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REDAÇÃO DE AND
13 DEZEMBRO 2021
Honra e Glória Eternas ao Companheiro José Fonseca (Pelé)
Companheiro
José Fonseca, Pelé. Foto: Banco de Dados AND
O Companheiro José Fonseca, o Pelé, faleceu na noite
do dia 8 último, vítima de um infarto, em Couto Magalhães-TO. Passou mal de
tarde e foi para um hospital, ficou em observação por certo tempo e o médico
lhe deu alta. Morreu após chegar em casa. Negligência. Tudo indica que no
atendimento não fizeram sequer o eletrocardiograma, pois se fizessem não o
teriam dado alta. Algumas horas antes de morrer ele postou imagem na cama do
hospital recebendo soro e gravou mensagem dizendo que tinha passado muito mal e
que se não corresse para o hospital teria falecido. Pelo que relatou nesta
mensagem a companheiros, era típico de enfartado. Estava em Tocantins, onde
estava vivendo, mas seus familiares de Rondônia quiseram levar seu corpo para
lá e ser enterrado onde vivem, em Cujubim, próximo de Ariquemes.
Zezão ou Pelé era importante liderança camponesa de
massas, valente democrata revolucionário, partidário e defensor inconteste da
Revolução Agrária e de nova democracia, o mais conhecido militante da Liga dos
Camponeses Pobres; embora desenvolveu sua militância política e na luta pela
terra no estado de Rondônia, atuou em vários outros estados. Logo após da
Batalha de Santa Elina foi criado o Movimento Camponês Corumbiara (MCC) e a
primeira tomada de terra da nova organização foi o latifúndio Primavera, na
região de Theobrama-RO. Na mobilização e tomada lá estava Pelé. De tantas lutas
e ocupação da sede do INCRA na cidade de Jaru-RO, Pelé estava lá, como sempre,
combativo. A luta cresceu com mais e mais tomadas de latifúndio no estado, e
numa destas, na região de Machadinho D’ Oeste, foi criada a Escola da Família
Camponesa, dirigida pelo professor Fausto Arruda. Lá, num fundão do mundo, em
plena selva, funcionava a escola no sistema de alternância da presença dos
alunos num período de 15 dias na escola e outros 15 no sítio da família. As
famílias contribuíam com o que podiam, mas logo a escola produzia todo tipo de
alimento com o trabalho dos professores, alunos e apoiadores e mobilizadores
pela educação. O companheiro Pelé é destacado atuante na defesa da escola e
continuidade da luta pela terra.
Quando a luta interna no MCC recrudesceu entre dois
caminhos, o da luta classista ou o da conciliação, o companheiro Pelé tomou
posição pelo caminho da luta. Assim teve fim o MCC, dando lugar às Comissões
Camponesas de Luta. Os companheiros da Liga Operária e Camponesa (LOC) que
impulsionaram o MCC com os combatentes da Batalha de Santa Elina, em sua
atuação no Norte de Minas Gerais, haviam decidido por separar a organização
segundo as bases do campo e da cidade. A luta já avançara bastante e
amadurecido o entendimento sobre a questão agrário-camponesa, podendo assim os
companheiros operários impulsionarem a Liga Operária, tendo já inúmeros
ativistas camponeses para desenvolver a Liga dos Camponeses Pobres, sendo
criada a primeira seção dela no Norte de Minas. Entre muitos companheiros, Pelé
foi um dos fundadores da LCP em Rondônia.
Pelé tinha seu estilo próprio muito pessoal de relação
com as massas, gostava muito do povo e de sua classe. Era humilde e ouvia a
todos, dizia sempre aos que atuavam de forma autoritária e arrogante com as
massas que as “lideranças devem ser humildes e abaixar a cabeça para as massas
quando elas falam”.
O Companheiro Pelé nasceu no sertão da Bahia, sua
família migrou para Redenção no Pará e depois para Cacoal-RO, quando ele ainda
era jovem. Sua participação na luta pela terra se iniciou com a família e com
apoio da Pastoral da Terra. O latifúndio ocupado pelas famílias entre as quais
estava o companheiro e seus parentes estava sendo atacado diariamente por
pistoleiros. O padre italiano Ezequiel, preocupado com a violência do
latifundiário e contra a opinião dos camponeses, resolveu ir à sede do
latifúndio para discutir com o gerente e foi covardemente executado a tiros. A
revolta do povo foi muito grande e os pistoleiros foram justiçados. Por
influência da CPT, Pelé filiou-se ao PT e tornou-se militante assíduo deste até
conhecer os companheiros da então LOC na tomada do latifúndio Primavera, em
novembro de 1995, apenas alguns meses após a Batalha de Santa Elina. Nesta
mobilização estava o Companheiro Pelé com seus parentes. Assim se formou o
Acampamento Nelito (homenagem ao Manoel Ribeiro de Corumbiara, assassinado dias
após a Batalha de Santa Elina).
Na reunião de fevereiro deste ano, da Comissão
Nacional da LCP, ele foi duramente criticado por ter se candidatado a vereador,
quando a posição da LCP é pelo boicote à farsa eleitoral. Pelé se colocou de
forma autocrítica e foi punido com seu afastamento da Comissão Nacional (CN)
até a próxima reunião, onde seria novamente avaliado. Ficou proibido neste
período de falar ou se apresentar em nome da LCP. Há poucos dias esteve na
região do Triângulo Mineiro numa tarefa a pedido da CN e a cumpriu bem. O
Companheiro Pelé prestou muitos serviços às massas e à luta revolucionária, era
muito conhecido no movimento popular em muitas partes do país e querido pelo
povo onde atuava, não era um individualista e nem tinha ambições de poder
pessoal. O Companheiro Pelé é produto desta nova fase do movimento camponês,
assim como ele é a maioria das lideranças dessa classe. Esteve preso e
torturado por mais de três vezes, sofreu vários atentados a tiros e era odiado
pelos latifundiários e órgãos repressivos do velho Estado. Pelé era um quadro
político de muitas habilidades e muito capaz, bem típico dos camponeses mais
avançados. Suas contribuições à luta popular foram muitas e muito importantes.
Companheiro Pelé! Presente na luta!