Peru: Greve geral paralisa todo o país contra crise e governo reacionário
Rebelião popular durante a Greve Geral em Huancayo. Foto: Jeferson Meza/@photo.gec
Operários, camponeses, trabalhadores autônomos, caminhoneiros, professores e diversas categorias das classes populares peruanas paralisaram o país em uma grande greve geral, desde 28 de março. O levante popular denuncia o governo reacionário e o regime político por nada fazerem diante da grave crise que assola o país, impondo alta geral nos preços dos combustíveis, fertilizantes e da cesta básica alimentar.
Desde o seu início, mais de 70 bloqueios de vias foram registrados em oito departamentos diferentes, convergindo mobilizações camponesas, caminhoneiros, professores e operários de diversos setores.
O ESTOPIM DA GREVE GERAL
O estopim para o grande movimento popular foi a greve dos caminhoneiros diante da alta absurda dos combustíveis, sendo que alguns tipos de combustíveis específicos para caminhões e maquinários o preço saltou, entre 9 e 10/3, em até 13%. Por consequência do preço da gasolina e dos fertilizantes, que triplicaram de preço, a alta nos preços de produtos como arroz, batatas, milho, algodão, leguminosas e vegetais está prevista para mais de 35%, de acordo com a Convenção do Agro Peruano (Conveagro). Assim, confluíram, em fúria, as lutas combativas das massas populares em defesa de seus direitos e contra as medidas de miséria do governo oportunista do rondeiro Pedro Castillo.
A greve dos caminhoneiros, inicialmente, impôs as seguintes exigências: a eliminação da concorrência desleal dos transportadores estrangeiros; estabelecimento do preço de frete mínimo; extinção do imposto de consumo seletivo (ISC) sobre combustíveis para transportadoras nacionais; a revisão dos contratos de concessão de rodovias e pedágios, e em termos de fiscalização, exige a reestruturação total da Superintendência de Transporte Terrestre de Pessoas, Carga e Mercadorias (Sutran) e a revisão da lei dos municípios, entre outros.
No primeiro dia de greve dos caminhoneiros, junto de outros trabalhadores, foram realizados bloqueios com pneus em chamas e pedras nos departamentos de Ayacucho, Ica, Huancayo, Talara, Arequipa, Lambayeque e pela enorme rodovia Panamericana Norte.
HUANCAYO EM REBELIÃO
Nos dias seguintes, na província de Huancayo (departamento de Junín), mais de 5 mil trabalhadores, que permaneciam nos piquetes, confrontaram a polícia na sua tentativa de dispersá-los com bombas de gás lacrimogêneo e espancamento com bastões.
Manifestantes protestaram com barricadas em chamas em frente ao Coliseu Wanka, onde ocorria a “mesa de diálogo com os ministros”. Bancos imperialistas como o canadense Scotiabank, assim como a prefeitura do município de Huancayo, foram apedrejados. Contra a fome, as massas têm realizado confiscos de alimentos contra os grandes supermercados da cidade, a maioria de redes imperialistas.
Greve geral em Huancayo. Foto: Adriano Zorrilla/@photo.gec
MANIFESTAÇÕES COMBATIVAS POR TODO PERU
No dia 4 de abril, centenas de trabalhadores bloquearam a Rodovia Central, importante via que liga a capital Lima com outros departamentos. Devido à combatividade dos piquetes, que não deixavam ninguém passar, o Ministro da Defesa, Francisco Gavidia, teve de ir até ao bloqueio dos trabalhadores para tentar convencê-los a dispersar. Os trabalhadores, contudo, continuaram com o piquete.
O aeroporto de Jauja, no departamento Junín, dia 30/03, teve de suspender suas operações e voos comerciais depois que mais de 300 trabalhadores, entre caminhoneiros e camponeses, tomaram as instalações do aeroporto. Na província de Yauli, também em Junín, estações de pedágio de Casaracra foram incendiadas pelo povo.
Em Ayacucho na rodovia Los Libertadores, camponeses e caminhoneiros rebelados contra o preço da gasolina atacaram com latas de lixo um posto de gasolina local. Na cidade de Huanta, os protestos populares foram tamanhos que o comércio foi obrigado a fechar suas portas.
Em Tarapoto (departamento de San Martín), houve enfrentamentos entre manifestantes e a Polícia Nacional, que se utilizou de bombas de gás lacrimogêneo para desmobilizar os camponeses, sem sucesso.
Em Huaraz, Ancash, organizações camponesas, de caminhoneiros e de operários da construção civil, assim como outras categorias de trabalhadores, ocuparam toda a avenida Luzuriaga, uma das ruas centrais da cidade, excedendo a quantidade e capacidade de repressão da Polícia Nacional. Desesperada, a polícia desatou sua repressão desenfreada, que foi combatida pelas massas.
Em um dos protestos, uma professora do departamento de Junín, Candy Magaly Hinostroza de la Cruz, de 31 anos, foi assassinada após um motorista reacionário jogar seu carro contra um dos bloqueios, atropelando-a. Em fúria contra o assassino, que foi escoltado pela polícia para longe do local, os camponeses, caminhoneiros e demais trabalhadores presentes destruíram seu carro.
Além da professora, o número de mortos pela reação conta com mais dois adultos e um menor de idade. Um jovem operário também perdeu a visão de um olho por uma bomba de gás lacrimogêneo lançada pela polícia.
IMPOTENTE E ACUADO, GOVERNO TENTA SEDUZIR O MOVIMENTO
Desde o primeiro dia de greve o velho Estado peruano tem tentado desmobilizar a rebelião popular com medidas reformistas. No mesmo dia de início da greve, 28 de março, foram aprovadas novas medidas referentes ao Fundo de Estabilização dos Preços do Combustível. Esse mesmo dia foi o de voto pelo impeachment ou não de Castillo.
O governo também anunciou que aumentaria para 25 soles peruanos (cerca de R$ 31) o valor do vale para o botijão de gás (anteriormente sendo de 20 soles, ou seja, um aumento de cerca de R$ 6). O preço real do botijão de gás, entretanto, é cerca de R$ 82.
Nenhuma dessas medidas foram capazes de impedir o início, desenvolvimento e fortalecimento da greve dos caminhoneiros que decorreria em greve geral. Isso se dá ao estrondoso aumento da pobreza em 10% no ano de 2021, chegando a atingir mais de 30% da população e a fome, que atingiu seu maior índice em sete anos no ano passado. Toda essa situação brutal se aprofundou logo no início de 2022, não deixando opção às massas senão se rebelar.
Demagogicamente, em suas desculpas por ter afirmado que os dirigentes dos protestos eram vândalos pagos e infiltrados, Castillo declarou: "Vamos garantir não apenas o diálogo, mas também o direito de protestar e parar de perseguir os líderes, aqueles que estão liderando as lutas em nosso país, e que estão liderando a causa justa dos trabalhadores dos transportes, agricultores, professores, médicos", disse o oportunista.
Entretanto, enquanto isso, Castillo prolonga o Estado de Emergência por um período de 45 dias, a partir de 20 de março de 2022, declarado na Lima Metropolitana do departamento de Lima e na Província Constitucional de Callao. Assim, a Polícia Nacional do Peru pode funcionar com o apoio das Forças Armadas.