, com baixíssima assimilação da teoria e pouco conhecimento da luta ideológico-política do Movimento Comunista Internacional e no Brasil nos últimos 40 anos, a não ser a partir da perspectiva do trotskismo e de outros renegados. Jones ‘Makaveli’ à época, combatia duramente com seu criptotrotskismo mesmo tais autores, porém, quando o trotskismo e o ‘lukacsianismo’ saiu de moda e perdeu qualquer base social, Jones se tornou ‘stalinista’, mas de fancaria, desta linha de defesa envergonhada de Stalin. Tudo isso sem uma sequer vírgula, linha ou segundo de vídeo de autocrítica sobre suas metamorfoses. Muito mau para quem se diz comunista!

O fato de Jones ser uma metamorfose ambulante não é por acaso, se levarmos em consideração seu histórico de aproximar de organizações de juventude para dividi-las, criar cizânias e do seu espólio, reunir um culto em torno de si mesmo, por parte de incautos e bajuladores. Também não vemos como por acaso ser catapultado e promovido por figuras sinistras da reação como Rede Globo, artistas reacionários degenerados, além de receber dinheiro de organizações imperialistas. Portanto, surpreende zero pessoas dos que tenham compartilhado militância ou ativismo com este Sr., o fato de agora buscar rachar o Comitê Central do partido revisionista PCB. Vemos, sim, que se tempera para ser um político burguês pernóstico e inimigo da classe operária.

As diferenças da fração jonista e o CC revisionista

Entrando mais amiúde nessa disputa, como o enunciado acima, a diferença básica é uma linha política baseada num entendimento da ideologia como marxismo-leninismo, próxima do que ficou conhecida como escola de historiadores revisionistas1 da URSS, do socialismo do século XX e de Stalin e também do atual entendimento do Partido Comunista da China, partido social-fascista, socialista nas palavras, imperialista de fato, ou seja, social-imperialista. Tais partidos na Europa são reformistas burgueses, pró-imperialismo chinês e com base social sindical e de juventude. Os maiores exemplos são, segundo o próprio Jones, o TKP na Turquia e o KKE na Grécia, de tradição da socialdemocracia europeia da II Internacional e do social-imperialismo soviético, depois chinês; enquanto o CC revisionista se coloca pró-imperialismo russo e de tradição eurocomunista e semitrotskista, negando completamente Stalin, a ditadura do proletariado, pendendo mais às frações demoliberais ou demoburguesas do “socialismo”.

No plano nacional, Jones propugna a linha do reformismo desenvolvimentista nacional, tese reformista do V Congresso do P.C.B., que visa desenvolvimento das forças produtivas, enquanto o CC revisionista propugna “revolução socialista já”. Organicamente, Jones claramente busca um partido de massas, com base social na juventude (por isso, deve aderir ao identitarismo e o posmodernismo, armas eficazes hoje para ludibriar a juventude pequeno-burguesa) e o sindicalismo amarelo, bem ao gosto da socialdemocracia, enquanto o CC revisionista quer conservar seu caráter de um partido de acadêmicos e universitários burgueses irrelevante mesmo fora da bolha universitária. É claro que haverá aí teses e posições assumidas, por ambas as frações, que se autoexcluem, ambíguas e sempre variando de acordo com o que seus amos imperialistas estão difundindo, que vão se esgueirando como cobras entre as pedras, isso é característica do oportunismo político, como descrito por Lenin, coisa que ambas frações têm em comum.

Contudo, há que ressaltar que, da parte de Jones, tudo é com objetivo premeditado de tomar o aparato legal do PCB e torná-lo um partido eleitoralmente relevante, que dispute seriamente as eleições. O objetivo no fim, é que ele próprio se torne um político operário-burguês com base de massas. Para isso vai se aliar, como todo político burguês, a algum tipo de imperialismo (hoje é o chinês quem dá as cartas) para servi-lo como lacaio. Muitos podem se perguntar se não seria mais fácil ser abertamente de direita nesse caso e basta olhar para a história do movimento comunista internacional para ver que não, pois as próprias experiências socialistas foram destruídas por dentro. Sempre foi mais eficaz para a burguesia usar elementos das classes trabalhadoras para justamente ludibriar melhor (vide Luiz Inácio!). Sendo assim, o revisionismo ainda é o perigo principal do verdadeiro comunismo. Como se trata de Partido legal, tudo termina como começou e será decidido em litígio burocrático na Justiça (no TSE!), até lá teremos dois grupos revisionistas, ao que tudo indica, pois não parece haver reconciliação (e nem é a intenção de Jones).

De resto, desejamos francamente que a juventude hoje que buscou no PCB a vanguarda da classe operária e direção da revolução e que se deparou com tais métodos sujos de luta interna, bem ao gosto da burguesia, de tapetões, excrescências ao ventilador, intrigas etc., tudo exposto na internet, que veja bem e analise por si a seriedade de quem diz querer uma revolução e que abandone as ilusões e preparem-se para a luta verdadeira, precisamente contra o revisionismo e todo oportunismo e pela verdadeira revolução no Brasil. Agrária, antifeudal, ininterrupta ao socialismo, a servição da revolução proletária mundial.

Equipe editorial Servir ao Povo.

1Neste caso, o termo revisionista, se refere à historiografia que fez a revisão da experiência histórica da URSS, do socialismo e do Camarada Stalin, tais como Losurdo. É uma defesa direitista, contudo.