Wednesday, October 27, 2021

A NOVA DEMOCRACIA BRASIL: RO: Após resistir, famílias despejadas retornarão para a Área Tiago dos Santos!

RO: Após resistir, famílias despejadas retornarão para a Área Tiago dos Santos!

Mesmo em meio ao despejo, os camponeses fazem suas reivindicações de maneira altiva no alojamento improvisado. Foto: Banco de dados AND

Em reunião ocorrida no dia 25 de outubro, mediada pelo Ministério Público (MP) de Rondônia, foi definido que as famílias despejadas de forma ilegal de parte das Áreas Tiago dos Santos e Ademar Ferreira não só retornarão para suas terras, como também terão os ônibus cedidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social e da Família (Sesmaf). 

Tal definição vai ao encontro da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 24/10, que negou o pedido do latifúndio de reconsiderar a suspensão do despejo. 

Por sua vez, a situação favorável que se desenha para a luta dos camponeses das Áreas só se logrou com a própria luta e resistência heroica das famílias, conformando uma situação extremamente desfavorável para o plano dos latifundiários e demais reacionários. Após gastar R$ 1 milhão diariamente, durante mais de sete dias para despejar uma pequena parcela das famílias, o governo do fascista Marcos Rocha e as tropas do secretário José Hélio Cysneiros Pachá (apelidado pelos camponeses de “carniceiro de Santa Elina”) se veem obrigados a assistir o retorno da massa camponesa para suas sagradas terras.

A decisão do STF, por sua vez, está ligada à profunda pugna que abala as entranhas da reação. A briga entre os grupos de poder e as forças reacionárias, como a que opõe a extrema-direita bolsonarista e a direita civil representada no STF, com as sucessivas confrontações, ataques e desrespeito de Bolsonaro e seus seguidores a várias decisões da suprema Corte, produziu condições para que a resistência camponesa arrancasse tal decisão do STF. 

Camponeses cortam novamente a rodovia

No próprio dia 25 de outubro, enquanto ocorria a reunião, uma parte dos camponeses das Áreas realizaram novamente um protesto bloqueando a BR-364, rodovia próxima ao local onde estão as famílias expulsas de suas moradias. O protesto ocorre em meio ao despejo ilegal realizado por mais de 3 mil militares da Polícia Militar de Rondônia (PM-RO) e da Força Nacional de Segurança do governo militar genocida de Bolsonaro.

As famílias exigem a retirada das tropas reacionárias de suas terras, que seguem ali, inclusive montando bases de operações, mesmo após a determinação da suspensão do despejo pelo STF. No protesto, as famílias conclamavam aos moradores da região que passavam pelo local a não se omitirem em denunciar a covardia contra os camponeses.

Parte dos camponeses expulsos pela PM-RO na semana passada foi levada à Escola Santa Julia. Desde que chegaram à escola, as famílias demonstraram alto grau de organização e, indignadas, têm exigido seus direitos de forma coesa. Elas denunciaram a falta de água, de atendimento médico para os doentes e de alimentação. Os camponeses alojados na escola afirmaram que a situação de calamidade é imposta pelo governador Marcos Rocha e sua PM.

 

Reunião com MP

Na reunião com o MP, onde se decidiu o retorno das famílias, estavam presentes representantes de diversas entidades e organizações populares, como a Associação Brasileira de Advogados do Povo (Abrapo), o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Também participaram da reunião representantes das Secretarias Municipais de Assistência Social, de Saúde e de Educação, da Ouvidoria Pública, além do Comandante da PM-RO e do Comandante da Operação “Nova Mutum”. O Incra e o Instituto de Terras não compareceram.

Na reunião, as entidades democráticas repercutiram as denúncias feitas pelos camponeses da ação covarde ocorrida durante o despejo das mais de 800 famílias, que mobilizou mais de 3 mil tropas. Ainda foram relatadas ilegalidades realizadas antes e durante o despejo, como o prosseguimento da operação sem a presença de um Oficial de Justiça. Foram relatados ainda casos de Covid-19 após a chegada das família à escola. Ademais, casas de diversas famílias foram destruídas pela polícia, após as tropas receberem a ordem de suspensão.

Os Comandantes da PM e da Operação deram prosseguimento na criminalização dos camponeses da Área Tiago dos Santos e de seus apoiadores. Ademais, sem qualquer razão lógica razoável, se mostraram indignados com a presença de um Posto de Saúde construído por apoiadores da luta das famílias camponesas dentro da área.

Foi também denunciado, pelos apoiadores da luta pela terra, que durante a ação de despejo as tropas destruíram este mesmo Posto de Saúde e todos os instrumentos que haviam nele, como microscópio e macas, numa atitude arbitrária e covarde. Destruíram ainda o local onde eram armazenados medicamentos. O posto de atendimento mais próximo ficava a 40 quilômetros da Área e para ter acesso a ele, os camponeses precisam atravessar diversas estradas em condições precárias. Muitos camponeses relatam o aumento dos casos de malária entre as crianças, adultos e idosos.

Latifúndio pagou os ônibus usados no despejo

Os Comandantes da PM confessaram ainda que os ônibus usados para despejar as famílias durante a ação foram pagos pelo latifúndio. Ainda não se sabe a origem dos funcionários que auxiliaram na remoção dos itens das famílias despejadas. Esses funcionários estavam todos uniformizados realizando o despejo. Há denúncias de que eles seriam funcionários do latifúndio.